Será serio? - Um jornal americano refere que foi vista recentemente uma formosa sereia no grande oceano equinoxial.
Eis como conta o facto:
"O diario de bordo de um navio que acaba de fazer a travessia do porto Trindade, no Mexico, ás ilhas Sandwich, veio reviver a questão da existencia, ora affirmada, ora contestada pelos naturalistas, da sereia, ou peixe-mulher.
Foi nas proximidades de um ilhéo que faz parte do grupo de Sandwich, o ilhéo dos Passaros, situado sobre a parallela, que foi avistado a uma sereia pela tripolação do navio americano.
Em 31 de março deste anno, ás 8 horas da manhã, seis marinheiros, fazendo parte da tripolação do navio mencionado, tinham largado de bordo em uma canôa proando para uma bahia onde tencionavam pescar, quando viram surgir a poucos metros da sua embarcação, uma mulher com metade do corpo fóra da agua, e entregar-se a evoluções da natação, ora mergulhando, ora mostrando-se á superficie.
Imaginem os nossos leitores a sorpreza e o medo que se apoderaram dos marinheiros. Suspenderam immediatamente o movimento dos remos e esperaram mais alguma evolução da sereia, para tomarem uma deliberação. Esta, sem inculcar receio, approximou-se do escaler, e os marinheiros puderam convencer-se que tinham, effectivamente, diante de si uma mulher de formas admiraveis.
Era uma formosa sereia. O diario de bordo affirma que ella levava á palma ás mais bellas mulheres.
Fluctuavam-se sobre as espaduas cabellos azues, tinha a pelle côr de azeitona, as mãos espalmadas e por meio de gritos agudos exprimia a sorpreza de que estava possuida ao vêr estes homens.
A parte inferior do corpo correspondia pouco á conformação da parte superior. De feito, da região umbilical para baixo, o corpo desta mulher, que se entrevia por baixo da agua, tinha a fórma de uma larga cauda bifendida.
Tendo um marinheiro atirado uma laranja á sereia, esta agarrou-a com avidez, manifestou a sua alegria por meio de gritos, e levando com ambas as mãos o fructo á bocca, fez vêr uma dentadura magnifica.
O patrão do escaler mandou á sua gente que remasse em direcção á sereia, a qual, vendo-se em perigo, mergulhou a uma grande profundidade e durante alguns minutos desappareceu para surgir novamente na esteira da embarcação.
Atiraram-lhe algumas laranjas, que ella apanhou e comeu, porém desapparecia a cada movimento que a canôa fazia para della se approximar.
Regressaram a bordo do navio sem darem solução a este phenomeno, pareceu uma puerilidade aos marinheiros, e um delles instigado pelos seus camaradas, aproveitando o instante em que a distancia entre o peixe-mulher e a canôa era apenas de 10 metros, attirou-se á agua.
Porém debalde tentou o intrepido nadador approximar-se da sereia.
Esta, parecia brincar com os esforços desesperados do marinheiro, desviava-se e surgia umas vezes diante delle, outras vezes mais longe até que desappareceu definitivamente."
Fonte: CORREIO PAULISTANO (São Paulo/SP), 30 de outubro de 1868
