Quando os portugueses aportaram na Terra de Santa Cruz, procuraram erguer seus primeiros abrigos, os tejupares, choupanas feitas de galhos de árvores e folhas de palmeiras. Tejupar vem do tupi: teyy, povo; upad, sítio. A seguir, os primeiros construtores levantarem paredes de barro, misturando-o com madeira, pedras e cascalhos. O sistema de construção era rudimentar, simples e econômico.
Com o crescimento populacional e com a chegada de barcos, os construtores passaram a se preocupar com materiais mais sólidos, como, por exemplo, a pedra. A primeira notícia de uma construção de pedra no Brasil parece ter sido a da torre de Olinda, em Pernambuco, construída pelo seu donatário Duarte Coelho Pereira, que utilizou argamassa com cal extraída de conchas e sambaquis.
Quando chegou à Bahia em 1549, Tomé de Souza e seus homens trouxeram um código ou regimento mandado elaborar por D. João III, o qual incluía instruções relativas às edificações. O governador deveria mandar... fazer sua fortaleza e povoação grande e forte em lugar conveniente no sítio em que se encontrava o estabelecimento do donatário Francisco Pereira Coutinho, ou perto dele. Deveria também levantar, sem demora, uma estacada de madeira ou muro de barro e trazer consigo pedreiros, carpinteiros e oleiros para a fabricação de tijolos e telhas. No interior dessa estacada, construíram-se os primeiros edifícios de Salvador: uma casa de câmara provisória e um armazém de madeira e barro coberto com folhas de palmeira. Dois anos depois, as construções haviam sido substituídas por edifícios maiores de pedra, cobertos com telhas.
Depois de inspecionar a costa do Brasil em 1553, Tomé de Souza voltou à Bahia e escreveu a D. João III sobre "as honradas casas de pedra e cal" que tinha visto em São Vicente. Ao instalar o seu governo na Bahia, obrigou os proprietários rurais a construírem casas robustas (torres). A mais notável delas é a Casa da Torre, de Garcia d'Ávila, criador de gado, situada em Tatuapara, Bahia. A casa forma um retângulo de cinquenta metros de comprimento pelo frontispício sul que dá para o mar, disposta à volta de um pátio de pouco mais de 14 metros de frente circundado por arcadas. Parcialmente arruinada, nela podemos ver procedimentos construtivos usuais na Colônia, com a ênfase dada ao trabalho de cantaria nos cunhais, nos vãos, nos arcos e nos entablamentos. As paredes são feitas de alvenaria, destinadas a receber revestimento de argamassa. Para o assentamento das pedras, usava-se cal extraída de ostra. O ponto alto de seu conjunto é a capela de forma hexagonal, com paredes e abóbadas revestidas de tijolo e a presença de arestas. A residência de Garcia lembra, por sua robustez, as congêneres do norte de Portugal, particularmente da região do Minho e Douro donde, igualmente, são designadas por torres. Inicialmente ele a batizou de São Pedro de Rates, provavelmente em honra de Tomé de Sousa, cujo pai era ligado a Rates, localidade perto de Braga, ao norte de Portugal. Dessa região vieram tradições de arquitetura doméstica que predominavam no período colonial, em Minas e interior, assim como no litoral.
Fonte: BATTISTONI FILHO, Duílio. Pequena história das artes no Brasil. Campinas: Átomo, 2020, pág. 12-13.