Havia no Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas, anos atrás, um professor do curso de Filosofia, notável por sua inteligência e conhecimento, mas igualmente célebre pelo seu jeito peculiar e pelo modo como dava aula. Muitas histórias cômicas são contadas a seu respeito, algumas explorando sobretudo o nível de abstração que suas aulas possuíam, aulas estas capazes de embaralhar o entendimento de qualquer desavisado que não soubesse do jeito excêntrico do dito professor.
Uma história contada a seu respeito, se destaca pelo aspecto inusitado com que ocorreu. Era um dia de semana normal de aulas no ICH e os alunos do quinto semestre de Filosofia chegaram para uma "maratoninha" de quatro aulas com o citado professor. Alguns, ao chegarem no Departamento de Filosofia por volta das 18h30, são logo surpreendidos com a notícia que a mãe do referido professor (vamos chamá-lo de Zezinho) havia falecido no dia anterior e o enterro tinha acontecido pela manhã. Evidentemente, mais do que natural, os alunos se entreolharam e concluíram que não haveria aula aquela noite.
Para surpresa de todos, alunos e colegas professores do professor Zezinho, deveria ser 18h50, o professor Zezinho adentra o corredor principal do ICH com a sua tradicional pasta preta carregada por uma das mãos. Diante das faces admiradas de alunos e outras pessoas, o professor Zezinho explica de modo muito natural:
- É, minha mãe morreu ontem e foi enterrada hoje. Mas eu estava sem nada para fazer em casa, por isso resolvi vir dar aula.
Os alunos não argumentam coisa alguma, pelo absoluto ineditismo da situação. Entram todos para a sala de aula e o tempo transcorre. Num dado momento, enquanto o professor Zezinho segue com suas abstrações e elucubrações, a porta da sala que estava aberta é batida violentamente por uma lufada de vento que entra pelo corredor. Sem pestanejar, o professor Zezinho calmamente interrompe a explicação, olha para a porta e solta:
- Mãe, deixa eu dar aula!
O espanto com a resposta somou-se em seguida a uma tentativa de conter o riso que causava até dor.