Entre o Cerro das Almas e o Passo
do Descanso, até aproximadamente onde se encontra a Fazenda da Amizade do Sr.
Edar Ribeiro, existe inúmeros cerros (morros) que podem ser observados na
direção norte, na condição de quem está indo de carro pela estrada até o Passo
das Pedras. Pois bem, por ali existe o chamado Cerro dos Cabritos. Nunca entendi bem qual fosse o tal cerro, pois
as indicações mais seguras apontam que o mesmo seja aquele próximo à Fazenda da
Amizade. Todavia, alguns nomeiam Cerro
dos Cabritos outras elevações e daí fica difícil precisar qual cerro as
pessoas falam e que é o objeto desta história. O que sei é o seguinte: depois
do Cerro das Almas, tem duas outras
elevações, a terceira em seguida é o cerro em que se desenrolam os
acontecimentos que vou tratar. Saliento que a tal história tem mais caráter
folclórico, mas merece o registro por seu aspecto curioso e até envolvente.
Pois bem, no tal cerro há uma
gruta cercada de enigmas da qual se comentam muitas histórias. Alguns falam que
naquela gruta se reuniam escravos na época imperial. Outros, inevitavelmente,
vinculam a formação cavernosa à existência de ouro e outras possibilidades de
riquezas. O que se fala da gruta, entretanto, de tão curioso, não são as
histórias sobre o que ela foi ou o que ela guarda, mas o que acontece ali.
Diz-se que nenhum tipo de lume ou fonte de luz é capaz de permanecer aceso ali depois
de determinado ponto em que se penetra na gruta. Pode ser lanterna, holofote,
lampião, vela, leds luminosos, qualquer coisa. Campistas, pescadores,
graniteiros, gente que mora perto, militares em exercício de campo – vários já
tentaram e sempre constataram o mesmo. Após determinado ponto da gruta qualquer
tipo de fonte luminosa misteriosamente apaga. Já se tentou ir até o fundo da
gruta, mas nunca ninguém conseguiu chegar até lá, justamente por causa deste
empecilho inexplicável. Um grupo de campistas conta que, num sábado em que
pretendiam pernoitar no cerro, passaram defronte a gruta perto do anoitecer e
viram sair de lá uma espécie de bruma baixa rente ao solo e um som assemelhado
a um murmúrio que os amedrontou muito. Não tiveram coragem de entrar na gruta,
mas ficaram com a imagem gravada na mente, pois notaram que não havia qualquer
tipo de neblina em qualquer outro local do morro, seja no cume, na região da
encosta ou no sopé. Outra história, narrada por dois peões que foram em certa
ocasião buscar uma novilha que se extraviara por aquelas bandas, dá conta que
tendo que passarem defronte à gruta, para poderem se embrenhar numa galeria de
mata nativa onde se encontrava o animal, ouviram sons misteriosos vindos de
dentro da gruta, como se fossem “gritos de uma bicho que está sofrendo
esganimento”. Crendo se tratar de uma brincadeira ou até mesmo a presença de
algum tipo de animal no interior da gruta, apearam do cavalo e foram verificar
o que poderia ser. O som cessou por alguns instantes, tendo retornado logo em
seguida. Adentraram a caverna e perceberam movimentos de algo. Um deles com
muito alarde começou a descer a gruta (segundo contam a mesma é plana nos seus
primeiros metros, mas em seguida passa a sofrer uma inclinação para baixo, como
se fosse um “buraco”) procurando fazer-se notado. Novamente, os sons e a
percepção de algo que se mexia. Acenderam os isqueiros em vão, apagaram-se e
não acendiam. Neste momento, começaram a
ficar profundamente assustados com o breu existente na caverna, pois também
observaram que a entrada da gruta começava a ficar opaca a seus olhos, como se
“uma cerração aparecesse”. Saíram, então. O enigmático do fato é que eram
quatro horas da tarde de um dia de verão!
Porém, o fato mais estranho e
assustador e que é o principal desta história teria ocorrido envolvendo um
oficial do Exército uns anos atrás. A região, como é de conhecimento dos
leonenses, é utilizada tanto pelo Exército quanto pela Marinha para exercícios
militares. Vez ou outra há pelotões de soldados acampados próximo ao morro. Pois
bem, em certa ocasião, um oficial do Exército soube da história e resolveu
conhecer a tal gruta. Foi ao local acompanhado de alguns soldados para realizar
uma prospecção. Verdadeiramente, não acreditou muito nos relatos a respeito da
gruta.
Entretanto, ao chegar lá, ele e
seus soldados constataram o que diziam as conversas que ouviu. Nenhum tipo de
fonte luminosa ficava aceso no interior da caverna, depois de um determinado
ponto. Inclusive, utilizou o que havia de melhor em tecnologia disponível no
momento e o resultado foi o mesmo. Intrigado, retornou ao QG, mas não fez o
registro do caso, pois naquela ocasião sua companhia tinha ido à região para
outros propósitos. Durante certo tempo, esqueceu o fato.
Foi então que acidentalmente numa
conversa trivial comentou o ocorrido na gruta com um colega seu e outro oficial
– este da Marinha e que servia em Rio Grande. O sujeito da Marinha
interessou-se deveras pela história e disse-lhe que poderia ser de valia para
uma nova visita à gruta um equipamento que ele mesmo poderia conseguir em seu
regimento. Tratava-se de uma lanterna “supertecnológica”, utilizada em
explorações oceânicas, capaz de suportar pressões altíssimas. De pronto,
aceitou o empréstimo do amigo e o convidou também a fazer uma nova inspeção a
tal gruta misteriosa no Capão do Leão.
Na data marcada, havendo um
exercício de campo já programado, foram os oficiais na tal gruta, acompanhados
de alguns soldados. Ficaram todos pasmados! Não foi que a tal lanterna
apagou-se inexplicavelmente! Nem o cara da Marinha conseguia explicar. Aquilo
era algo perto do impossível para ele.
Intrigados, orientaram então um soldado a fazer fotos mais ao interior
da gruta possível, no sentido de compreender o estranho fenômeno, utilizando-se
um equipamento de fotografia em infravermelho. A exploração acabou e todos
retornaram ao quotidiano do quartel. O oficial ansioso aguardou apenas a
revelação das fotos do infravermelho.
Certo dia, em seu escritório
chegou-lhe um envelope com as aguardadas fotos. O oficial abriu e
surpreendeu-se gravemente. Conta-se que revelou a poucos o que viu nas fotos,
pois estava muito perturbado. Quando a história de suas fotos tomou corpo e
começaram a comentar no quartel, ele já não estava mais naquela unidade, pois tinha
sido transferido para o Rio de Janeiro. Até hoje tudo isso permanece um
mistério, bem como colocam a história e sua veracidade no conjunto de lenda.
A propósito, muito à boca pequena, comenta-se que o conteúdo
das fotos mostrava as paredes da gruta com um aspecto assustador. Como se dali
houvesse uma substância viscosa, escura. Ao mesmo tempo, a estranha textura das
paredes da gruta mostrava “rostos humanos com expressões de desespero e
agonia”.
Agradeço ao amigo Adriano
Hönnicke pela lembrança.
Nota: o aludido "Cerro dos Cabritos" pode ser na verdade o "Cerro da Paulina" - um outro local bem próximo. (atualização de 07 de Maio de 2017)
Nota: o aludido "Cerro dos Cabritos" pode ser na verdade o "Cerro da Paulina" - um outro local bem próximo. (atualização de 07 de Maio de 2017)