Uma descoberta arqueológica de grande importância nos limites do município comprova a existência de tribos indígenas com uma requintada técnica de fabricação de artefatos em pedra, que existiram a pelo menos quatro mil anos nesta região do Estado. O achado vem a enriquecer e a apresentar outras proposições à discussão sobre a ocupação humana no Rio Grande do Sul.
A descoberta, acontecida inteiramente por acaso num areal próximo ao campus da UFPel, há cerca de dezessete anos atrás, se constitui de uma coleção de oito peças esculpidas em rocha vulcânica: dois zoólitos (esculturas em formato de animal), duas boleadeiras, uma mó (instrumento usado para moer), dois bastonetes e uma peça de uso desconhecido. Embora há tanto tempo tenha se dado esta descoberta, ela sóchegou ao conhecimento dos especialistas em 2000, quando a pessoa que tinha estas peças sob seu poder tomou conhecimento da existência do LEPAN (Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia) da FURG, resolvendo doá-las para esta instituição. No LEPAN as peças foram estudadas e analisadas e se propôs uma primeira datação para as mesmas: algo em torno de quatro a seis mil anos. Entretanto, de todas as peças, as que chamaram mais a atenção foram os dois zoólitos, um em formato de pomba, embora um pouco fragmentado; o outro, em formato de tubarão, praticamente inteiriço. Ambos impressionam pelos seus formatos, cuidadosamente esculpidos, apresentando uma depressão ovalada na região ventral, lembrando uma espécie de plataforma. Os estudos do LEPAN apontam também que as peças, provavelmente, possam ter sido confeccionadas por tribos indígenas das tradições Umbu ou Vieira.
Posteriormente, a coleção destas peças foi repassada ao LEPAARQ (Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia) da UFPel, que estava sendo criado na ocasião (2001) e cuja área de abrangência inclui o município de Capão do Leão.
O "tubarão", em particular, desperta muito a atenção, tanto de quem é especialista no assunto quanto para um leigo. A peça com um comprimento de 17,5 cm e largura de 12,6 cm, apresenta um detalhamento minucioso apresentando os olhos, a boca, as fendas branquiais, as nadadeiras e a cauda, além de, surpreendentemente, o órgão reprodutor. Identificou-se a escultura como sendo um tubarão da espécie Isurus oxyrinchus, popularmente conhecido como anequim, comum na costa brasileira. As formas são suaves e proporcionais, tratando-se do maior zoólito já encontrado no Brasil. Fato que mereceu ampla divulgação na imprensa do Estado e do País, sendo documentado em revistas como Veja, em jornais como Correio do Povo e Zero Hora e no canal de tv a cabo Globo News. Atualmente, a peça está sob cuidados do LEPAARQ e tem sido requisitada para exposições sobre arqueologia e cultura indígena, juntamente com as outras. Tanto que em 2003, esteve numa exposição sobre objetos arqueológicos na Bienal de Artes Visuais do Mercosul em Porto Alegre, sendo inclusive o destaque desta exposição. A peça provocou não só a admiração dos arqueólogos, como também de artisitas plásticos, que se surpreendem e ressaltam a beleza e perfeição da escultura, considerando, sobretudo, a idade milenar do zoólito.
Para quem quiser conhecer as peças, saber mais sobre elas e o trabalho arqueológico que tem se dado na região, pode visitar o LEPAARQ no Instituto de Ciências Humanas da UFPel, na rua Alberto Rosa 154, bairro Porto, em Pelotas. O laboratório funciona a tarde e a noite em período normal de aulas.
Agradecimentos: equipe do LEPAARQ-UFPel, historiador Jorge Oliveira Vianna, professor André Loureiro, e do diretor do ICH Prof. Dr. Fábio Vergara Cerqueira.