quinta-feira, 29 de maio de 2008

Funeral de Elberto Madruga

Multidão acompanha o féretro fúnebre
Detalhe do caixão sendo carregado por autoridades e amigos

Data: Agosto de 1985

Cortesia: Gérson Baldassari

terça-feira, 20 de maio de 2008

Quarto Congresso Operário do Rio Grande do Sul (1928)


Trechos extraídos de: LONER, Beatriz Ana. Quarto Congresso Operário do Rio grande do Sul (1928). In: Cadernos do ISP, Pelotas (11), dez. 1997, p. 21-45

“Sabia-se que Frederico Kniested asseverava a sua realização no ano de 1927, em Pelotas. Edgar Rodrigues afirmava a existência do Congresso, sem citar data e local, e anotava a participação de vários militantes de São Paulo e Rio, mas, ao relatar suas conclusões, apresentava conteúdo diferenciado do relato de Kniested.” (p. 21)

“Com a nova referência de O Sindicalista, para 1º. de Janeiro de 1928, foi fácil achá-la: ‘começaram ontem na Liga Operária as reuniões do proletariado de várias cidades do estado para tratar de interesses da classe. Acham-se presentes às reuniões permanentes os delegados de Uruguaiana, Bagé, Porto Alegre, Rio Grande, Capão do Leão, D. Pedrito e Vila Petrópolis, representando o sr. Domingos Passos as associações do Rio de Janeiro e Santos (canteiros), São Paulo e Pará.” (p. 22)

“Durante a década [1920 – grifo nosso], os anarquistas vão aprofundando suas críticas em relação ao sindicalismo, esforçando-se na criação de grupos de livre pensamento ou de estudos, participando de Ligas Anti-clericais e núcleos de operários apolíticos, estes últimos em contraposição ao trabalho dos comunistas. Como resultado da nova orientação saída no Congresso gaúcho de 1928, muitos serão os jornais lançados durante estes anos de cunho libertário, mas sem uma continuidade no seu trabalho, o que reflete muito bem seu crescente isolamento e, conseqüentemente, sua fragilidade econômica e política entre o operariado.” (p. 25-26)

“Em 1925, participam do 3º. Congresso Rio-Grandense, a Liga Operária e quatro sindicatos de Pelotas. Em 1927, na reunião de delegados que ocorre na cidade estão representados além da liga, cinco sindicatos. Em 1928, é possível identificar no Congresso, delegados da Liga, do Sindicato dos Canteiros de Capão do Leão e dos estivadores de Pelotas.” (p. 31)

“São arroladas como filiadas a AIT [Associação Internacional de Trabalhadores – grifo nosso] no Brasil, as seguintes associações: União Geral de Trabalhadores de Uruguaiana – rua 7 de setembro, 67; Federação Obreira local de Bagé – rua Mal. Floriano, 65; Federação Obreira Local de Rio de Janeiro – Praça da República 56, 2º andar; Federação Obreira local de Pelotas – 15 de novembro, 757; Sindicato dos Canteiros de Capão do Leão. (...) Cf. DIÁRIO LIBERAL, Pelotas, 06 ago. 1933.” (Nota de rodapé 28 – p. 31-32)

“Nome dos delegados que representaram as classes: (...); João Martins Oliveira – pelo Capão do Leão; (...).” (Nota de rodapé 39 – p. 37)

Observação nossa: Deontino – também do Sindicato dos canteiros do Capão do Leão. (Cf. p. 43)

Loteamento Zona Sul

eO Sr. Oriente Brasil Caldeira comprou e loteou a área que se tornou de certa maneira um prolongamento do Jardim América. Antes da 1ª. parte do loteamento, surgida em 1977, a região pertencia a Sra. Elza Carret Nachtigall e era usada como campo de criação e local de rodeios. Segundo o Sr. Oriente a sua iniciativa deveu-se ao fato de perceber que o bairro crescia intensamente – razão também que explica o motivo do nome, dada a origem dos migrantes. Na 1ª etapa (até a BR-116), foi loteada uma área total de 82.955 m2, dos quais 7.200 m2 destinados a áreas verdes, 26.780 m2 à área das ruas e 48.885 m2 à área dos lotes. A procura por terrenos no escritório da Imobiliária Zona Sul na Avenida Eliseu Maciel motivou a expansão do loteamento em 1980. Na 2ª. etapa (além da BR-116) foi loteada uma área total de 141.816 m2, dos quais 15.619,80 m2 destinados a áreas verdes, 38.800,15 m2 à área das ruas e 87.396,05 m2 à área dos lotes. Na mesma época, as empresas Amadia Saraiva e Eletur fizeram a instalação da energia elétrica e foram abertos poços artesianos para suprir a demanda de água. Somente por volta de 1990, a Corsan passou a atender o loteamento de forma mais completa – 12 mil metros de rede encanada.
Como os terrenos foram comparativamente um pouco mais caros do que os que haviam no interior do Jardim América, os primeiros moradores eram pessoas que possuíam empregos assalariados. Isto é, não havia tanto a presença de trabalhadores informais no rol dos proprietários – o que justificaria a fama do loteamento ser considerado um lugar tranqüilo, do ponto de vista da segurança, nos seus primeiros anos.
Entre 1983 e 1989, a área da 1ª. etapa do loteamento foi quase que em sua totalidade ocupada. Já a área da 2ª. etapa por ser maior, foi sendo povoada gradativamente, com grande impulso na década de 1990, embora ainda existam lotes vazios. Em 1984 (também por iniciativa do Sr. Oriente) foi criada a Escola Comunitária Laura Alves Caldeira, que passou à responsabilidade do Estado do Rio Grande do Sul durante o Governo Britto (1995-1998).
Importantes também pela sua ação social são as comunidades católicas Nossa Senhora de Lourdes e Santa Cecília que se converteram em reais centros comunitários. Ressalva-se também a sede da Associação Comunitária Jardim América, sito à Rua Cidade de Canguçu, que foi a principal organização popular do bairro na década de 80 e início da década de 90.

Semana da Pátria de 1984

Autoridades e personalidades locais durante a cerimônia de hasteamento dos pavilhões nacional, estadual e municipal em 07 de Setembro de 1984, defronte ao Altar da Pátria
Cortesia: Sr. Ten. Cândido Afonso Garcia

Semana da Pátria de 1983

Com participação e incentivo da Liga de Defesa Nacional, a cerimônia de hasteamento dos pavilhões era muito bem elaborada
Apresentação de jovens estudantes na Semana da Pátria

Cortesia: Sr. Ten. Cândido Afonso Garcia

Bairro Jardim América - Parte XIII (Final)


A precariedade infra-estrutural do bairro, já nos primeiros anos, obrigou a população a mobilizar-se em busca de seus direitos. Questões como a eletrificação, transporte, educação, saúde e, sobretudo, abastecimento de água, foram as principais reivindicações da pauta de lutas.
Exceção feita à participação que o bairro teve na 1ª. tentativa de emancipação do Capão do Leão, em 1963, o movimento reivindicatório mais antigo que temos notícia data de 1975 e resultou na criação de uma escola. Nas imediações da Praça da Imprensa, os moradores capitaneados pela Sra. Isolina Souza da Silva, puseram-se na busca de solução para vários problemas da área, dentre eles: o abastecimento de água, energia elétrica e uma escola (dado o fato que a escola Barão de S. Ângelo era muito longe do local). Realmente, a instalação de energia elétrica mais para o interior do bairro (a região da Avenida Três de Maio já possuía o serviço há mais tempo) tomou grande impulso entre 1975 e 1980. A questão da água foi tratada no capítulo XI desta série. O embrião daquilo que viria a tornar-se a Escola Elmar Costa atualmente começou com aulas improvisadas na cozinha da casa do Sr. Florentino de Souza ministradas pela Sra. Isolina para um grupo de 33 crianças, entre 1975 e 1976. Em 1977, a Secretaria de Educação de Pelotas assumiu o encargo e passou a mandar uma professora que atendia as crianças num chalé alugado de propriedade do Sr. Erlindo Fonseca. Em seguida passou a funcionar outro anexo educacional na Rua Guilherme Manske.
Ainda na mesma época, o Jardim América adquiriu maior representatividade política, quando no governo de Irajá Rodrigues (1979-1982) foram criados os conselhos comunitários de bairro. Este sistema pioneiro possibilitou que a comunidade tivesse um canal de acesso mais próximo ao poder público. Na ocasião, o Jardim América compunha com Avenida Cidade de Lisboa, Virgílio Costa e Vila Nossa Senhora de Lourdes, o Conselho Comunitário Fragata-Sul. O representante do bairro eleito pelos moradores foi o Sr. Francisco Adilson Réus Henrique.
Na questão do atendimento em saúde as conquistas foram mais lentas. No ano de 1965, num prédio na esquina da Avenida Três de Maio e Rua Cidade de Rio Grande chegou a funcionar um posto de atendimento médico comunitário dirigido pelo Dr. Armando Bórgia; durando pelo menos até 1970. Entretanto, a população tinha que recorrer aos hospitais do centro de Pelotas, na maior parte das vezes. Na pós-emancipação, houve os postos de saúde do Dr. Juca e do Dr. Haroldo. A partir de então, houve certo desenvolvimento nesta área.
As associações comunitárias e assistenciais também são uma ocorrência do período pós-emancipatório, algumas até bem-recentes. Citam-se: Associação Comunitária Jardim América, Associação dos Moradores do Jardim América, Sociedade Assistencial Jardim América, Associação de Apoio Comunitário, Associação Jardim América de Desenvolvimento e Assistência Comunitária, Associação de Idosos e União de Jovens. É importante igualmente recorrer o trabalho desempenhado pelas igrejas cristãs no atendimento aos mais pobres e em ações filantrópicas, destacando: batistas, luteranos, católicos, mórmons e adventistas.

Bairro Jardim América - Parte XII


Dos antigos armazéns que vendiam muitos produtos a granel e atendiam fregueses que vinham desde o Pavão até a Capela da Buena restou somente a lembrança. Um estabelecimento comercial que marcou muito, ainda na época da Várzea do Fragata, foi a Venda do Sr. Luís Nachtigall – a qual tratamos no capítulo III desta série. Outros estabelecimentos comerciais que se destacaram na história do bairro, sempre ao longo da Avenida Três de Maio foram: o Armazém do Sr. Antônio Silva (na esquina com a Rua Maurílio Oliveira), a Casa Avante (na esquina com a BR-293), o Armazém do Sr. Willy Schiller (próximo à escola Barão de Santo Ângelo), o Armazém Brasil (no prédio ao lado do atual Supermercado Econômico), a Venda do Sr. Bento Cantarelli (na esquina com a Rua Francisco Pires dos Santos) e o Armazém do Sr. Ernani da Rosa (onde hoje se encontra a Clínica de Fisioterapia). Para o interior do bairro são dignos de nota: o Comércio do Sr. Oriente Brasil Caldeira (no Corredor da Embrapa), o Armazém do Sr. Catarino, a Venda do Sr. João Gomes, a Venda do Sr. Arnaldo, a Venda do Sr. Océlio, a Venda do Sr. Framalion, o Comércio do Sr. Osmar Rosa (atualmente um supermercado), a Venda do Sr. Enéias, Mercadinho Domingues e o Boteco do Alemãozinho. Entre tantos, alguns possivelmente ignorados, trataremos de dois que tiveram longa duração e importância: o Armazém Brasil e o Armazém do Sr. Ernani da Rosa.
O Armazém Brasil, de propriedade da Família Carret, funcionou aproximadamente de 1955 até o início da década de 1980. Foi o típico comércio tradicional de subúrbio, em que se reunia a população, não somente para comprar, mas também para conversar e se distrair. Era muito freqüentado pelos trabalhadores rurais e visitado por candidatos em campanha. De tal forma foi uma referência que, mesmo decorrido mais de um quarto de século de seu fechamento, o local ainda nomeia a linha de ônibus que atende a zona do bairro situada entre as rodovias BR-116 e BR-293. Isso acontece porque antigamente o ônibus do Jardim América partia do ponto defronte à atual Agropecuária Bandeirante; posteriormente, devido às reivindicações dos moradores o ônibus passou a partir defronte ao citado comércio.
Já o Armazém do Sr. Ernani da Rosa funcionou aproximadamente de 1965 a 1978. Iniciou com um pequeno “barzinho da madeira” e, aos poucos, tornou-se um comércio forte. Mais do que isso, o lugar passou a um aglomerado de serviços e empreendimentos, todos de iniciativa do Sr. Ernani. No local funcionou também coadjuvante ao armazém: olaria, carvoaria, borracharia, oficina de bicicletas, cancha de bochas, açougue, mesas de sinuca, ferraria, abatedouro de porcos, casas de aluguel (ao lado) e cinema. Na década de 1970 o armazém transformou-se no “point” do Jardim América, com grande freguesia de jovens, safristas, charreteiros e funcionários do DAER. Pioneiramente, o armazém também foi um dos primeiros locais do bairro a ter uma televisão para o público. Houve verdadeiro frenesi na época da novela global “Irmãos Coragem”.
O cinema merece atenção especial. O Cine América – que funcionou entre 1966 e 1977 – marcou toda uma geração. Num sistema muito comum na época, em que os cines de bairro eram prósperos, os filmes eram locados. Por isso, a mesma película era rodada num só dia nos cines do Fragata, Passo do Salso, Jardim América e Capão do Leão. Grandes sucessos de Teixeirinha e José Mendes, faroestes norte-americanos e filmes de ação atraiam grande público às sessões. Inúmeras ocasiões houve sessões duplas e triplas. Às quartas-feiras, ocorria a promoção “Grátis ao Belo Sexo”, com entrada franca para as mulheres.

Bairro Jardim América - Parte XI


Em 20 de Janeiro de 1992, a capital gaúcha foi palco do ápice de uma luta, de pelo menos três décadas, da comunidade pelo direito ao abastecimento d’água. Naquela ocasião, uma comitiva composta de lideranças comunitárias, políticos e moradores, totalizando um número admirável de 156 pessoas, compareceram a Porto Alegre, na sede da Companhia Rio-grandense de Saneamento (CORSAN), para levar as reivindicações do bairro ao então presidente da empresa, Carlos Petersen. A demonstração de mobilização popular denotou a situação sofredora e insustentável da população na questão d’água e impressionou as autoridades estaduais. Porém antes vamos recordar a trajetória de problemas e lutas que os moradores tiveram em relação à água.
Na época da criação do Jardim América na década de 50, como não houve nenhuma ação pública na infra-estrutura do bairro, o abastecimento de água, tal como outros itens como eletrificação, transporte, coleta de lixo, etc., foram ignorados. A saída para a população era servir-se da água azulada de cacimbas no meio do campo. Com o tempo multiplicaram-se os poços de algibre, úteis porém caros. A 1ª. intervenção pública de impacto para suprir a demanda de água aconteceu durante o governo Ary Alcântara (1974-1978) em Pelotas, quando foram perfurados poços comunitários. Em 1979, já na gestão de Irajá Rodrigues, uma rede de mangueiras pretas que trazia água do Frigorífico Rio-Pel foi instalada até as imediações da atual Avenida J.K. de Oliveira, destinada à colocação de bicas públicas. Entretanto, além de não resolver o problema de “todo” o bairro, a rede de mangueiras pretas foi sendo aos poucos atingida pelos “gatos”. Somente em 1981 é que se visualizou uma possibilidade real de solução para o abastecimento de água – aliás, fato que explica a razão de muitos moradores se oporem à incorporação do Jardim América ao novo município de Capão do Leão. O que aconteceu é que a Prefeitura de Pelotas anunciara a construção de uma caixa-d’água na Vila Gotuzzo que, além de reforçar o abastecimento no Fragata, serviria para suprir a demanda existente no Jardim América. Como a emancipação aconteceu no “meio do caminho”, o bairro não chegou a ser contemplado.
Todavia, na pós-emancipação a questão da água não deixou de ser considerada uma prioridade das administrações municipais. O fato é que outros fatores aliaram-se ao problema. Conforme estudos da economista Ana Victória Sena, houve um aumento significativo no fornecimento de água encanada em 268,1%, no período 1983-1991. Em compensação, o Município também teve um aumento do número de domicílios na ordem de 442,9%, no mesmo período. Isso significa que, embora a taxa de déficit no fornecimento fosse 31,42% em 1983, a mesma taxa em 1991 não diminuiu e sim apontara um valor preocupante de 53,5% de casas sem o líquido vital. A grande maioria no Jardim América.
Somente na década de 90, após muitas lutas dos moradores e das organizações comunitárias, tal como aquela que exemplificamos no início do artigo, é que a questão do abastecimento de água passou a ser normalizada.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Baile Infantil de Carnaval em 1989

Detalhes do Baile Infantil
Josiéle Neves - Princesinha 1989

Patricia Soares - Duquesinha 1989


Os festejos ocorreram no antigo Salão Beléia em 04 de Fevereiro de 1989


Escola Gabriela Gastal em 1983 (Ano de Fundação)











Cortesia: Acervo da escola.








Duas formações do S.E.C. Oito de Outubro no final da década de 1960


Cortesia: Sr. Gilberto Oliveira

Guindastes da Pedreira do Cerro do Estado em 1962




Tipo de Vagão empregado no carregamento das pedras


Cortesia: Acervo da Escola Faria Santos


Usina Elétrica do Cerro do Estado em 1962

Prédio (vista frontal)
Vista lateral do prédio

Sala de Máquinas: 4 máquinas marca "Corliss" - duas viravam o gerador de 500 Watts e duas viram o Compressor


Cortesia: Acervo da Escola Faria Santos


Pedreiras do Cerro do Estado em 1962

Vista da Pedra da Bandeira
Uma das faces da Pedreira do Cerro do Estado

Graniteiros trabalhando


A digitalização não é a ideal, mas pode-se perceber os enormes paredões de pedra
Cortesia: Acervo da Escola Faria Santos.



Prédio da Administração da Pedreira do Cerro do Estado em 1962

Prédio (escritório) central da Administração do Deprc no Cerro do Estado
No fundo a antena do telégrafo da Administração cujo prefixo era: P.P.F.87
Cortesia: Acervo da Escola Faria Santos

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Santa Tecla: vida & veneração


Existem várias santas católicas com este nome, porém a venerada em Capão do Leão é a “mais famosa”, com culto bastante arraigado na Península Ibérica, Itália, Grécia, Armênia, Síria e partes da América Latina. Embora Santa Tecla tenha nascido em Iconium, por volta do ano 30 da Era Cristã, na região da Licaônia, hoje parte da Turquia. As única fontes sobre sua vida e apostolado são dois escritos apócrifos: Atos de Paulo e Tecla (século II) e Atos de Xantipas, Polyxena e Rebeca (século III).
Tecla teria se convertido ao cristianismo por volta do ano 48, quando da visita e pregação do Apóstolo Paulo à cidade de Iconium. Após devotar-se à virgindade, como marca de sua aceitação à nova fé, desagradara à família e ao noivo que a perseguiram. Depois de passar por muitas provações, decidira acompanhar Paulo em suas viagens missionárias, especialmente a Antioquia da Pisídia e Mira. Morreu em avançada idade na cidade de Isauria, na Síria. Relata-se que quando de sua morte, foram enviados soldados para ultrajá-la, numa gruta em que Tecla vivia como eremita. Segundo a tradição, Tecla orou para livrar-se do novo tormento e permanecer pura. A gruta então desmoronou, deixando somente os dois braços a descoberto. Os seguidores de Tecla recolheram os braços como relíquias e transladaram-nos até a cidade de Seleucia para dar-lhes sepultura. O local logo se converteu em centro de peregrinação de cristãos armênios.
Santa Tecla tornou-se uma das santas mais populares do 1o. milênio da Era Cristã, sobretudo no Oriente, onde várias topografias remetem à mártir. Nas igrejas Armênia e Síria, os Atos de Paulo e Tecla chegaram a fazer parte do cânon bíblico primitivo. No Ocidente, já no século IV registra-se a veneração à santa nas comunidades cristãs da Gália. Mas foi na Península Ibérica que a devoção à Santa Tecla encontrou grande simpatia.
A cidade de Tarragona (Espanha) rendia grande devoção a uma “Beata Thecla Virgine”, desde o século III. Em 1117, o Conde Ramón Berenguer III libertara a cidade dos mouros e doou as terras para a Igreja. Dada a veneração intensa que os tarraconenses rendiam a “Beata Thecla”, resolveram escolhê-la como padroeira. Como não sabiam qual das “Tecla” se tratava, decidiram homenagear Santa Tecla de Iconium – por basearem-se numa antiga tradição que remetia a visita de São Paulo à cidade, supondo-se que a santa o acompanhara.
Em 1319, Dom Raymond de Avignon (nobre local) e um grupo de cônsules de Tarragona embarcaram no porto de Barcelona em direção à Armênia para buscar as relíquias da santa. Munida de uma carta de recomendação do rei Jaime II de Aragão, a comitiva fora negociar com o rei armênio Onsino e, após tratativas, adquiriu as relíquias de Santa Tecla, dando em troca 40 cavalos andaluzes, um trono de ouro, 2000 queijos de Mallorca e outros produtos. Além dos ossos dos dois braços, o rei cedera também à comitiva mais alguns ossos do corpo (os quais se consideravam perdidos). De volta à Espanha, as relíquias são custodiadas ao Mosteiro de Sant Cugat de Vallés. Porém os ossos de um dos braços seguiram até Tarragona, para regozijo da população. Em 1811, durante as guerras napoleônicas, as tropas francesas do Gal. Suchet invadem e destroem Tarragona. A pilhagem que se segue atinge a Igreja de Santa Tecla e a relíquia é perdida. Em 1814, o Mosteiro de Sant Cugat doa à Tarragona a relíquia do outro braço, para que a cidade pudesse seguir com a devoção viva. No fim do século XX, durante escavações em uma casa antiga, encontrou-se, atrás de uma parede, uma pequena arca com ossos de um braço humano. Após averiguações, certificou-se que era a relíquia perdida de Santa Tecla, extraviada durante as guerras napoleônicas. A partir deste momento, a Igreja de Tarragona passou a custodiar “os dois braços” da santa.
Outras cidades que possuem veneração especial à santa: Braga (Portugal), Santo Domingo (Rep. Dominicana), Milão (Itália), Chicago (Estados Unidos), Schamiadzin (Armênia), Maalula ( Síria) e Meryemlik (Turquia).

Personalidades que marcaram...

Brigadeiro Rafael Pinto Bandeira (1740-1795): líder militar que se destacou na história do RS nas lutas entre portugueses e espanhóis pela demarcação de fronteiras. Foi Comandante Militar da Fronteira e donatário da Sesmaria do Pavão.
Padre Doutor (1729-1813): Pedro Pereira Fernandes de Mesquita, sacerdote católico, escritor, um dos responsáveis pela criação da freguesia de Pelotas, em 1812. Em sua propriedade no Capão do Leão, construiu o Oratório de N.S. da Conceição por volta de 1780 – o mais antigo templo religioso da região.
Hipólito José da Costa (1774-1823): jornalista, ativista político, bacharel em Direito e Filosofia, criador do 1º. jornal brasileiro: o Correio Braziliense, em 1808. Sobrinho do Padre Doutor, viveu parte de sua infância e adolescência no Capão do Leão. É considerado o PATRONO DA IMPRENSA BRASILEIRA.
Sargento Caldeira (século XIX): militar negro que combateu na Revolução Farroupilha ao lado de Teixeira Nunes e do General Netto, sendo considerado amigo íntimo deste último. Viveu e morreu no Passo das Pedras, embora fosse oriundo do Vale do Taquari.
Barão de Santa Tecla (1830-1900): Joaquim da Silva Tavares era político, estancieiro e militar, tendo desempenhado papel importante durante a época do II Império, inclusive combatendo na Guerra do Paraguay. Estabeleceu-se no Capão do Leão por volta de 1880. Sua esposa, Amélia, foi uma das propugnadoras da construção da igreja centenária homônima.
Florentino Antonio dos Santos (1837 -? ): proprietário da antiga taverna com hospedaria de animais que existia na região do Teodósio e que era ponto de parada de tropeiros que vinham trazer gado às charqueadas pelotenses.
Alexandre Gastaud (? – 1940): telegrafista, influente membro da sociedade pelotense, empreendedor e ativista político, responsável pela construção da Ponte do Teodósio. Promoveu a 1ª. radiografia realizada no Brasil, na Santa Casa de Misericórdia de Pelotas, e foi pioneiro no uso de energia elétrica para iluminação.
Gabriela Gastal (1883-1976): humanista, filantropa, destacou-se como médium espírita e homeopata, alcançando renome nacional. Proprietária das terras que hoje compõem a vila de mesmo nome.
Florisbello Garcia Barcellos (1906-1958): piratinense radicado no Capão do Leão, era barbeiro, mas destacou-se como poeta popular e escritor. Teve três obras publicadas.
Elberto Madruga (1921-1985): 1º. Prefeito leonense, foi tenente do exército e contador da Viação Férrea. Vereador por seis mandatos consecutivos em Pelotas, politicamente identificado com o Capão do Leão. Responsável por grandes conquistas para a nossa terra, entre elas: Usina Elétrica, Represa Municipal e Ginásio Estadual.

Imigração Francesa em Capão do Leão - Parte IV



“Gastaud foi verdadeiro exemplo de trabalho e inventiva”.
(Armindo Beux)

Além de bascos franceses oriundos do Uruguay e colonos provenientes da Colônia Santo Antônio em Pelotas, observa-se também em Capão do Leão uma imigração francesa de caráter espontâneo, desde muito cedo. Já em 1835 encontra-se a Família Adam na Capela da Buena. Segundo Leandro Ramos Betemps, pelo menos até 1874, a imigração francesa em Pelotas é feita por professores, artistas e comerciantes.
As características do Capão do Leão do fim do século XIX – Estação Ferroviária, indústria extrativista (lenha e pedra), terrenos a preços acessíveis – anteriormente descritas em outro artigo, foram estímulos à fixação de imigrantes das mais diversas localidades no lugar, inclusive indivíduos que vinham não somente por razões econômicas, porém também por causa do perfil campestre da região. Alguns tiveram, adiante, um envolvimento muito importante com a comunidade, contribuindo para o progresso do distrito. Neste ínterim, destacam-se alguns franceses. Vejamos alguns sobrenomes: Recart, Perez (lê-se “Perrê”), Litrez, Gontran, Durand, Larré, Roux, Delaunay, Roquemaure, Lacroix, des Essarts, Gastaud, Rouget Perez, Masseron, etc. Destes imigrantes “espontâneos”, duas personalidades merecem destaque: Dr. João Rouget Perez e Sr. Alexandre Gastaud (ambos nomes de ruas no município).
João Rouget Perez foi professor e diretor da Escola de Agronomia e Veterinária Eliseu Maciel, também fundador do laboratório que leva seu nome. Desenvolveu trabalhos científicos importantes nas áreas de Parasitologia, Bioquímica, Veterinária e Agronomia. Presidiu a Sociedade Agrícola de Pelotas, além de atuar como fundador e diretor da Rádio Pelotense. Viajou à Europa várias vezes para divulgar seus estudos. Sua propriedade no Capão do Leão, datada de 1914, encontra-se localizada no km 18 da BR-293 e atualmente pertence à Família Perez Wrege. A Granja da Cachoeira, como é chamada, tem como prédio principal um “castelo” que imita uma propriedade em Paris observada pelo Dr. Rouget Perez. Aliás, ele considerava o local, por suas paisagens, semelhante à cidade natal de Lannes, França.
Alexandre Gastaud, o qual Armindo Beux em sua obra “Franceses no Rio Grande do Sul” elogia continuamente, foi uma figura ímpar. Foi varredor de escritório e caixeiro e com menos de 20 anos foi trabalhar como limpador da Estação Férrea em Pelotas. Inteligente e curioso, aprendera sozinho a operar o telégrafo, tornando-se mais tarde telegrafista daquela estação. Ascendeu até se tornar telegrafista-chefe na Companhia do Telégrafo Nacional em Pelotas. Exerceu a mesma função, como instrutor do telégrafo, em Rio Grande, na Bahia, em Belém do Pará e em vários outros lugares. Numa época em que não havia eletricidade em Pelotas, mandou buscar na Europa aparelhos e instalou luz elétrica e força na Santa Casa de Misericórdia. Mais tarde fabricou um aparelho de Raio X, realizando a primeira operação em radiografia do Brasil, em 1903. Em Capão do Leão, também fora o pioneiro no uso da eletricidade, pois tinha em sua chácara luz elétrica e água encanada com força eletrodinâmica, numa época que sequer havia um gerador público. Também foi fundador e comunicador da Rádio Pelotense, membro da Liga Operária de Pelotas (a qual sempre trazia os associados para piqueniques no Capão do Leão) e um dos responsáveis diretos pela construção da Ponte do Teodósio, em 1923. Falecera em 1940, com avançada idade. A via que liga o Teodósio à BR-293 recebe honoravelmente seu nome.

Imigração Francesa em Capão do Leão - Parte III


“Não conheço nenhum caso em que uma pessoa com vontade de trabalhar não tivesse encontrado trabalho”.
(Carl Otto Ulrich, ao tratar sobre a zona colonial de Pelotas)

O processo de imigração européia não-portuguesa no Rio Grande do Sul iniciou-se em 1824 com a vinda dos primeiros colonos alemães que se instalaram no Vale do Rio dos Sinos. Até pelo menos meados do século XIX, a imigração não-portuguesa foi feita quase que exclusivamente por alemães. Após este período, teremos a chegada de colonos austríacos, russos, polacos, italianos (sobretudo) e franceses, entre outros. No tocante aos franceses, consta que o Governo da Província criou quatro colônias oficiais: Conde D’Eu e Isabel (em Bento Gonçalves), uma em Montenegro e a Colônia de São Feliciano (atual Dom Feliciano). Entretanto, sem apoio oficial do Governo estas colônias não se desenvolveram e nem permaneceram, sendo abandonadas antes do final do século. Particularmente, no caso da Colônia de São Feliciano, Marines Zandavalli Grando afirma que 88% dos colonos abandonaram-na, rumando para a região de Pelotas em busca de melhores condições de vida. Por volta de 1880, estes franceses estabelecem-se na zona rural pelotense e compõem com alemães a Colônia Santo Antônio – que fora criada por iniciativa privada de João Pinheiro. Esta colônia acaba tendo uma sorte melhor e apresenta uma produção agrícola diversificada: uvas e vinhos (pioneirismo na zona sul), alfafa, milho, feijão, suinocultura, cevada, cereais, verduras, e mais tarde a fruticultura.
Capão do Leão à época (final do século XIX) não registra nenhum tipo de empreendimento governamental ou privado para colonização francesa. Mas possui características que são atrativas para pessoas de qualquer etnia: uma estação ferroviária que garante o transporte dos produtos agrícolas, certo mercado de trabalho na indústria extrativista (pedra e lenha) e uma grande oferta de terrenos a preços razoáveis. O conjunto destes fatores estimulou que franceses da Colônia Santo Antônio, sobretudo os da 2a. geração (filhos) estabelecessem-se no Capão do Leão. O exemplo mais visível dessa micro-migração é a Família Carret. Num documento de 1884, constam os irmãos João Baptista e Vergilino Carret como moradores do Capão do Leão, além de um João Baptista Carret Sobrinho. Num outro de 1909, veremos a compra de “uma chácara no Capão do Leão” de Antônio Júlio de Godoy Moreira, realizada por João Carret. Outro caso é de Aristin Longchamp que saiu da Colônia Santo Antônio para trabalhar nas pedreiras leonenses, na mesma época. Mais exemplos são as famílias Gastal, Carpentier, Cornetet, Ribes, Argout e Arduin. No caso dos Gastal, verifica-se que antes de 1900, já plantavam no Capão do Leão pêssegos e eucaliptos, além de possuírem uma pedreira na região da Serra do Granito. A chácara do Sr. Eduardo Gastal correspondia à atual área do CTG Tropeiros do Sul e sua residência, datada de 1906, ainda encontra-se de pé no mesmo local.
É bem provável que outros descendentes de franceses da Colônia Santo Antônio tenham se fixado em Capão do Leão e permanecido até a década de 1950, quando uma nova crise na agricultura da região fez com que novamente migrassem. Um dado fundamental é observar que as plantações de uvas e o fabrico de vinhos, que também fora uma marca de nossa comunidade na 1a. metade do século XX, iniciara-se na região de Pelotas graças aos franceses, como comprovam várias fontes. Outro elemento que ratifica a presença deste povo em nossa localidade.

Imigração Francesa em Capão do Leão - Parte II


“El criollo empezó a comprender y admirar aquellos hombres inmutables que no se arredraban ante el trabajo y los sacrificios, que lo trataba como a um igual, que empezó a vestir como el, a comer como el, porque el basco se fue identificando com el gaucho”.
(Orlando Arbiza)

A boina utilizada por muitos tradicionalistas atualmente é considerada alienígena aos nossos costumes pelo MTG, que a identifica como peça estranha à indumentária gaúcha sul-rio-grandense. O que é deveras discutível, se levarmos em conta que ninguém questiona a propriedade da bombacha. À parte estas considerações, a boina chegou às terras ao norte do Rio Jaguarão provinda do Uruguay. Também não era própria daquele país, porém uma peça que se tornara popular devido a forte presença de imigrantes bascos da Espanha e França em “tierras orientales”.
Os bascos abundaram na região do Prata, principalmente no século XIX, onde foram atraídos pela possibilidade de fazer fortuna fácil. No período 1825-1842, particularmente, o Uruguay foi invadido por bascos provenientes da França, conforme estudos de Marianela Tafernaberry da Silva. Eles vieram para trabalhar com agricultura, pecuária e construção civil, mas sobretudo nos “saladeros” (charqueadas). Deve-se lembrar que a escravidão foi extinta no país vizinho já na década de 1820 (período da independência) e com isso tornou-se necessária mão-de-obra especializada na indústria do charque. Ora, os bascos na Europa conheciam o processo de salgação de carne como nenhum outro, sendo considerados especialistas na arte. Trouxeram, além disso, técnicas novas e dinamizaram os “saladeros” uruguaios. O que isso tem a ver conosco?
Desde a época da Revolução Farroupilha, várias levas de bascos franceses do Uruguay migraram para o Rio Grande do Sul, principalmente para as regiões charqueadoras. Klaus Becker afirma que a partir de 1843 um bom número de franceses chegou à Pelotas, naquele momento uma cidade semi-abandonada devido à guerra. Segundo Fernando Osório, eles teriam organizado, inclusive, a 1a. loja maçônica que se têm notícia na cidade. Estes “franceses”, em sua grande maioria, não vieram diretamente da França, mas do Uruguay sacudido por distúrbios políticos, e eram mormente bascos franceses, de acordo com Otto Guipúzcoa. Ainda na década de 1840, surgem as primeiras charqueadas em Pelotas baseadas no sistema platino (mão-de-obra livre) e que importam “carneadores e peões bascos franceses” do Uruguay. Essa migração não cessará até pelo menos a década de 1880, quando a pecuária gaúcha estará dando sinais de clara estagnação.
Capão do Leão fazia parte de Pelotas e indissociavelmente esteve implicado neste processo. O que prova isto são alguns sobrenomes bascos que se lêem em documentos do final do século XIX e que remetem à nossa localidade: Eztia, Vantorindaguy, Berry, Behocaray, Gardey, Salaberry, Ecosteguy, Etchepary, Etchegaray, etc. É provável que outros tenham passado por aqui, principalmente no Pavão que foi área de charqueada.
O mais notório basco francês de nossa localidade, a que temos notícia, fora João Vantorindaguy, “comissário de tropeadas”, também conhecido como João Ruivo. Sua ocupação consistia comprar lotes de gado bovino para charqueadores, observando “no olho” características como: qualidade do animal, quantidade de gordura por boi, propabilidade do uso de couro e chifre, entre outros. Negociava levando gado dos arredores até à Tablada, em Pelotas.

Imigração Francesa em Capão do Leão - Parte I



“Da época dos franceses, meu pai dizia, que quem pegava mesmo no batente era o pêlo-duro”.
(De um septuagenário leonense)

Inscrita no imaginário da população, a presença de imigrantes franceses em Capão do Leão merece ser analisada devidamente. Atribui-se a estada da Compagnie Française du Port du Rio Grande do Sul, entre 1909 e 1914, na exploração de pedras para as obras dos Molhes da Barra do Porto de Rio Grande, como um fator que explicaria e comprovaria a influência deste povo em terras leonenses. Isso seria perceptível em prédios e construções. Todavia, verificam-se prédios que possuem características francesas que são anteriores a 1909. Dado isto, é necessário compreender que houve franceses em Capão do Leão e que há descendentes seus que aqui ainda residem, porém não são originários da dita companhia. Possivelmente teremos imigrantes franceses em Capão do Leão que se fixaram entre 1830 e 1950 provenientes de três raízes: do Uruguay, principalmente bascos franceses; da Colônia Santo Antônio, em Pelotas; e indivíduos frutos da migração espontânea. Cabe, entretanto, observar, antes de qualquer coisa a presença da Compagnie Française em nosso recanto.
A Compagnie Française, em suma, fora um consórcio internacional especialmente criado para as obras dos Molhes, cujo capital era majoritariamente francês, porém administrado pelos norte-americanos Lawrence Corthel (engenheiro) e Percival Farquhar (investidor). Corthel já era famoso em obras de engenharia, pois participara da fixação da barra do Rio Mississipi nos E.U.A. Farquhar possuía vários negócios no Brasil, dentre eles a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, no norte do País. A companhia ainda contava com m corpo técnico formado por engenheiros franceses e belgas, além de burocratas. Em Capão do Leão, a companhia esteve representada pelo Dr. Claude Petitalot (francês), embora a direção dos trabalhos de extração de pedra estivesse a cargo do engenheiro brasileiro Edmundo Castro Lopes. O local escolhido para a atividade mineradora foi o Cerro das Pombas (hoje Cerro do Estado) – zona que, na época, era propriedade da Família Gastal. No entanto, era deserta, sem vias de comunicação. Dizia-se até que bem pouco tempo antes da chegada da companhia, o Cerro das Pombas foi refúgio de indígenas selvagens.
Os trabalhadores, como já apontado em outro artigo, não eram franceses necessariamente, porém brasileiros e imigrantes diversos absorvidos pela oferta abundante de emprego. Não há registros da permanência de engenheiros franceses ou belgas na localidade, após o final das obras dos Molhes da Barra. Esse pessoal estava habituado a trabalhar em vários lugares do mundo, em grandes empreendimentos de engenharia e é pouco provável que se fixasse em locais de suas empresas.
Houve ainda uma empresa estrangeira no Capão do Leão: a belga Compagnie Auxiliaire de Chemins de Fer du Brésil – responsável pela construção da ferrovia destinada a carregar as pedras até o Porto de Rio Grande, que descia do Cerro das Pombas até a sua junção à ferrovia Rio Grande-Cacequi, na altura da Vila Teodósio. Sua permanência fora curta – somente um ano (1910) – tempo necessário para concluir a obra. Com aço da empresa norte-americana S & M, os trilhos deveriam ir, conforme desejo da Compagnie du Port, diretamente até Rio Grande, sem juntar-se à antiga estrada de ferro Rio Grande-Cacequi. Entretanto, o Governo do Estado, na época, avisara às duas companhias que se assim acontecesse, esta « via alternativa » sofreria com impostos mais altos, encarecendo o custo operacional do transporte. De fato, optou-se por utilizar então um caminho já existente : a ferrovia Rio Grande-Cacequi. Contudo, chegou a iniciar-se uma ponte ferroviária sobre o Arroio Padre Doutor, a qual, citam os antigos, ainda se vêem as pilastras às margens, não muito longe da zona urbana.
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