sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

A luz misteriosa entre a ilha de Curupú e a ponta de Panaquatira

 



Phenomeno curioso

Sob a epigraphe supra, refere a Pacotilha, do Maranhão, edição de 1o. do mez passado:

"É numa corôa entre a ilha de Curupú e a ponta de Panaquatira, parte da ilha de S. Luiz que mais avança pelo mar a dentro. Dahi a imaginação ardente e sonhadora dos habitantes de tão risonhas paragens, extrae agora o aureo filão de uma lenda encantadora, de uma dessa lendas com que se fazem sonhar as almas simples e adormecer sorrindo, na doçura do extasi, as creanças curiosas.

Pessoa digna de toda a consideração observou e teve a gentilesa de trazer ao nosso conhecimento o seguinte e interessante phenomeno, a cuja contemplação fôra attraido a rogo de um seu vaqueiro, que por elle se maravilhara.

Eram 2 horas da madrugada da ultima sexta-feira, quando, logo ao chegar o nosso informante á margem do mar, viu desenrolar-se á sua vista o brilhante e extranho espectaculo de que tanto se falava por aquellas redondesas.

Um foco luminoso, vivissimo e de grande circumferencia formara-se bem no centro da corôa, entre a ponta e a ilha de Curupú.

De um dos lados desse fóco e formando uma linha horisontal de cerca de 30 metros, approximadamente, seguia-se um rastro de pontilhações luminosas, a modo de um cordão de estrellas.

Ao fim dessa linha, um outro fóco luminoso punha termo ao prolongamento do primeiro.

Disse-nos o nosso informante ser indescriptivel a bellesa de tal espectaculo, de quando em quando modificado por um brusco e ephemero esmaecimento, e que se prolongou atá ás 5 horas da madrugada.

Trata-se, é possível, de um cardume de moluscos phosphorescentes que estejam a passeiar o seu tédio de eternos moradores do mar sobre a quietude da corôa solitaria. Ou, quem sabe? Talvez tudo aquillo seja consequencia de emanações gazosas, facto, aliás, bem conhecido. Seja, porém, qual fôr a causa natural de tão bello phenomeno, o que é certo é que a imaginação fogosa da bôa gente daquellas paragens já tudo aquillo envolveu num halo feerico de lenda, do maravilhoso encanto lendario com que a fantasia slava tanto tem povoado as margens e as aguas do velho Rheno glorioso.

Muitos já têm visto um navio de enormes proporções, e que dizem tripulado por almas penadas, a julgar pelas lamentações ouvidas por um ou outro dos maravilhados ilheus de acustica mais apurada.

O navio passa; e da espumarada branca que deixa atraz o fundo sulco que faz nas ondas, sóbe e derrama-se pela corôa o alastramento estellar da luz encantada...

Almas felizes, essas donde irradiam tão deslumbrantes miragens de sonho"..."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 06 de agosto de 1903

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