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Marie Fredriksson,
vocalista da banda Roxette |
Início da década de 90 e o
noturno da Escola Presidente Castelo Branco “bombava” a cada começo de ano
letivo. Devia ser 1991 ou 1992, aconteceu de uma aluna nova matricular-se no
ensino médio (na época conhecido ainda como 2º. Grau) e passar a frequentar uma
das turmas causando verdadeiro frisson nos rapazes. A moça loira, ligeiramente
mais velha que os demais, de cabelo curto à moda da cantora sueca Marie
Fredriksson da banda Roxette (que estava muita em voga na época), usando roupas
“descoladas” e “modernas”, dona de um sotaque que denunciava sua origem carioca
e cheia de gírias, foi uma novidade no meio de um grupo de alunos ainda
interioranos, que não estavam acostumados com aquela menina de ar tão
cosmopolita. Ao que parece, o pai, engenheiro de uma firma mineradora que
estava instalada no município, tinha se transferido para Capão do Leão com a
família para melhor atender suas obrigações profissionais.
O fato é que a moça além das
características que já havia citado era realmente muito bonita e procurava
sempre estar maquiada e perfumada. Não era afetada, agia com educação e
cortesia e logo fez amizade com vários colegas. Unindo beleza, simpatia e um
jeito um tanto quanto diferente para Capão do Leão, a moça arrancava suspiros
entre os rapazes por razões mais que óbvias.
Todavia, as pretensões dos mais
galanteadores logo diminuíram, pois a moça numa conversa informal se revelara
homossexual e havia comentado com as outras meninas que tinha uma namorada que
havia deixado no Rio de Janeiro e que, ocasionalmente, a visitava em datas
especiais. Apesar da revelação, a moça não foi discriminada pelos demais e as
coisas seguiram normalmente durante o decorrer do ano letivo.
Porém, nem todo mundo ficou
sabendo da novidade logo. Aquilo ficou meio que restrito ao grupo de sua turma
e alunos de outras turmas ainda olhavam a moça com certo interesse, mas sempre
com o devido respeito.
Pois bem, havia uma turma de 2º. ano
composta pelos mais atrasados em que um aluno gordinho que usava uma barbicha
era a “alegria da galera”. Divertido, extrovertido e sempre bem-humorado, o tal
aluno gordinho já havia se tornado uma espécie de mascote da turma por
protagonizar momentos hilários e inusitados dentro da sala de aula e nas festas
e bailes da juventude da época. Quem conviveu com ele diz que os causos
contados a seu respeito seguramente dariam um livro. O sujeito, além disso,
gostava bastante de um “goró” e era celebrizado por suas bebedeiras. Comentavam
que ele era o rei do Xixi de Anjo – espécie de coquetel que basicamente é
cachaça com leite condensado, mas que em cada canto tem o acréscimo de um ou
mais ingredientes diferentes.
O professor de Literatura
organizou então um seminário em que os seus alunos deveriam ler uma obra
previamente listada e apresentarem uma resenha entre os colegas. Juntou algumas
turmas e fez uma espécie de aulão para apresentarem os trabalhos. As
apresentações começaram e o gordinho do 2º. ano estava presente ao lado de um
colega que o acompanhara. A moça loira do início da história foi chamada pelo
professor para apresentar sua resenha e o gordinho se encantou com a sua beleza
e desenvoltura. Neste momento, muito curioso, o gordinho sussurrando pergunta
ao seu colega:
- Bah, tchê! Quem é aquela loira?
Que baita loiraça! Que encanto de mulher! Que avião!
- Olha Jeremias (nome fictício),
aquela é a Marina (outro nome fictício), não é daqui, chegou este ano, veio do
Rio, está na outra turma lá do fundo.
- Bah, me apresenta a loira,
então. Tenho que conhecer melhor ela!
- Jeremias, posso até te apresentar
a Marina, mas já te adianto que é fria, pois
ela gosta a mesma coisa que tu gostas!
- Tá, tá bom então tchê. Quebra
essa prá mim, Marquinhos (também um nome fictício).
Dias depois, Marquinhos
informalmente apresenta Jeremias a Marina e a moça educadamente o cumprimenta,
porém com certa reserva. Uma semana se passa, Marina indignada comentava com as
amigas que “aquele gordinho”, o Jeremias, a havia feito uma proposta invasiva,
convidando-a para beber com outros amigos num trêiler após a aula, sendo que
eles mal se conheciam. A história se espalhou e as amigas disseram a Marina que
não ligasse, pois o dito gordinho era famoso justamente pelas gafes que
cometia.
Marquinhos e outros colegas
ficaram também sabendo e na entrada da aula abordam o Jeremias querendo saber o
que deu na cabeça dele de ser tão “carudo” e abordar a moça sem se quer ter
intimidade suficiente com ela:
- Ô, Jeremias, como tu é
cara-de-pau, irmão! Eu mal te apresentei a moça e tu já chegasses dando no
meio. Eu não te falei que ela gosta da
mesma coisa que tu gosta?
- Pois é, tchê. Eu até achei que
dava para chegar, mas a “mina” não gostou muito. Sabe como é, eu até quis criar
uma intimidade, quis convidar ela para fazer a mesma coisa que eu gosto, mas
não deu muito certo.
- Jeremias, o que tu entendeste
quando eu te disse que “ela gosta a mesma coisa que tu gosta”?! Eu quis dizer
que a moça é lésbica, animal! Ela tem namorada que vem lá do Rio de vez em
quando para se encontrarem – arremedou Marquinhos.
- Lésbica?! Pqp!! Mas tão gata e
sapatona!
- Então, como tu foi ser tão
cara-de-pau de convidar a guria para beber? – indagou outro colega que
acompanhava a conversa.
Jeremias sem jeito conclui em sua
ingenuidade cômica:
- Hum, hum...bah, tchê...eu
pensei que quando o Marquinhos me disse que ela gostava da mesma coisa que eu
gosto...Hum, hum...eu pensei que era cachaça!
A gargalhada foi geral que dava
até para ouvir no outro prédio anexo da escola.