quinta-feira, 8 de junho de 2017

I Feira de Doces Coloniais em Morro Redondo


Neste final de semana, 10 e 11 de Junho, acontece a I Feira de Doces Coloniais Morro de Amores, junto ao Museu Histórico de Morro Redondo, no centro da cidade. O evento conta com variada programação desde a manhã de sábado até o fim da tarde de domingo. 

Para mais informações, segue o link da promotora do evento no facebook: https://www.facebook.com/morrodeamores/ 

O Telégrafo Chappe


Trecho extraído de: ROUSSEAU, Pierre. História da Velocidade. Lisboa/Portugal: Publicações Europa-América, 1946, 2a. ed., p. 106-109.

"Um dia, dois irmãos, internados em dois colégios diferentes e desolados de não poderem manter contacto, imaginaram um código de sinais, que transmitiam cada qual na sua janela, e o telégrafo estava inventado. E eis por que a estátua do inventor Claude Chappe se erguia na Avenida Saint-Germain, em Paris, antes do seu rapto feito pelos alemães. Mas fazer de Claude Chappe o inventor do telégrafo, é quase como atribuir a Copérnico a paternidade do sistema celeste heliocêntrico - esquecendo Aristarco - e a Luís Lumière a do cinema - esquecendo Marey. De maneira que, ao lado do bronze desengonçado que erguia para o Céu os seus braços desarticulados, podiam muito bem ter erigido um monumento a Hooke, a Lesage ou a Amontons.

É que o telégrafo não é uma coisa recente. Não conta Ésquilo que Agaménon comunicou a Clitemnestro a conquista de Troia por meio de braseiros acesos de espaço a espaço? Não falam Tucídides e Pausânias das notícias por meio de fogos que brilhavam no alto de torres? E não se diz que em Roma, na muralha de Sétimo Severo, se encontravam tubos acústicos que serviam para estabelecer comunicação entre os postos militares escalonados de milha em milha?

Eram sem dúvida, processos muito primitivos, mas não vemos os selvagens empregar ainda nos nossos dias o tam-tam, o que lhes permite divulgar mensagens com uma espantosa rapidez? Portanto, logo, muito cedo, o Homem se deu conta de que, para transmitir sinais, a luz era preferível ao som. Por isso, Hooke, contemporâneo de Newton, imaginou um aparelho no qual se inçavam, uma após outra, letras do alfabeto: não era um processo rápido e era tão pouco prático como o sistema desse general prussiano que fazia manobrar um regimento inteiro, do qual cada homem fazia sinais com os braços.

A primeira experiência verdadeiramente séria realizou-se em 1690, em Paris, no Luxemburgo, sob o patrocínio do Delfim e da sua amante, a gorda menina Choin. O autor da experiência era Guilherme Amontons e Fontenelle expõe assim o seu processo: <<O segredo consistia em colocar em vários postos sucessivos pessoas que, por meio de óculos de grande alcance, se apercebiam de certos sinais do posto precedente, os transmitiam ao seguinte e assim sempre sucessivamente, e estes diferentes sinais eram tantas outras letras de um alfabeto...>>. Mas esta engenhosa invenção foi considerada como uma brincadeira e caiu no esquecimento. Não teve melhor sorte, cem anos mais tarde, em 1782, o sistema do genebrino Lesage: era, com meio século de avanço, um telégrafo eléctrico. Compunha-se de 24 fios isolados, cada um dos quais correspondia a uma letra do alfabeto; em frente de cada extremidade estava suspensa uma pequena bola de miolo de sabugueiro; quando a corrente vinha de um lado, a bola era impelida para o outro lado, e conseguia-se transmitir utilizando um fio após outro. Estava habilmente concebido, mas a técnica ainda não estava amadurecida,e ficava por vencer uma importante etapa antes que víssemos estender de cidade em cidade a rede infinita dos fios telegráficos.

Foi em 1791 que Claude Chappe estabeleceu em Paris, junto à Porta d'Etoile, o seu primeiro telégrafo. Com as suas gesticulações bizarras a máquina intrigou o público, que a quebrou. Encorajado pela Assembléia Legislativa, o inventor reconstruiu-a em Ménilmontant, em casa de Lepelletier de Saint-Fargeau. Não teve melhor fortuna: crendo que se tratava de um meio de comunicação entre Luís XVI, então na prisão do Templo, e os seus partidários, o povo lançou-lhe fogo. Mas Chappe não perdeu a coragem; reconstituiu o seu aparelho, estabeleceu um outro em Saint-Martin-du-Testre, localidade situada a 35 quilómetros de distância, e a troca de mensagens entre os dois realizou-se com pleno sucesso. Chappe foi nomeado imediatamente engenheiro-telegráfico, com 5 libras e 10 soldos de vencimento diário, e encarregado de organizar um linha de Paris a Lille.

Isto passava-se em 1793. O aparelho de Chappe era, como mostra a figura 32, um suporte vertical no cimo do qual três barras accionadas por roldanas podiam tomar diversas posições. Cada uma delas correspondia a um sinal. Havia, entre Paris e Lille, 16 estações, a 14 quilómetros umas das outras. A primeira mensagem transmitida foi lida por Carnot na Convenção. <<Era a notícia de uma vitória: A cidade de Condé entregou-se às forças da República: a rendição teve lugar esta manhã às 6 horas>>. Considerai o entusiasmo da Assembléia, e a alegria com a qual os funcionários das estações deviam ter transmitido uns aos outros a resposta: <<O exército vitorioso bem merece a gratidão da pátria>>.

Sómente em 1852 começaram, de facto, a desaparecer das torres, no cimo das colinas, os grandes braços em movimento que transmitiam silenciosamente as suas mensagens. O telégrafo de sinais não era todavia suprimido; os sinais feitos com os braços ainda hoje utilizados no exército não são uma espécie de sistema de Chappe, do mesmo modo que as bandeiras que, dispostas de certas maneiras, permitem aos navios comunicar uns com os outros? A T.S.F. não conseguiu eliminar estes métodos rudimentares, e não é impossível que os pequenos postos perdidos nos confins do Sáara, conversem ainda, por meio de sinais luminosos, obtidos reenviando os raios solares por um jogo de espelhos."

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