"Clube de Pelotas cancela bailes de carnaval para evitar entrada de negros
Porto Alegre - Com duas extensas notas oficiais em menos de 24 horas, a diretoria do Clube Comercial de Pelotas tentou justificar a posição que adotou depois de denunciada a intenção de segregacionismo racial nos bailes de carnaval a serem promovidos em sua sede pela Prefeitura Municipal: para não permitir a entrada de negros em seus salões, cancelou todos os acordos já assinado.
Ante a denúncia do vereador Francisco de Paula Morais (MDB) de que as entidades negras estavam sendo sabotadas na promoção, o clube cancelou os bailes em duas notas, uma com sete e outra com 11 itens, alguns contraditórios, como o que afirma que 'jamais se cogitou de uma suposta realização do chamado baile municipal no Clube Comercial de Pelotas'.
Hipocrisia
A verdade é que entre os 800 associados do centenário clube pelotense não existe nenhum que não seja branco e que entre as 2 mil pessoas que, todos os anos, lotam os salões, no carnaval, os pretos só são vistos trabalhando como garçons ou tocando nas orquestras. O vereador Arlon Louzada (MDB) afirma que é difícil provar o que todo mundo está cansado de saber, que existe segregação, ainda que não ostensiva, não só no Clube Comercial de Pelotas como na maioria das sociedades do Rio Grande do Sul: 'se não há discriminação, por que suspenderam o baile?'
Ele lembra o fato ocorrido no vizinho Município de Piratini, mês passado, quando duas mulatas foram barradas na porta do Clube de Tradições Gaúchas por um porteiro que esbravejava: 'Negro só entra aqui para tocar gaita e lavar os copos'. Para ele, um absurdo, determinante da subcultura de um povo, que se mantém porque o Governo esquece de ver o problema racial em todos os níveis:
- Uma moça preta, em Pelotas, tem dificuldades até para conseguir emprego de balconista - diz ele - é uma raça marginalizada da vida econômica da região, que como um todo paira muito abaixo do nível de poder aquisitivo da população branca."
Fonte: JORNAL DO BRASIL (RJ), 22 de Fevereiro de 1976, pág. 36