Obviamente, se partimos de um pressuposto que a recente vitória eleitoral de Mauro Nolasco (PT) interrompeu dezesseis anos de gestão ininterrupta do PDT a frente da Prefeitura de Capão do Leão, é inegável afirmar que um ciclo político terminou no município. Todavia, poderia apontar que, além das mudanças que houveram tanto no Executivo quanto no Legislativo, os resultados eleitorais de 2016 indicam um novo cenário que deve se instalar a partir de então para os próximos pleitos, tanto municipais quanto estaduais e federais na cidade.
Por volta de 2002, eu assisti uma palestra no Instituto de Sociologia e Política da UFPel que, sem me recordar a precisa razão, o palestrante no momento, professor da referida unidade acadêmica, abordando vários temas sobre a cenário regional da Zona Sul, emitiu algumas considerações sobre Capão do Leão, afirmando que a recente vitória de Vilmar Motta Schmitt (PDT) tinha "encerrado o ciclo emancipacionista no município". Ele quis dizer que de 1982 a 2000, as forças políticas que preponderam no cenário leonense foram diretamente aquelas que estiveram envolvidas no projeto emancipacionista da cidade. Schmitt teria sido o "acontecimento novo" naquele momento, levando ao Executivo um grupo que até então não tinha participado do governo em nenhum momento e que tinha assumido um papel periférico pós-emancipação. Eufórico, o dito professor ainda exaltava igualmente a vitória de Fernando Marroni (PT) em Pelotas no ano de 2000 e seu significado como quebra de paradigma para toda a região.
De fato, a eleição municipal em 2000 no Capão do Leão merece um destaque histórico. Não somente pela vitória do PDT, mas pelas condições em que ocorreu o pleito e suas consequências. Dois baluartes da história política leonense, Manoel Nei Neves e Getúlio Victória (ambos ex-prefeitos), foram eclipsados do cenário local. Manoel Nei na condição de prefeito concorrendo à reeleição fez menos feio, pois ficou na segunda colocação tendo que disputar num ambiente marcado pelo natural desgaste de sua administração. Já Getúlio Victória não pode contar com a sorte de azarão que lhe havia acompanhado em 1992, ficando portanto com a sexta e última colocação. Além disso, pela primeira vez desde 1982, o PMDB não conseguia emplacar um vereador na Câmara de Vereadores. Ao mesmo tempo que o PT conseguia eleger pela primeira vez um vereador (o atual prefeito eleito em 2016, Mauro Nolasco). Além disso, pelo número de partidos que participaram da eleição em 2000 (dez no total), a política leonense apresentou um quadro muito mais diversificado de forças políticas na disputa. O PSDB foi outra força política que surgiu com muito ímpeto naquela época, elegendo Édson Ramalho e Waldemar Quadros como vereadores - um feito inédito.
Todo relato que fiz foi para abrir uma comparação com a presente eleição municipal de 2016 e seus resultados. Após duas disputas protocolares em 2004 e 2008, onde o PDT afirmou e reafirmou seu projeto político, e uma empolgante e acirrada batalha de votos em 2012, decidida por diferença ínfima, o pleito de 2016 marcou uma radical mudança no conjuntura política local. Não é uma loa à vitória petista. É o percebimento de que houve novas forças políticas envolvidas nos debates e mesmo entre siglas tradicionais, um novo reagrupamento de forma geral.
O Partido dos Trabalhadores teve seus méritos sobejamente reconhecidos em romper com o paradigma existente. Afinal, mesmo no PMDB, Vilmar Schmitt representava a herança dos mandatos pedetistas desde 2000. Talvez não no conteúdo programático, mas provavelmente no molde. Não é propriamente uma crítica ao projeto defendido por ele, mas uma constatação que, de certa maneira, em seu próprio discurso, havia a rememoração aos seus dois mandatos da década passada e uma referência explícita ao próprio manejo administrativo que ele mesmo havia iniciado.
Além da vitória de Nolasco, consagrando uma trajetória iniciada há várias eleições atrás, o pleito de 2016 também marcou a afirmação da REDE como força alternativa e o reerguimento do PSB como um dos protagonistas locais. No caso do PSB, a eleição teve um caráter simbólico muito importante: pela primeira vez o partido colocou um vereador por via de eleição direta.
No pós-eleição, também se vislumbra a criação de um novo partido, o PSD e, além disso, algumas siglas já tradicionais devem passar por fortes reestruturações internas. Penso que, no caso particular de duas delas, as mesmas devem hibernar na próxima eleição de 2020, visto que, mesmo atuantes, provavelmente não estarão fortalecidas suficientemente para encabeçarem qualquer projeto mais autônomo.
Mas, ainda é cedo para prever qualquer coisa. O fato concreto é que há um novo quadro político no município, com novos personagens e novas forças estabelecidas. Não creio que teremos um fenômeno de permanência tão ininterrupta no Executivo Municipal como foi o PDT de 2001 a 2016. Os tempos mudaram e a população tem acompanhado com mais ênfase os desdobramentos políticos municipais. É um desafio a todos que compõem o conjunto de novos representantes eleitos. Aguardemos!