Bailes á phantasia sabbado, domingo, segunda e terça de carnaval, no salão Polytheama, no Parthenon
Convidam-se os membros d'esta sociedade para os bailes d'este anno, acceitando-se socios até á ultima hora.
Na casa ha bonitos costumes á phantasia, preços modicos e os velhos e novos socios podem entender-se com o director do salão em qualquer exigencia que tiverem.
É expressamente prohibido entrar armado no salão de baile. De resto estão tomadas todas as medidas para se manter a ordem e a decencia - o que não quer dizer que a rapaziada não possa divertir-se; pelo contrario, poderá rir, cantar, pullar, etc., etc., e tal.
As festas começarão ás 10 horas em ponto.
Haverá bonds para a cidade depois dos bailes, até 3."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 01 de Fevereiro de 1894, pág. 03, col. 04
"Hoje á noite dão bailes á phantasia as sociedades Germania e Atiradores Allemães.
A sociedade Diamantina tambem dá bailes á phantasia n'estes quatro dias, no salão Polytheama, no Parthenon.
Amanhã á tarde faz um passeio pela rua da Floresta e outras d'aquelles lados e á noite effectua saráo dançante a sociedade carnavalesca Pyndahiba.
E é no que se cifram este anno as solemnidades do carnaval, outr'ora tão pomposas e brilhantes entre nós."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 03 de Fevereiro de 1893, pág. 02, col. 04
"Houve grande jogo de entrudo nos tres dias de Carnaval.
Hontem esse divertimento assumiu enormes proporções, tornando-se impossivel a qualquer pessoa sair á rua sem levar um banho litteral.
Milhares de limões de cheiro foram jogados, centenares de baldes e jarros d'agua foram derramados sobre os transeuntes.
Uma cousa notou-se durante o folguedo; não appareceu uma unica bisnaga.
Está, pois, abolido o perfumoso e fino esguicho.
Grupos de mascaras ponta-abaixo e ponta-acima e pouco acciados passearam a sua indigencia de espírito, o seu descommunal desfructe sob o aguaceiro insistente que caiu durante a tarde.
Ante-hontem a sociedade Pyndahyba fez o seu annunciado passeio, apresentando algumas phantasias e varias criticas felizes."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 07 de Fevereiro de 1894, pág. 02, col. 04
"Tiras em branco
O alegre Momo d'esta vez não pôde rir ás soltas.
Ha tanto lucto por ahi, tantas nevoas na alma popular, tantos cuidados no coração, que os tres dias de folguedo passaram sem as expansões loucas do costume, sob aguaceiros e nuvens.
Talvez por isso o velho divo apalhaçado andou simplesmente aguado. Agua em penca.
Baldes, jarros, canecos, seringas, despejavam agua limpa e agua suja no transeunte desprecavido.
Limões em abundancia, ou antes pedras de cêra, amassavam um pobre christo, pisavam-n'o sem dó nem piedade, furavam guardas-chuva e faziam da cabeça onde batiam um galhinheiro de gallos.
Era um horror!
Desbisnagado o carnaval, vieram os limões, amanhã virão as pedras e depois o diluvio.
E ai do pobre que apanha hoje, em dia feriado, uma pedrada. Depois que as pharmacias resolveram, em congresoo, que n'esses dias apenas uma fique de sentinella aos enfermos, o necessitado que não lê jornaes, não saberá onde ir buscar um vidro de arnica para curar a brecha que um limão de cheiro lhe tenha porventura aberto na cabeça. E o pobre doente que necessitar de medicação urgente terá a resignação de esperar que a pessoa que lhe foi a botica, caminhe muitas vezes mais de uma legua para trazer-lhe remedio.
Emquanto isso a magra sem duvida não perderá seu tempo, porque não guarda domingos e dias feriados no seu luctuoso officio.
E, a este novo progresso de humanitarismo fin de siècle deveria a medicina corresponder com a resolução de que só pharmacia aquelles que gosaram perfeita saúde, podendo abrir uma restricção para os enfermos que residirem mais ou menos proximos da dita que estiver de dia á praça.
Do mesmo modo a administração do cemiterio poderá declarar que não dá hospedagem aos domingos e dias feriados.
Si a moda pega nada mais justo e humano que as populações soffredoras se constituam em meeting para pedir a abolição dos domingos, dias feriados e... dos maragatos também.
Mas, voltando á vacca fria, o galhofeiro Momo veiu achar os seus dominios da palhaçada e do ridiculo litteralmente tomados pela maragatagem burlesca que, no meio d'esta tragedia de sangue, não deixa de ser a nota comica, a provocar o riso na physionomia feixada do mais intransigente casmurro.
Já havia carnaval, porque havia maragatos cruzando ruas e fazendo espírito por grosso e á varejo.
Em vez do - você me conhece? - do mascarado tolo, os domínios maragatos chocalhavam os guizos de mil façanhas já decantadas e soltavam aos quatro ventos seus gaudios pestíferos, seus sonhos palermas, architectados sobre a preocupação da ruína da patria, sobre a esperança gasta, perdida, de porvindouras épochas de estadio imperialista e de corrupção sardanapalesca.
O velho Momo veiu achar phantasiada á patriota e á exercito libertador toda uma escoria assalariada para o morticinio e o saque; veiu encontrar, aninhada nos cofres da fazenda nacional e estadoal, uma chusma de servidores da revolução, servindo a Republica por amor dos vencimentos; veiu ver a cruz vermelha rezando pela victoria da revolução; ouviu essa alluvião de boatos, de mentiras embusteiras, de cochichos bestiaes; sondou a lepra maragatica espalhada urbi et orbi e apanhando de um golpe de vista, toda essa cousa - careteou á gosto e riu-se perdidamente.
E rindo-se, mandou-se rolar, fazendo piruetas e jogralidades e dizendo com os seus grandes botões de bolaxa:
- Este anno faço ferias; ficam os maragatos para carnaval.
E foi-se."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 08 de Fevereiro de 1894, pág. 02, col. 03