"O carnaval de 1884
Em o ultimo dia, como tem sido costume entre nós e em outros muitos centros populosos onde o carnaval é animadamente festejado, foram levados a effeito os passeios de gala.
Á vida de interesse, a população aguardava que as sociedades apparecessem, quando a Esmeralda surgio dos lados do arsenal de guerra, ao mesmo tempo que os Venezianos encetavam o passeio do extremo opposto.
Rompia o prestito esmeraldino, depois da banda de musica, um esquadrão de lanceiros, entrajando a blusa dos revolucionarios rio-grandenses de 1835 e trazendo nas lanças o signal farropilha.
Era a guarda de honra de dois personagens, que montavam soberbos cavallos e que desde logo prenderam todas as attenções - Bento Gonçalves, o heroico chefe do glorioso decennio da revolução, e seu audaz companheiro, o legendario Giuseppe Garibaldi.
Causou o maior enthusiasmo a apparição dos dois grandiosos vultos.
Seguio-se depois o carro triumphal da rainha da Esmeralda - trabalho bellamente executado.
No cimo, em grande altura, via-se a gentil rainha em rico carro de azul e ouro, tirado por dois enormes leões em meio da espuma das ondas.
Representava um quadro mythologico - Cybele puxada pelas suas féras predilectas.
Este carro foi geralmente admirado.
Outros carros de phantasia destacaram-se no numeroso prestito:
Os das jardineiras e jardineiros, replectos de galantes creanças caprichosamente vestidas; o da Agricultura, no qual elevava-se a graciosa figura de elegante joven; vendo-se sobre o solo, agarrado á rabiça do arado, o typo de animado agricultor; e finalmente o do maestro allemão em suas variações de contra-baixo sobre a marcha A sogra (musica de Wagner) e a cavatina (de Verdi) O sogro.
De um a outro carro triumphal seguiam innumeros carros com personagens vestidos variadamente - moças e moços, todos preparados com elegancia e disputando entre si a attenção do publico.
Bandas de musica, cavalleiros, pagens, etc., completavam o pensamento que presidio á realisação da passeiata dos Esmeraldinos.
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Nos Venezianos rompia a marcha o esquadrão de cavalleiros do bando carnavalesco, luzidamente vestidos a caracter.
Logo após, cavalgando um pequirra levado á reiata, via-se uma creança em trajes de fidalgo de antigas éras - abrindo caminho ao carro triumphal da esbelta rainha dos Venezianos, primorosamente vestida e adornada.
Este carro, formado de grandes palmas verdes e douradas, accusando o mais caprichoso gosto na execução, era guiado por um mimoso e pequenino pagem, que também cuidava das interessantes damas de honor da sua soberana.
Outro carro de luxo era o das serpentes, cujas cabeças fechavam-se em cupula como para resguardar a esplendida indiana que ostenta tão peregrina formosura.
Em baixo, o arrogante mouro tinha um olhar de desdem para a multidão.
Tambem conquistou apreço o lindo carro em que movia-se, deslumbrante de luz, a estrella que illuminava o prestito; porem mais admiravel era o carro dos cavallos marinhos, conduzindo o sympathico personagem que os guiava soberanamente.
Nenhum o excedeu em gosto e riqueza.
Nos carros particulares, em grande numero, faziam-se admirar em bellissimos trajes - fadas e feiticeiras, pierrots e cavaleiros da idade média, venezianas e pastoras, astronomos e dominós, etc., etc. - as mais gentis jovens e os socios enthusiastas do club.
Personagens a cavallo, pagens, bugres e vários outros typos tornavam completo o passeio de gala dos Venezianos.
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Por toda a parte os clubs receberam applausos, e a rua dos Andradas, nos repetidos trajectos, todos os moradores, notadamente as faminas, os recebiam por entre flores e ao estrugir de milhares de estalos fulminantes.
Á noite, o passeio de Venezianos e Esmeraldinos esteve imponente, provocando continuas saudações do povo que por toda a parte se apinhava.
Todas essas demonstrações de sympathia, tão ruidosas quão espontaneas, foram os triumphos colhidos pelos distinctos e esforçados membros de ambas as associações carnavalescas.
Eis como nos foi dado descrever o carnaval de 1884 em Porto Alegre."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 28 de Fevereiro de 1884, pág. 01, col. 02-03
"Uruguayana
(...)
- A camara municipal creou um imposto inteiramente original - o imposto carnavalesco!
Cada pessoa que quizesse sahir á rua, em trajes proprios das folias de carnaval, teria de pagar 7$500.
Se a moda pegasse, extinguir-se-hiam de certo os clubs carnavalescos.
E lá se ia a tradição..."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 20 de Março de 1884, pág. 02, col. 02-03
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