Trecho extraído de: GLOBO RURAL. São Paulo, Editora Globo, agosto 1995, sem indicação de página na fonte consultada.
No pequeno município de Capão do Leão, perto de Pelotas, 250 quilômetros ao sul de Porto Alegre, Antônia Berchon des Essarts Sampaio, dona Antoninha, guarda não só o bonito prédio de vidraças enfeitadas com vidros coloridos de Murano, trazidos da Itália. Conserva também a atividade produtiva da fazenda, a criação de gado, assim como as lendas que cercam a Estância da Gruta e lhe dão, segundo ela, um clima de mistério e sedução. Empregados contam a dona Antoninha que vêem em certas noites a figura amargurada de Maria Pinto, antiga proprietária, a andar pela casa. No passado, ela pagou caro por interferir no romance entre seu filho e uma jovem escrava. Ao saber do namoro, Maria Pinto teria mandado espancar a moça, já grávida então. A jovem morreu, e seu namorado, inconformado, amarrou uma pedra aos pés e jogou-se no rio para morrer também. Vendida a terceiros, a propriedade coube por herança a dona Antônia e permaneceu fechada por 30 anos. Quando completou 18 anos, ela pediu ao avô licença para restaurar a casa. "Colei os móveis todos, matei os morcegos", conta ela, que se orgulha da casa construída em 1853, equipada com mobiliário que chegava da Europa e vinha até a estância por rio, o arroio Pavão, que se liga à Lagoa dos Patos.
Edmond Berchon des Essarts, francês de nascimento, um dos antepassados da família, foi responsável, em 1912, pela introdução da raça inglesa devon no Estado, juntamente com Joaquim Francisco de Assis Brasil, político e diplomata gaúcho. Hoje, Anna Luísa, filha de dona Antônia, formada em agronomia, administra a estância junto com o marido, Roberto Quinto di Camelli. Os tempos são outros. Antigamente, filhos de estancieiros abastados viviam na cidade e só iam à estância nas férias. "Hoje vivemos na estância porque há muito trabalho", diz Anna Luísa, preocupada em dotar a propriedade de tecnologia avançada, buscando aumentar a produtividade do rebanho bovino.
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