A imprensa indígena tem andado cheia de casos de phantasmas e almas do outro-mundo, de tal modo espantosos que a gente, ao lel-os, fica de cabellos em pé... na cabeça.
Não será, pois, de mais, sobretudo n'um sabbado, de edição especial, que eu para aqui traga a narração resumida d'um assombramento, este, porém, de nova especie.
Eis a veridica historia:
No Rio, ha pouco, o cidadão Alexandre Thompson Viégas, empregado do Moinho Inglez e morador á rua Gonzaga Bastos n. 36 (Rio Comprido), queixou-se á polícia de que em sua casa, ás noites, apparecia uma cousa estupenda - nada mais nem menos do que uma mula sem cabeça!
Era o Sr. Viégas ir, de noite, para o Moinho, e a mula apparecer, assombrando as mulheres.
A policia deu providencias e esperou o bicho em momento opportuno.
Não havia duvida: o monstro lá estava na casa do Sr. Viégas, hediondamente acocorado a um canto escuro.
Depois d'um sarilho de mil diabos, foi a mula sem cabeça segura pelos policiaes - que, pasmados, n'ella reconheceram o proprio cidadão Alexandre Thompson Viégas, com todas as letras e características.
Agora o fecho da historia:
A autoridade perguntou á supposta mula porque assim tanto alarmára o mulherio que tinha em casa e á policia, encommodando a com uma queixa tão original.
Alexandre Viégas explicou: ganhava pouco e, depois que a sogra e as cunhadas foram para a sua casa, a família tornára-se-lhe enorme, de sorte que os seus recursos não chegavam para nada. Nesta contingencia, resolvera assombrar a casa, para vêr se a sua sogra se mudaria com as suas cunhadas.
E ahi têm os senhores a explicação clara d'um dos tantos assombramentos que fazem arripiar couro e cabello...
VITÚ."
Fonte: A OPINIÃO PÚBLICA (RS), 27 de Junho de 1908, pág. 02, col. 02