terça-feira, 15 de abril de 2008

Bairro Jardim América - Parte VI


Qualquer morador do bairro com cerca de trinta anos de residência no local repete a mesma coisa: “isso aqui tudo era mato de eucalipto”. Nunca entendi por completo esta afirmação, levando-se em conta que o bairro quando surgiu, teve todas as suas ruas e lotes abertos e desenhados por completo. Além do que, a área do Jardim América tinha sido uma fazenda no passado, isto é, região de campos e não de mato.
O fato é que desde o tempo da Várzea do Fragata a extração de lenha sempre fora uma atividade econômica importantíssima na região e que não cessou com a criação do Jardim América. Por isso, quando iniciou a venda de lotes, dado o fato de áreas inteiras ficarem desocupadas durante muitos anos, os próprios trabalhadores em madeira plantavam o eucalipto nestas. Em razão disto, ruas que foram abertas na década de 1950 simplesmente foram tomadas pelo mato com o decorrer dos anos. Não é de se admirar que até o 2º. mandato do prefeito Getúlio Victória (1993-1996) ainda se abriam (reabriam!) ruas no Jardim América.
A importância da extração de lenha residia num fator inquestionável: um grande mercado consumidor. Além da demanda da população, numa época em que não era popularizado o fogão a gás, acrescentava-se a enorme necessidade de lenha para restaurantes no centro de Pelotas e nas olarias nos arredores. O quadro favorável converteu o negócio da lenha, principalmente nas décadas de 1950 a 1970, numa “mina de dinheiro”. Por volta de 1965, por exemplo, eram poucas as áreas do bairro que estavam livres de bosques de eucalipto. A década de 1960, por sinal, foi um dos períodos mais intensos da exploração de lenha no bairro. Havia épocas em que chegava a se observar “engarrafamento” de carroças e bolquetes em direção ao Fragata
Com o aumento populacional que o bairro passou a ter a partir da década de 1980, o resultado foi um lento recrusceder na atividade. Muitas áreas foram sendo desmatadas devido às novas construções, bem como pântanos foram drenados, barrancos aplainados e zonas de “macega brava” deram espaço a quintais de chão batido. Mesmo assim, o negócio da lenha nunca deixou de constituir parte importante da economia local, sendo para algumas famílias a única fonte de renda, mesmo nos dias atuais.

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