sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Lembranças Leonenses XVI


- Pouco se fala acerca dos imigrantes italianos em Capão do Leão, até mesmo porque carecemos de estudos mais aprofundados sobre o tema. Entretanto, podemos afirmar que, oriundos das colônias pelotenses ou diretamente originários da Pátria-Mãe, destoaram do normal destino-manifesto a que era lhes atribuído no Rio Grande do Sul: a agricultura. Em nossa localidade, demonstraram ser grandes empreendedores ou influentes profissionais liberais.
Pompeo Guidugli foi dono de uma hospedaria no final do século XIX. Promovia eventos alusivos à sua Pátria em seu restaurante, com a presença de grande número de compatriotas, e registra-se que chegou a receber um conde italiano em uma de suas solenidades.
No começo do século XX (ao menos até 1940) grande número de italianos ou ítalo-brasileiros vivia em Capão do Leão. A Família Traverssi arrendou a Pedreira da Empem por cerca de 60 anos. Um dos outros empreendimentos seus foi a Fábrica de Café Índio, cujo prédio ainda existe na Rua Professor Agostinho. Thomaz Aquini e seu irmão Mário produziam vinhos, vermutes e compotas numa fabriqueta na rua que homenageia o primeiro. A Fábrica “Quinta do Leão” chegou a ser premiada em exposições agrícolas nacionais.

Arnulfo Ghigetti foi professor e regente de uma "aula particular" de primeiras letras em 1913.
Inocêncio Favalli e Cia. Era uma das outras pedreiras arrendadas por italianos, sendo esta especialista em artigos de pedra para a construção civil de luxo. Francisco Favalli foi dono do Armazém São José – prédio que atualmente abriga uma loja de móveis, na esquina da Avenida Narciso Silva com a Rua Jaime Ferreira Cardoso. Eduardo Olindo Sicca era médico que atendia graniteiros acidentados, formado pela Real Universidade de Nápoles. Sicca também se ocupava da função de boticário amador. João Turri era proprietário e Cia. – firma que tratava com comércio atacadista. No Cerro das Almas, por volta da década de 1940, existiu a Companhai Mineradora Bergoglio-Caruccio. Por fim, boa parte dos graniteiros que trabalharam no Cerro do Estado na Companhia Francesa também era italiana.

Lembranças Leonenses XV

– Ainda nos termos da política, o trabalhismo getulista foi uma ideologia que foi muito forte na Vila do Capão do Leão. Principalmente entre a categoria dos ferroviários. Pequenos postais com a foto do ex-presidente e algumas palavras de ordem escritas, circulavam entre os trabalhadores, sendo alguns guardados como verdadeiras relíquias. Mesmo entre outros profissionais, como os graniteiros e demais, a figura do Sr. Getúlio Vargas era admirada com muito fervor. Não por acaso, logo depois de sua morte em 1954, o ex-vereador pelotense Elberto Madruga (e nosso 1º. Prefeito) prestou-lhe uma homenagem em forma de monumento na Praça João Gomes. O grande bloco de pedra que atualmente está ao lado do Altar da Pátria recebera na ocasião uma placa celebrativa que, anos depois, viria a ser roubada por vândalos.
- Sob o emblema do trabalhismo getulista, o Capão do Leão foi marcado politicamente até 1964. Dois partidos tinham representação e influência bastante expressivas: o PSD e o PTB. A UDN era praticamente nula, senão desconhecida. Havia também certos agrupamentos ligados ao PSP.
Os correligionários de ambos os partidos (PSD e PTB) disputavam a cada eleição a simpatia e o voto de cada cidadão. Não se resumia, entretanto, a atividade política às eleições. As pessoas se identificavam ideologicamente com cada um dos dois partidos. Havia debates acalorados nas repartições públicas, nos estabelecimentos comerciais, nas esquinas das ruas. As idéias políticas passavam de pai para filho e as reuniões partidárias e comícios eram concorridos. Imagine um local rural como o Cerro das Almas sediando comícios com um número de 200 a 300 pessoas.
O PTB, entretanto, sempre levou certa vantagem no Capão do Leão frente ao PSD. Afinal, além do ex-vereador Elberto Madruga, reeleito várias vezes em Pelotas, outra personalidade política ligada ao Capão do Leão e ao PTB era o Dr. Vicente Real – vereador por dois mandatos legislativos.
Com o governo Leonel Brizola no Palácio Piratini e seu programa de reformas e ações institucionais ousadas para a época, o PTB em nossa localidade tornou-se de todo dominante. A partir de então, surgiu uma nova figura: o petebista brizolista. Nos galpões do DEPRC no Cerro do Estado, eram poucos os que não se identificavam com o ex-governador gaúcho. Durante a Campanha da Legalidade em 1961, vários brizolistas leonenses estiveram mobilizados, ouvindo pelo rádio o desenrolar dos acontecimentos. Inclusive, alguns estavam dispostos até em pegar em armas, se preciso fosse para defender a Constituição.


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