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domingo, 12 de maio de 2019

Comemorações de Carnaval no Rio Grande do Sul - 1885


"Carnaval

Amanhan começam os folguedos carnavalescos.

As sociedades Esmeralda e Germania estão preparadas para bonitos passeios burlescos e de gala.

Não conhecemos os programmas."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 14 de Fevereiro de 1885, pág. 02, col. 04

"AS FESTAS DO CARNAVAL

Ante-hontem, os folguedos carnavalescos não despertaram grande enthusiasmo.

A sociedade Germania, que em outros annos tem apresentado prestitos esplendidos e luxuosos, nada fez este anno que provocasse admiração.

Em união com as demais sociedades allemãs, realisou seu passeio conforme constava do programma distribuido.

O prestito era numeroso, sobresahindo os tres carros triumphantes: o da Germania, representado por uma formosa joven, que ostentava as suas graças naturaes; o do Brazil, representado por um grupo de bugres; e o do principe e da princeza do carnaval.

Entre as criticas, destacavam-se: o seculo XVIII, a diligencia; o seculo XIX, a locomotiva; o seculo XX, o balão.

O deus Baccho e as vivandeiras já foram apresentados pelo club Germania, ha quatro annos, de um modo mais completo.

As criticas sobre a Hydraulica, imprensa, transporte de immigrantes, reporters e curandeiros peccavam pela falta de espírito.

A ultima, principalmente, foi apresentada de maneira a provocar censuras.

O grupo de gaúchos... um perfeito desastre!

Aquelles cavallarianos não nos pertencem...

O poço d. Isabel foi bem representado, e alguns cavalleiros destacavam-se pelos bonitos uniformes.

✤✤✤✤✤

Hontem, a chuva privou a população de apreciar o bello passeio preparado pela sociedade Esmeralda.

Todos os socios já estavam phantasiados e os carros de triumpho em ordem de seguir, quando uma chuva torrencial pôz tudo em debandada, causando grandes estragos em trajes, pintura, etc.

Foi geral o pezar, porque os Esmeraldinos promettiam esplendida festa.

O publico, porém, teve occasião de vêr os magnificos carros triumphantes, que teriam no prestito a seguinte ordem:

1o. - Carro da Rainha. Uma grande rosa, boiando á tôna do mar, entre flocos de espuma, e tirada por quatro cysnes, guiados por cupidos. Do centro da flôr se ergueria a bella rainha, rodeada de numerosa côrte.

Este carro estava a cargo do sr. Alfredo Chaves.

2o. - Tenda de bohemias, ricamente adornada e tendo á frente dois enormes dragões, guardando a figura de Minerva.

A bohemia seria representada por uma interessante menina, acompanhada por varios grupos, dispostos com muito gosto.

A execução foi do sr. Leopoldo Masson.

3o. - Carro da America. Ao centro, em throno de ouro, uma galante joven representaria a America, tendo ao lado os bustos de Colombo e Americo Vespucio.

Outras jovens representariam o Brazil e a Industria.

Dois bugres, em guarda á cruz de Malta, completariam a allegoria, que, como se vê, despertaria o maior enthusiasmo.

Todo o trabalho do carro da America esteve confiado ao sr. Araujo Guerra.

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Nos carros de critica figurariam a Kermesse e a Hydraulica.

A questão dos hydrometros e do pinga-pinga seria tratada com espirito: o hydrometro, que é caro, dá um peixe grande; o pinga-pinga mais barato, fornece apenas peixes pequenos.

Em carros de gala apresentar-se-hiam phantasiadas trinta e quatro pessoas entre senhoras e homens.

Um luzido esquadrão de 48 lanceiros tomaria parte no prestito, dando grande brilhantismo á festa.

Por esta ligeira descripção reconhecerá o público que a Esmeralda realizaria um passeio deslumbrante em a tarde de hontem.

✤✤✤✤✤

Á noite a sociedade levou a effeito o baile com que encerrou os folguedos ao deus Momo.

Quando os carros, em grande numero, desfilaram pela rua dos Andradas, em direcção á Soirée Porto Alegrense, de todas as janellas choveram flores e estalos fulminantes sobre os Esmeraldinos.

O baile esteve esplendido, dançando extraordinario numero de pares phantasiados.

✤✤✤✤✤

Durante as noites de festa, quasi todas as casas da rua dos Andradas tinham as fachadas illuminadas a gaz carbonico.

A bisnaga e o estalo tiveram, como sempre, o seu reinado nos tres dias do carnaval.

As festas terminaram sem incidentes desagradaveis."

Fonte:  A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 18 de Fevereiro de 1885, pág. 02, col. 02-03

Comemorações de Carnaval no Rio Grande do Sul - 1884


"O carnaval de 1884

Em o ultimo dia, como tem sido costume entre nós e em outros muitos centros populosos onde o carnaval é animadamente festejado, foram levados a effeito os passeios de gala.

Á vida de interesse, a população aguardava que as sociedades apparecessem, quando a Esmeralda surgio dos lados do arsenal de guerra, ao mesmo tempo que os Venezianos encetavam o passeio do extremo opposto.

Rompia o prestito esmeraldino, depois da banda de musica, um esquadrão de lanceiros, entrajando a blusa dos revolucionarios rio-grandenses de 1835 e trazendo nas lanças o signal farropilha.

Era a guarda de honra de dois personagens, que montavam soberbos cavallos e que desde logo prenderam todas as attenções - Bento Gonçalves, o heroico chefe do glorioso decennio da revolução, e seu audaz companheiro, o legendario Giuseppe Garibaldi.

Causou o maior enthusiasmo a apparição dos dois grandiosos vultos.

Seguio-se depois o carro triumphal da rainha da Esmeralda - trabalho bellamente executado.

No cimo, em grande altura, via-se a gentil rainha em rico carro de azul e ouro, tirado por dois enormes leões em meio da espuma das ondas.

Representava um quadro mythologico - Cybele puxada pelas suas féras predilectas.

Este carro foi geralmente admirado.

Outros carros de phantasia destacaram-se no numeroso prestito:

Os das jardineiras e jardineiros, replectos de galantes creanças caprichosamente vestidas; o da Agricultura,  no qual elevava-se a graciosa figura de elegante joven; vendo-se sobre o solo, agarrado á rabiça do arado, o typo de animado agricultor; e finalmente o do maestro allemão em suas variações de contra-baixo sobre a marcha A sogra (musica de Wagner) e a cavatina (de Verdi) O sogro.

De um a outro carro triumphal seguiam innumeros carros com personagens vestidos variadamente - moças e moços, todos preparados com elegancia e disputando entre si a attenção do publico.

Bandas de musica, cavalleiros, pagens, etc., completavam o pensamento que presidio á realisação da passeiata dos Esmeraldinos.

✤✤✤✤✤

Nos Venezianos rompia a marcha o esquadrão de cavalleiros do bando carnavalesco, luzidamente vestidos a caracter.

Logo após, cavalgando um pequirra levado á reiata, via-se uma creança em trajes de fidalgo de antigas éras - abrindo caminho ao carro triumphal da esbelta rainha dos Venezianos, primorosamente vestida e adornada.

Este carro, formado de grandes palmas verdes e douradas, accusando o mais caprichoso gosto na execução, era guiado por um mimoso e pequenino pagem, que também cuidava das interessantes damas de honor da sua soberana.

Outro carro de luxo era o das serpentes, cujas cabeças fechavam-se em cupula como para resguardar a esplendida indiana que ostenta tão peregrina formosura.

Em baixo, o arrogante mouro tinha um olhar de desdem para a multidão.

Tambem conquistou apreço o lindo carro em que movia-se, deslumbrante de luz, a estrella que illuminava o prestito; porem mais admiravel era o carro dos cavallos marinhos, conduzindo o sympathico personagem que os guiava soberanamente.

Nenhum o excedeu em gosto e riqueza.

Nos carros particulares, em grande numero, faziam-se admirar em bellissimos trajes - fadas e feiticeiras, pierrots e cavaleiros da idade média, venezianas e pastoras, astronomos e dominós, etc., etc. - as mais gentis jovens e os socios enthusiastas do club.

Personagens a cavallo, pagens, bugres e vários outros typos tornavam completo o passeio de gala dos Venezianos.

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Por toda a parte os clubs receberam applausos, e a rua dos Andradas, nos repetidos trajectos, todos os moradores, notadamente as faminas, os recebiam por entre flores e ao estrugir de milhares de estalos fulminantes.

Á noite, o passeio de Venezianos e Esmeraldinos esteve imponente, provocando continuas saudações do povo que por toda a parte se apinhava.

Todas essas demonstrações de sympathia, tão ruidosas quão espontaneas, foram os triumphos colhidos pelos distinctos e esforçados membros de ambas as associações carnavalescas.

Eis como nos foi dado descrever o carnaval de 1884 em Porto Alegre."

Fonte:  A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 28 de Fevereiro de 1884, pág. 01, col. 02-03

"Uruguayana

(...)

- A camara municipal creou um imposto inteiramente original - o imposto carnavalesco!

Cada pessoa que quizesse sahir á rua, em trajes proprios das folias de carnaval, teria de pagar 7$500.

Se a moda pegasse, extinguir-se-hiam de certo os clubs carnavalescos.

E lá se ia a tradição..."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 20 de Março de 1884, pág. 02, col. 02-03