"Historia lugubre - Com este titulo narra o Correio Mercantil de Pelotas o seguinte facto:
<<Boiando aguas abaixo pelo rio S. Gonsalo, passaram dous cadaveres, um homem e um menino, pae e filho. Foram victimas da superstição, da ignorancia, dos contos populares, que nem sempre trazem o cunho da circumspecção e do bom senso, apezar de sanccionados pela tradicção.
<<E' uma historia compungente. Nas margens do S. Gonsalo, além desta cidade, vivia uma pobre famila. E nessa familia havia um menino que ainda não estava baptisado. O chefe sempre ouvira dizer que - si um pagão comprasse bilhete da loteria, tiraria a sorte grande.
<<Imbuido neste pensamento, dominado de ambição, metteu-se em uma lancha, com aquelle filho pagão e uma innocente filha. Chegaram a Pelotas e compraram tres bilhetes da loteria da provincia. Cada um tinha o seu.
<<E lá se foram, pae e filhos, em demanda do lar domestivo, enlevado aquelle pela fagueira esperança de conduzir comsigo a <sorte grande>.
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<<Na quarta-feira da semana passada regressava de Jaguarão o vapor Mirim. De bordo viu-se nas aguas do S. Gonsalo, vagando á tôa, uma lancha. Tinha a bordo uma gentil menina de tenra edade. Aproximaram-se e dirigiram-lhe a palavra:
<<- que fazes aqui sózinha? - Espero o papae. - Onde foi? - Buscar o maninho. - Aonde? - Aqui.
<<E apontou para a agua junto á lancha. Comprehendeu-se tudo. O menino tinha cahido e o pae fôra buscal-o. Morreram ambos.
<<Tratou-se de os procurar, porém foi em vão todo o trabalho.
<<Veiu a menina para esta cidade e no domingo seguiu para a sua residencia.
<<Os dous cadaveres passaram hontem aguas abaixo pelo rio S. Gonsalo.
<<Eis as consequencias da superstição e da ignorancia.>>
Depois de escriptas estas linhas, tivemos as seguintes informações:
<<O infeliz pae era vulgarmente conhecido por Antonio da Paulina, portuguez, e empregava-se como porteiro do Sr. Jacintho Antonio Lopes. O filho que com elle perreceu afogado tinha dous annos incompletos, e a menina salva pelo vapor Mirim dez annos de edade.>>"
Fonte: O MONITOR (BA), 29 de Agosto de 1878, pág. 01, col. 07-08