Escrevem, em 5 do corrente, de Itapetininga á Provincia de S. Paulo:
<<Aproveito a occasião para comunicar-lhe um facto horroroso que se deu hontem n'esta cidade: hontem, ás 7 horas da manhã, o fazendeiro Procopio de Mattos juntamente com um capanga de nome Salvador Romano vieram de Botucatú a esta cidade com o fim de levarem uma escrava de nome Francisca, que estava manutenida em sua liberdade, e encontrando a mesma preta na casa de Pedro Furriel, arrastaram-n'a, passando pelas ruas mais conccorridas da cidade e castigando-a barbaramente.
<<O povo indignou-se e foi no encalço dos mesmos, fazendo-lhes notar que não podiam levar a escrava que estava manutenida em sua liberdade e elles a isto respondiam arrancando pelas garruchas e dizendo que aquelle que se approximasse morreria; foi tal o tumulto, que a força publica foi obrigada a intervir afim de evitar algum conflicto e manter a força moral da autoridade judiciaria.
<<Procopio de Mattos a nada quiz attender, resistindo sempre, o que deu lugar a que o subdelegado Antonio Pereira Mestre lhe désse ordem de prisão, e então Procopio resistindo mandou que seu camarada fizesse fogo sobre os soldados; cumprindo este a ordem dada, matou o soldado de nome Affonso evadindo-se em seguida, sendo preso unicamente Procopio, que continuava a ameaçar a força com a garrucha engatilhada.
<<Ao entrar o preso na cidade quiz o povo esquartejal-o, gritando todos em altas vozes - que não estavam em Botucatú - ; n'esta occasião compareceu o dr. juiz municipal e aconselhou ao povo que confiasse na justiça e que se mostrassem dignos filhos de Itapetininga; acalmando-se os animos, foi o preso recolhido á cadêa."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 20 de Março de 1885, pág. 01, col. 03