segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Histórias de Vida III


Entrevista com o Sr. Nilo Lemke
Realizada pelo autor em 12-11-2007
Referência: Bairro Jardim América

            “Mora no bairro desde setembro de 1980, sendo procedente de Canguçu, nascido em Herval, criado no Iguatemi. Primeiramente veio para Pelotas, onde permaneceu de maio de 1979 a setembro de 1980 no Bairro Fragata, onde morava num ‘puxadinho’. Um dos fatores que propiciaram sua vinda para o bairro fora a oferta de terrenos baratos financiados em cinco anos. Depois os financiamentos baixaram para 24 e 36 vezes. Cogitou, à época, antes de sair do Fragata, transferir-se para o Sítio Floresta, porém os terrenos eram mais caros. Informa que quando comprou o terreno no Jardim América, pagou uma entrada de Cr$ 8.700,00 e após parcelas fixas. Relata que sempre foi difícil conseguir as coisas.
            Trabalhou por quase 14 anos na Madeireira Schumann. Esta fechou e o Sr. Nilo empregou-se no Rio-Pel, em 1994. Curto período (três meses) de trabalho, pois o frigorífico fechou também e o Sr. Nilo foi prestar serviço de vigilante na Escola Emanuel, no Fragata. Quanto à Madeireira, informa que se acidentou em 1980 (obs.: possui a mão decepada), voltou em 1981 e saiu em 1993.
            Recorda dos seguintes vizinhos (da Rua Piratini); falecido Sr. Didi, Sr. Augusto, Sra. Jandira (quando veio ela já tinha o imóvel construído), falecido Sr. Zé, Sra. Isabel, falecido Sr. Manuel. Informa que o pessoal trabalhava no Extremo-Sul, Cica e Veja. Esposa trabalhou quatro anos na Santa Casa de Misericórdia, depois empregou-se na indústria conserveira e, finalmente, como doméstica em casa de família. Salienta que a maioria das mulheres trabalha como diarista (limpeza) e/ou doméstica em casas de família.
            Passamos a tratar sobre a atuação da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) no bairro, dado o Sr. Nilo ter sido indicado como referência neste assunto. O Sr. Nilo afirma que o ponto inicial da missão da IELB começo do ‘outro lado’, na casa da Sra. Irma (onde era o cinema). Lembra que houve a realização de dois ou três cultos na casa do Sr. Gilmar (onde havia um colégio). Depois houve cultos num galpão do Sr. Auro Schmidt. Em seguida, houve a compra do terreno na atual Rua Castro Alves. Construíram prédio com auxílio de luteranos norte-americanos. Hoje comunidade faz parte da Paróquia Emanuel, do Fragata. Lembra que os bairros Centro e Fragata em Pelotas e o Jardim América fazem parte da mesma circunscrição. Tudo começou a partir da comunidade luterana do Centro. Comunidade no Jardim América data de 1985. Os primeiros pastores que atenderam à comunidade foram os srs. Daltro Kautzmann e Arnaldo Hoffmann – ambos da comunidade do Centro de Pelotas.
            Fala que a IELB teve como centro dos pontos de missão a Igreja Queimada em Sant’anna, no Morro Redondo. Conforme um ponto de missão se tornava uma comunidade organizada, esta encarregava-se de fazer um novo ponto de missão. Assim surgiu a comunidade das Três Vendas e do Centro. Por causa do êxodo rural, IELB se faz presente nas vilas periféricas devido a presença de famílias que saíram da colônia. Hoje, comunidade das Três Vendas também realiza missões na zona colonial. No Jardim América, base da IELB é pessoal que veio da colônia (Canguçu, Piratini, Pedro Osório).
            A comunidade realiza cultos, porém ainda serviço social (arrecadação de roupas, programa no rádio, remédios, alimentos, pães, etc.). Há pontos de estudos bíblicos nas casas de famílias e escolinha bíblica todas as tardes de domingo. Ocorre sempre um evento na véspera de Natal. A comunidade participa em seu distrito (Pelotas, Cerrito, São Lourenço do Sul, Pedro Osório, Capão do Leão, Morro Redondo) de congressos de jovens, de leigos, etc., onde pessoal se reúne e há jogos de futebol e bocha. Os encontros acontecem na Igreja Queimada, onde ainda se fala o alemão. Informa que no interior pastor prega em alemão, inclusive até não-teutos falam o alemão. Acrescenta, retornando ao tema da IELB no bairro, a existência de grupos de canto, grupo coral, grupo de servas, além de instruções de confirmação. Pois criança é batizada quando pequena, jovem confirma fé do batismo.
            No próximo dia dois haverá um almoço de confraternização pelos 22 anos da comunidade. Já foram na Comunidade Bom Jesus, no Areal, para participar de um evento com o mesmo motivo. Destaca que a comunidade luterana recebe pessoas de todas as raças e cita o Sr. Cláudio e a Sra. Clair que são negros como exemplos. Narra que na Solidez (em Canguçu), existe até hoje uma comunidade luterana só de negros, com um pastor negro. Mas isso se dá mais por uma questão de tradição, pois a IELB está aberta a qualquer pessoa.
            O Sr. Nilo Lemke é descendente de pomeranos e também fala o pomerano. Sua esposa, entretanto, fala o alemão.
            Os primeiros armazéns que lembra dos arredores eram os dos srs. Arnaldo e Océlio, nos quais as pessoas faziam rancho. Surgiu após a venda do Sr. Geraldo e, em seguida, do Sr. Framalion (abriu pequeno, tipo vendinha, tipo ‘Verona’). Houve também o Armazém Gomes – era um ‘bequinho’, onde vendia-se canos, conexões, etc. Igualmente surgiu o comércio do Sr. Osmar Rosa, ‘bequinho pequeninho’, que hoje é um supermercado e a venda da Sra. Irma (venda tipo ferragem, ao lado do prédio onde havia culto). Logo adiante também teve a venda do Sr. Enéias. Cita ainda o boteco do Alemãozinho, a venda do Sr. João, e o Supermercado Peres (onde é atualmente a Bela Casa Móveis).
            Relata que os dois principais problemas eram a falta de água e a falta de luz. Pegava-se água na Rua 28 de Março e havia um poço para lavar roupas próximo aos trilhos. Depois na Praça da Integração colocaram um poço artesiano. Assim como surgiu outro poço na esquina do atual Centro de Referência em Assistência Social. Finalmente conseguiu-se tubulação e a água chegou. Problema maior era o chuveiro, não havia resistência que agüentasse. Lembra que o local da bica era muito longe, havia longas filas de espera. Houve também o caminhão-pipa da Prefeitura Municipal. Quando chegou energia elétrica não havia. Só foram conseguir através de um abaixo-assinado com o Vereador Fernando Azevedo. Lembra que a área dos lotes era muito encharcada. Luz só havia no trecho do Clube Campestre.
            Maior preocupação atualmente é com segurança. Indivíduos ‘vem mesmo’ nas casas. Roubo de galinhas era o mais comum, entretanto, atualmente ocorrem inúmeros furtos dos mais diversos tipos. Fala de um grupo de drogados que se reúne numa casa abandonada ali perto. Lamenta que a polícia não consegue flagrante dos crimes. Informa de roubos na casa do Sr. Ervino Jeske (morador antigo proprietário da Padaria Santos) e na casa da Sra. Wilma. Acredita que ‘Pombal’ é só fachada para esconder bandidos.
            Quanto ao transporte, recorda que ônibus só passava na atual Avenida Três de Maio. Era um ônibus pela manhã, mais dois ou três por dia. Passava pela avenida também o ônibus da linha do Capão do Leão, da Empresa Bosembecker. Houve um ônibus da Turf da linha Fragata que vinha até o bairro.
            Observa que não havia moradores nos arredores em muita quantidade. Eram o Sr. Antônio, um sapateiro ‘moreno’ e mais para lá (lado leste) outros moradores. Aqui (rua Piratini) moravam o falecido Sr. Edilon e o Sr. Dino (o qual era proprietário de muitos terrenos). No entorno do Sr. Arnaldo havia mais gente. Filhos do Tenente há muitos anos moram ali (refere-se a Família Ricardo).”

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