domingo, 29 de abril de 2018

O motim dos iates Belisario e Quibebe


"RIO GRANDE DO SUL. - Porto Alegre, 5 de março. - Lê-se no Imparcial:

Bastante penalisados lançamos mão da penna para annunciar aos nossos leitores uma catastrophe recem-vinda á nossa sciencia.

Os hiates Belisario e Quibebe sahidos do Rio Grande com destino á esta cidade, forão na Lagoa dos Patos o theatro, em o qual as equipagens compostas de negros, representarão dramas tragicos, com os seus entre-actos immoraes.

A tripulação do Belisario, que navegava nas aguas do Quibebe, sublevou-se, e deu a morte ao infeliz patrao que á seu bordo trazia mulher e filhos; durante tres dias, depois d'este acontecimento, um por um dos quatro malvados negros, feria á aquella no mais sagrado da honra feminil; e a estes barbaramente torturavão.

A' instancias da misera viuva demandarão o Rio S. Lourenço, e em uma das margens desembarcarão a mulher e filhos; forão ali prezos pelos moradores da casa onde ella se abrigou.

Os do hiate Quibebe á golpes de machado, dividirão o corpo do patrão, e assim lançarão-no ao mar. Mais sagazes, que os do Belisario, forão em arribada sobre a costa de Pelotas; abandonarão o hiate, e consta-nos que impunemente vagueão por aquellas paragens, sem conhecimento das autoridades.

Para que se não dê o caso, d'igual ferocidade, pedimos licença aos Illmos. Srs. d'assembléa provincial para lhes lembrar, o quanto é urgente na proxima sessão legislativa a provocação de uma lei, e penas severas, contra o abusivo costume de serem as embarcações da navegação interna guarnecidas somente por escravos."

Fonte: DIARIO DO RIO DO JANEIRO, 22 de março de 1847, p.01. c.04
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