Por Fernando Osório
"Português de origem, aportou ao Rio Grande do Sul em 1805, estabelecendo-se nessa então vila; pouco depois domiciliou-se no incipiente - povinho - de S. Francisco de Paula (nota nossa: Pelotas). Espírito culto, acima da média, empreendedor atilado, tornou-se charqueador, como sendo então, este, o ramo de trabalho de mais promissor resultado.
Em 1810-12 foi um dos mais conspícuos assessores dos 'maiorais da terra' que se interessavam pela fundação da freguesia; e no seguimento um dos maiores propugnadores do seu engrandecimento. Em 1820 hospedou o sábio francês Auguste de Saint-Hilaire, a quem forneceu preciosos apontamentos referentes ao período de 1805-19. O sábio Saint-Hilaire diz em sua obra que tinha-se admirado de encontrar o Sr. Chaves, em sua charqueada na Costa de Pelotas, falando bem o francês, e possuindo uma excelente biblioteca.
Em 1822 publicou as Memórias economo-políticas sobre a administração pública do Brazil - por um português - trabalho notável para a época; aí pregava ele sobre a abolição da escravatura, alvitrando meios de efetivá-la.
Em 1832, instalada a Vila de Pelotas (criada em 1830) foi eleito vereador, não tomando posse por ter sido também eleito deputado provincial. A primeira Câmara Municipal em que serviu como vereador era a da Vila do Rio Grande, indo ele de Pelotas, por via fluvial. Nas atas das sessões dessa Câmara encontram-se muitas propostas suas para melhoramentos locais, sendo alguns desses realizados, como a abertura do Canalete (hoje aterrado), a dragagem do porto, etc. 'Foi ele o primeiro que organizou uma estatística do comércio de importação e exportação da província, para mostrar aos poderes públicos o quanto ela era mal aquinhoada na distribuição de graças e favores liberalmente concedidos a outras que não tinham os mesmos elementos de vida'.
Foi o segundo votado (136 sufrágios) na lista de deputados à primeira assembleia provincial, que instalou-se em 20 de abril de 1835. Apesar de arredado da luta, mais inclinado para a feição liberal do movimento revolucionário, em 1836 sofreu perseguições dos 'legalistas' e receoso de novas violências retirou-se para Montevidéu, onde estabeleceu charqueada no 'Cerro', e pereceu afogado numa travessia da baía, em 1838, sendo seu corpo recolhido por pessoal de bordo da corveta brasileira - Dois de Julho - comandada por Tamandaré, e mais tarde transportados seus restos para Pelotas, onde repousam.
Da referida perseguição dos legalistas, que foi a ponto de assassinarem em sua própria charqueada o mestre de suas filhas, resultou talvez um sucesso de maiores consequências. Era Chaves muito amigo e companheiro de Bento Gonçalves. Contava o Cap. Manoel dos Santos Campello (que em 1836 casou-se com a filha Maria Izabel), que 'estando as forças dos farrapos comandados pelo Cel. Camillo no passo de Piratinim, uma manhã ali apareceu, saindo do mato, o Sr. Chaves que avisou estarem os legalistas em Pelotas, para onde marcharam elas logo, dando-se o célebre ataque do 'Passo dos Negros'.
Dentre os empreendimentos de maior alcance em que se envolveu, destaca-se o trabalho que, com Domingos José de Almeida, iniciou para preparar a abertura da Barra do S. Gonçalo, contratando com o engenheiro norte-americano Kreschmer os estudos preliminares, que foram cuidadosamente feitos; trabalhos de previsão, esse, de tão fecundo resultado, e que só quarenta e quatro anos mais tarde devia ser executado."