Extrahimos:
Ovando, coronel das forças de Entre-Rios, sendo prisioneiro em uma batalha contras as forças do general Lopez, governador de Santa Fé, foi levado á presença d'este em occasião que almoçava.
Lopez, que, além das condições de guerra, era inimigo pessoal de Ovando, soube recebel-o cortezmente, convidando-o a partilhar da sua mesa. Ovando aceitou com essa naturalidade e franqueza como se viesse a convite de um amigo.
Durante o almoço conversaram tranquilamente. No correr da convivencia disse Lopez:
- Coronel, se eu tivesse cahido em suas mãos, como cahistes agora nas minhas, o que farias?
- Convidava-o para almoçar, como o fez v. ex. comigo.
- E depois?
- Mandava-o fuzilar.
- Estimo muito que pense como eu: em acabando de almoçar será fuzilado.
- Se não quer demorar muito, póde ser já.
- Não, acabe de almoçar descansado; não tenha muita pressa.
Ovando continuou a almoçar placidamente, e, acabando, disse:
- Julgo ser tempo.
- Agradeço-lhe o não haver esperado que eu o lembrasse, respondeu Lopez.
E chamando seu camarada:
- O piquete está prompto?
- Sim, meu general.
Lopez voltando para Ovando:
- Adeus, coronel...
- Adeus, não: até á vista, porque não se vive muito tempo quando se fazem guerras como as nossas.
E comprimentando Lopez sahio.
Cinco minutos depois uma descarga annunciava que Ovando era cadaver."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 20 de Março de 1885, pág. 02, col. 01