domingo, 31 de julho de 2022

Visconde de Jaguaribe

 



Falleceu hontem subitamente este modesto e honrado servido da patria.

Natural de Icó, no Ceará, junto ao rio cujo nome associou ao seu, era de familia pauperrima. A muito esforço, conseguiu meios de ir para Olinda, onde seguiu o curso juridico e bacharelou-se. Entrou depois para a magistratura, e foi juiz de direito em diversas comarcas de sua provincia.

Nos diversos logares em que exerceu a magistratura, soube fazer-se estimar e respeitar por tal modo que, desde a primeira vez que se apresentou candidato a deputado geral, alcançou votação numerosa. Da segunda foi eleito, e depois reeleito muitas vezes, até ser escolhido senador em 1870.

Motivos particulares levaram-o a pedir aposentadoria de juiz de direito, mudando-se para a Fortaleza, onde fundou e redigiu, por muitos annos, a Constituição, orgão conservador, e leccionou rhetorica e poetica no Lyceu Provincial.

Em 1866, sendo depurado pela camara liberal, acceitou o logar de auditor de guerra no Paraguay. Fez parte do glorioso gabinete de 7 de março, occupando a pasta da guerra, em 1871. Mezes depois de sahir do ministerio tornou á carreira da magistratura e foi nomeado juiz dos feitos da fazenda. O governo provisorio promoveu-o a desembargador da Relação de Pernambuco, e depois transferiu-o para a d'aqui. De Pernambuco não lhe consentiu o coração que partisse sem primeiro ir vêr os amigos e a terra natal, de que ha vinte annos estava ausente e que não devia mais rever. D'esta viagem chegara esta semana.

O visconde de Jaguaribe, sabem todos que o conheceram, era o typo da honradez e da bondade, e era-o tão naturalmente como os passaros cantam ou como as aguas correm. Não havia uma sombra n'aquella alma, não havia um travo n'aquelle coração. E era tão simples, que só com o tempo se conhecia o que elle tinha de grandioso.

Politico, não hesitou em oppôr-se á candidatura de um ministro por provincia estranha, e fel-o por tal modo, que o reconhecimento no senado só se fez por um voto de maioria, graças aos manejos da ultima hora.

Conservador, não teve um só momento de hesitação, desde que começou o movimento abolicionista.

Era o membro mais respeitado da colonia cearense, e quantos tiveram a felicidade de conhecel-o, hão de guardar com emoção a lembrança sagrada de Domingos José Nogueira Jaguaribe.

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 06 de Junho de 1890, pág. 01, col. 07

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