"Conflicto na Cachoeira
A cidade da Cachoeira foi hontem theatro de graves acontecimentos.
Grupos armados penetraram á noite na cidade, e provocaram o mais sério conflicto, do qual sahiram gravemente feridos o cidadão Arthur Pinto e uma praça policial, e levemente os cidadãos Angelico Fontoura e Modesto Soares.
Arrombaram a typographia do Pharol, empastellaram todo o material e arrojaram-n'o á rua.
A população acha-se sobresaltada.
A força que ali existe é de todo insufficiente para restabelecer a ordem e garantir a sua permanência; a autoridade acha-se impotente para reprimir novos tumultos.
Estes successos eram previstos; si as autoridades houvessem sabido cumprir com energia o seu dever - requisitando força sufficiente para manutenção da ordem, si não fossem fracas, como são, esses successos teriam sido efficazmente prevenidos.
Recentemente, em dezembro do anno passado, deram-se na Cachoeira factos com o mesmo caracter de gravidade; grupos de desordeiros percorreram a cidade, provocando arruaças; a ordem foi grandemente perturbada.
Tudo isso ficou impune.
A auctoridade deixou de reprimir o impeto dos desordeiros - na occasião, e não prevenio futuras desordens.
A consequencia da inepcia e da fraqueza dos incumbidos de manter o imperio da lei é o que agora se está presenciando: - a população cachoeirense alarmada por attentados de toda a sorte.
A noticia do conflicto veio ao nosso conhecimento por este telegramma que hontem á hora adiantada da noute recebemos do nosso collega do Pharol:
<<Grupos armados na cidade. Feridos gravemente Arthur Pinto e um praça policial, levemente Angelico Fontoura e Modesto Soares. Pedimos providencias.>>
Hoje, ás 9 horas da manhã, recebemos do mesmo collega segundo telegramma assim concebido:
<<Hontem, á meia noite, um grande grupo de homens armados, á pé e a cavallo, arrombou typographia do Pharol e empastellou typos. Auctoridade desmoralisada e sem força. Providencias.>>
Pedimos as mais promptas e energicas providencias ao sr. presidente da provincia e ao sr. dr. chefe de policia, a cujo conhecimento já levámos hoje a notícia do attentado.
A força policial na Cachoeira é mais que muito insufficiente; urge que seja reforçada; e si o corpo policial não pode fornecer um contingente, - que o forneça a tropa de linha.
- Depois de escripta esta noticia, recebemos de um amigo nosso da Cachoeira mais este telegramma:
<<Fomos atacados por capangas, hontem, na praça, ás 9 horas da noite. Assassinos carregaram de espada e pistola. Ferido levemente Angelico. Repellimos a tiros. População indignada indigita Bento Fontoura mandante.>>
A respeito d'essa suspeita publica, cuja procedencia não podemos affirmar, apenas cumpre-nos adiantar o seguinte, que veio ao nosso conhecimento:
Ha poucos dias, em consequencia de haver o advogado Bento Fontoura injuriado o sr. major Gaspar Xavier, em um arrazoado de autos, um filho d'este - o sr. Angelico Fontoura - encontrando-se na rua publica com o sr. Bento Fontoura, tomou um desforço pessoal para vingar a affronta feita á honra do pai.
Mais uma vez pedimos ás auctoridades competentes toda a promptidão e energia que o caso exige."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 14 de Março de 1884, pág. 01, col. 03
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