sexta-feira, 28 de julho de 2017

O Leste da Prússia - origem de boa parte dos imigrantes alemães no Brasil

Antigo brasão de armas da Prússia Oriental

Fonte: CUNHA, Jorge Luiz da. Da miséria fugiam! (pelo menos a maioria). In: FISCHER, Luís Augusto & GERTZ, René E. Nós, os teuto-gaúchos. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2a. ed., p. 264-266.

"A REGIÃO ORIENTAL DA ALEMANHA

Esta região da Alemanha, formada pelas províncias prussianas de Brandemburgo, Posnânia, parte da Silésia (junto ao rio Oder), Pomerânia, Prússia Ocidental e Prússia Oriental e ainda Mecklemburgo (Schwerin e Strelitz) apresentava características diferentes das do resto da Alemanha. A ocupação alemã iniciou com as imigrações que se sucederam desde o século 15 em busca de novos territórios para a população excedente do centro e do oeste da Alemanha. A população era bem menos densa nesta parte da Alemanha, oscilando durante todo o século 19 entre 30 e 63 habitantes por quilômetro quadrado, com exceção para Brandemburgo (incluía Berlim), que alcançou cerca de 85 habitantes por quilômetro quadrado no final do século passado. Este quadro de baixa densidade demográfica explica-se pela estrutura fundiária desta parte da Alemanha, baseada nas grandes propriedades dos Junkers.

No começo do século passado, o Estado prussiano iniciou sua transição para o capitalismo. Em 1807 foi decretada a abolição definitiva da servidão camponesa na Prússia e anulado o regime de fideicomisso, buscando permitir aos grandes proprietários alienarem ou venderem parcelas de suas terras aos camponeses que nelas viviam, para que estes pudessem obter a liberdade como proprietários autônomos. Contudo, as concessões aos Junkers foram tantas que a maior parte dos camponeses perdeu a metade ou a totalidade das terras que cultivava, tendo que se submeter ao trabalho nas propriedades senhoriais ou então fugir para engrossar a massa dos deserdados das cidades industriais do oeste ou dos colonizadores nas Américas.

A emancipação dos camponeses foi acompanhada, entre 1807 e 1808, de uma reforma administrativa que revogou, ao lado da servidão camponesa, o sistema jurídico dos três estados e organizou a Prússia em Departamento, a exemplo da França. Todas essas reformas contaram com a veemente oposição dos Junkers, que derrubaram seu idealizador, Stein, quando este começou a planejar reformas que pretendiam abolir as jurisdições patrimoniais e as imunidades fiscais da nobreza. O sucessor de Stein foi Hardenberg, que se dedicou à modernização do absolutismo prussiano e da classe Junkers: em 1810 e 1816 foi implementada uma 'reforma agrária', que se pretendia complementar o edito de emancipação do ano de 1807. Com esta medida, os camponeses sofreram a espoliação econômica de cerca de 1 milhão de hectares e 260 milhões de marcas, como compensação aos seus antigos senhores pela liberdade conquistada. Além disso foram eliminadas as terras comunais (pastagens e florestas) e o sistema de cultivo em três campos. Como resultado dessas medidas, as propriedades dos Junkers aumentaram na exata proporção do crescimento de uma massa de trabalhadores rurais sem terra, impedidos de abandonarem suas regiões por ordens judiciais que os colocaram à disposição dos grandes proprietários.

As reformas de Hardenberg permitiram o acesso da burguesia à propriedade da terra e o acesso dos elementos da nobreza a profissões burguesas e tornaram livre o mercado de terras. Assim, foram eliminados os Junkers incapazes ou arruinados e substituídos pelos proprietários emancipados da burguesia - os Grobbauern -, enquanto que os Junkers que permaneceram se modernizaram e aumentaram o tamanho e a produtividade de suas propriedades. Entre 1815 e 1864 a área cultivada e a produção dobraram no Além-Elba com a utilização de trabalhadores assalariados.

Os camponeses, transformados em assalariados, se dividiram em dois grandes grupos: os moradores e os jornaleiros agrícolas, submetidos ambos a uma série de tradições e costumes feudais, que sobreviveram até o começo do século 20, e que impunham uma rígida disciplina dominal como: prisões e castigos corporais por greve ou tentativa de fuga.

Os moradores se originavam geralmente dentre os criados da casa senhorial (domésticos, cocheiros, serviçais) - funções geralmente ocupadas pelos jovens - que recebiam um salário monetário e que tinham sua manutenção garantida pela própria casa senhorial. Normalmente, quando conseguiam algum pecúlio que lhes permitia comprar uma vaca e os utensílios necessários para montar uma casa, acabavam casando e assumindo a condição mais independente de moradores.

Como morador, o antigo camponês precisava colocar o seu trabalho e o de sua mulher à disposição do proprietário e muitas vezes o trabalho de outro trabalhador dependente, principalmente no começo de seu estabelecimento como morador. Quando os filhos ultrapassavam a idade escolar, eram incorporados ao trabalho como trabalhadores dependentes ou como criados do proprietários. O morador, em alguns casos, tinha a possibilidade de arrendar parcelas de terras do proprietário, aumentando, assim, as possibilidades de ganho e poupança.

A relativa estabilidade dos moradores agrícolas na Alemanha oriental passou a ser abalada quando a produção cerealífera europeia começou a sofrer a concorrência dos cereais produzidos pelos Estados Unidos da América do Norte, justamente pelo trabalho dos imigrantes europeus. Quando se estabeleceu a crise na agricultura das grandes propriedades, houve uma tendência à substituição dos moradores por jornaleiros agrícolas, que não precisavam ser pagos nos períodos de entressafra.

Esta mudança, na composição dos trabalhadores assalariados na agricultura da região oriental da Alemanha, colocou em movimento migratório um enorme contingente populacional que buscava ocupação nas culturas temporárias de forma cada vez mais intensa na segunda metade do século 19, desembocando não raro nas indústrias urbanas, onde os salários eram melhores ou em algum porto: deslocando a esperança de uma vida melhor para a América."

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