" O início do século 20 foi positivo para os pecuaristas e os charqueadores do extremo sul. Em 1906, eles tinham ainda mais razões para comemorar. Nesse ano, em 5 de fevereiro, a união de cinco grandes homens em torno de um ideal criou uma instituição de crédito capaz de fazer nascer a confiança até nos colonos, que sempre depositaram suas economias debaixo do colchão. Nessa data, o coronel Alberto Rosa, Plotino Amaro Duarte, Eduardo Sequeira, Barão de Arroio Grande e Joaquim Assumpção declararam oficialmente fundado o Banco Pelotense.
No início de sua nem tão longa caminhada, o banco tinha como acionistas cidadãos da pequena classe média urbana, além de comerciantes da Zona Sul, de origem alemã e italiana. Os historiadores da época eram ferinos quando se referiam aos produtos que financiavam o Pelotense: 'sempre representou a pecuária anêmica e seu subproduto, o charque - de má qualidade, com preços e mercado incertos - mas insistindo na construção de magníficas sedes nas cidades fronteiriças; mantinha escritórios nas áreas coloniais, onde se produzia, operando com lucratividade e pouco luxo.'
Mas os anos foram passando e o charque foi decaindo nas cotações do Estado, do país e do mundo. Em 1913, os uruguaios passam a exportar carne frigorificada em lugar do charque, o que fez com que os mercados da Europa modificassem seu padrão de qualidade. Em função disso, quatro anos mais tarde a instituição, forçada por Borges de Medeiros, investe dois mil contos de réis na Companhia Frigorífica do Rio Grande, que em seguida abre falência. Essa situação foi o estopim para a dependência do banco em relação ao Estado.
Chegava 1920 e com ele o final da guerra. A desinflação que imperava nesse período começou a trazer receios à direção do banco, que multiplicava filiais e aplicações, se aproveitando da ciranda financeira. O Pelotense não exigia as garantias necessárias para tais negócios, sempre jogando no escuro.
Foi então que - já naquela época - o governo federal decidiu: as contas correntes devedoras deveriam ser convertidas em notas provisórias no exíguo período de 30 dias. Pânico. Na primeira semana de janeiro o Pelotense teve que tirar do nada 37 mil contos de réis. Dizia-se que a crise foi debelada, mas apenas em parte, pela mão forte do coronel Alberto Rosa. Porém, os correntistas foram mordidos pela desconfiança. Além disso, mais um baque nas contas do banco: os grandes fazendeiros e industriais do charque, estrangulados com o desequilíbrio econômico resultante da Primeira Guerra Mundial, não puderam saldar suas dívidas antes dos prazos determinados. Resultado: o Pelotense passou a ser o mais novo pecuarista da região, com a posse de mais de 100 mil reses, que havia financiado a 120 mil-réis ou 150 mil-réis. Mas o valor delas caíra agora para 60 mil-réis ou 70 mil-réis!
O ex-governador Ildo Meneghetti era um fervoroso admirador do Pelotense: 'A importância maior estava na capacidade do banco em atuar no planejamento, na viabilidade econômica e na execução de todas as iniciativas, agrícolas e industriais. (...) cabia ao Banco Pelotense a ação completa de todas as operações. Era essencialmente um banco agrícola e seu trabalho altamente meritório se processava com exatidão, por ser um instrumento efetivo de desenvolvimento'.
Em uma trágica manhã de 5 de janeiro de 1931, o Pelotense fechava suas portas, em processo de liquidação, com 70 mil cadernetas de depositantes. Cinco anos antes, o banco contava com 32 filiais, 26 no Rio Grande do Sul e as outras espalhadas por Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro, na época Capital Federal.
Foram desastrosas as consequências do fechamento do Banco Pelotense. Na cidade se dizia que os colonos, que antes depositavam seu dinheiro nos seguros cofres da instituição, passaram a reter seu dinheiro novamente embaixo dos colchões. E em muitos incêndios foram queimadas grandes quantidades de papel-moeda." (Lucia Porto)