quinta-feira, 1 de junho de 2006

Carreiras em Capão do Leão

Existem algumas canchas de carreiras nas vilas e no interior do município. Um desporto marcadamente gaúcho, sempre fora uma distração para a população ligada ao campo. Os moradores mais antigos falam com carinho das carreiras que viam quando eram crianças. Pode-se dizer que a corrida de cavalos em cancha de carreira é uma tradição no Capão do Leão. E mesmo em toda a zona sul e Campanha rio-grandenses. Tanto que os jornais do início do século XX faziam questão de noticiar os eventos, inclusive nomeando cavalos e proprietários. O trecho a seguir é procedente do jornal Diário Popular, edições de 26 e 28 de janeiro de 1919.
Carreiras
Pela parada de 1:000$000 e no tiro de duas quadras, correrão, hoje, na cancha em terreno do Sr. Pedro Gardey, no Capão do Leão, os animaes "Fisca", do nosso amigo Sr. capitão Antonio Cunha, e "Zaino", do também nosso amigo Sr. tenente-coronel Theophilo Torres.
Carreiras
Realisou-se, ante hontem, na cancha em terreno do Sr. Pedro Gardey, no Capão do Leão, a corrida entre os animaes dos srs. tenente-coronel Theophilo Torres e capitão Antonio Cunha, vencendo o do primeiro.
Como se percebe, quanto a este tipo de evento, a cobertura da imprensa na época era bastante eficaz.


Princesa Isabel em Capão do Leão

A tradição oral sempre mencionou, sobretudo os mais antigos no município da visita da Princeza Isabel a Capão do Leão, inclusive informando que ela teria estado também no Passo das Pedras. Todavia, nunca vi nenhum livro ou publicação que falasse a respeito do fato. Pesquisando nos jornais antigos da Bibliotheca Pública Pelotense, entretanto, achei o ocorrido e publico no blog para uma maior certificação. Está registrado no jornal A Discussão, de 10 de fevereiro de 1885. O trecho está abaixo:
Princeza Imperial
S.A. a Princeza Izabel foi hoje ao Capão do Leão sendo obsequiada com um lauto almoço no Hotel Benjamin.
- Amanhan S.A. vai passar o dia na estancia do nosso illustre amigo Sr. commendador Mancio Ribeiro, no Passo das Pedras.
Faltou-me, porém, identificar este Hotel Benjamin. E, pensando bem, já em 1885 havia um hotel em Capão do Leão? Não que não seja verdade, mas é uma informação notável.

Emancipação



Trecho extraído da Revista Zona Sul, número 1, maio de 1989:

"Uma luta de mais de 20 anos teve seu desfecho feliz em maio de 1982. O então distrito do Capão do Leão, conseguia sua emancipação política de Pelotas. Hoje, passados sete anos da criação oficial da nova cidade, há uma certeza: a emancipação valeu a pena.
A discussão em torno da emancipação do Capão do Leão iniciou na década de 60. A primeira tentativa ocorreu em 1963, que não logrou êxito devido a ações desenvolvidas pelo então prefeito de Pelotas, Edmar Fetter.
O ex-prefeito Elberto Madruga, um dos líderes daquele movimento, lembrou: Depois do resultado favorável, ou o não á inclusão do terceiro distrito no novo município, a Assembléia deu condições para ser criada a cidade. Neste momento, o então prefeito entrou com mandado de segurança e a viabilidade do Capão do Leão vir a se tornar município caiu por terra.
Em 82, houve nova mobilização, desta vez vitoriosa. Além de Elberto Madruga, outros líderes buscarqm a vitória do Sim. Entre eles, Enedino Silva, que por muitas vezes foi subprefeito e chegou a ser eleito vereador em 82.
Outro líder e que não chegou a ver o Capão do Leão município, foi Edi Oliveira. No dia 29 de março, quando a apuração do plebisicito era feita, ele faleceu.
RESULTADOS: Com uma diferença de 492 votos, o Sim venceu o plebiscito realizado no dia 28 de março de 1982, no quarto distrito de Pelotas, o Capão do Leão. O resultado da votação, divulgado no ginásio João Carlos Gastal, na manhã do dia 29 de março, uma hora após o início do escrutínio das 26 urnas, foi recebido num clima de festa e alegria pelos leonenses. Foram apurados 3042 votos, sendo 1751 para o Sim - 1259 para o Não - 10 votos em branco e 22 votos nulos".

Pré-História em Capão do Leão


Uma descoberta arqueológica de grande importância nos limites do município comprova a existência de tribos indígenas com uma requintada técnica de fabricação de artefatos em pedra, que existiram a pelo menos quatro mil anos nesta região do Estado. O achado vem a enriquecer e a apresentar outras proposições à discussão sobre a ocupação humana no Rio Grande do Sul.
A descoberta, acontecida inteiramente por acaso num areal próximo ao campus da UFPel, há cerca de dezessete anos atrás, se constitui de uma coleção de oito peças esculpidas em rocha vulcânica: dois zoólitos (esculturas em formato de animal), duas boleadeiras, uma mó (instrumento usado para moer), dois bastonetes e uma peça de uso desconhecido. Embora há tanto tempo tenha se dado esta descoberta, ela sóchegou ao conhecimento dos especialistas em 2000, quando a pessoa que tinha estas peças sob seu poder tomou conhecimento da existência do LEPAN (Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia) da FURG, resolvendo doá-las para esta instituição. No LEPAN as peças foram estudadas e analisadas e se propôs uma primeira datação para as mesmas: algo em torno de quatro a seis mil anos. Entretanto, de todas as peças, as que chamaram mais a atenção foram os dois zoólitos, um em formato de pomba, embora um pouco fragmentado; o outro, em formato de tubarão, praticamente inteiriço. Ambos impressionam pelos seus formatos, cuidadosamente esculpidos, apresentando uma depressão ovalada na região ventral, lembrando uma espécie de plataforma. Os estudos do LEPAN apontam também que as peças, provavelmente, possam ter sido confeccionadas por tribos indígenas das tradições Umbu ou Vieira.
Posteriormente, a coleção destas peças foi repassada ao LEPAARQ (Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia) da UFPel, que estava sendo criado na ocasião (2001) e cuja área de abrangência inclui o município de Capão do Leão.
O "tubarão", em particular, desperta muito a atenção, tanto de quem é especialista no assunto quanto para um leigo. A peça com um comprimento de 17,5 cm e largura de 12,6 cm, apresenta um detalhamento minucioso apresentando os olhos, a boca, as fendas branquiais, as nadadeiras e a cauda, além de, surpreendentemente, o órgão reprodutor. Identificou-se a escultura como sendo um tubarão da espécie Isurus oxyrinchus, popularmente conhecido como anequim, comum na costa brasileira. As formas são suaves e proporcionais, tratando-se do maior zoólito já encontrado no Brasil. Fato que mereceu ampla divulgação na imprensa do Estado e do País, sendo documentado em revistas como Veja, em jornais como Correio do Povo e Zero Hora e no canal de tv a cabo Globo News. Atualmente, a peça está sob cuidados do LEPAARQ e tem sido requisitada para exposições sobre arqueologia e cultura indígena, juntamente com as outras. Tanto que em 2003, esteve numa exposição sobre objetos arqueológicos na Bienal de Artes Visuais do Mercosul em Porto Alegre, sendo inclusive o destaque desta exposição. A peça provocou não só a admiração dos arqueólogos, como também de artisitas plásticos, que se surpreendem e ressaltam a beleza e perfeição da escultura, considerando, sobretudo, a idade milenar do zoólito.
Para quem quiser conhecer as peças, saber mais sobre elas e o trabalho arqueológico que tem se dado na região, pode visitar o LEPAARQ no Instituto de Ciências Humanas da UFPel, na rua Alberto Rosa 154, bairro Porto, em Pelotas. O laboratório funciona a tarde e a noite em período normal de aulas.
Agradecimentos: equipe do LEPAARQ-UFPel, historiador Jorge Oliveira Vianna, professor André Loureiro, e do diretor do ICH Prof. Dr. Fábio Vergara Cerqueira.

Itaita


Segundo consta no livro de Sylvio Dall'Agnol, Capão do Leão: Povo Identidade, os indígenas que habitavam Capão do Leão antes da chegada dos portugueses, chamavam o lugar de Itá-Itá. Literalmente quer dizer "pedra-pedra", ou para melhor esclarecer: "muitas pedras". Dall'Agnol lista uma série de tribos indígenas que viviam no Capão do Leão: guenoas, chanás, charruas, arachanes, tapes, etc. Embora, acredite que não eram tantas assim.
O nome Itá-Itá está presente na geografia do município com um arroio no Passo das Pedras que é assim batizado. O significado do nome é patente: lugar de muitas pedras. Devemos lembrar que Capão do Leão possui a segunda maior reserva natural de granito do mundo e a atividade de extração mineral foi continuamente o eixo da economia leonense.
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