(...) Lua com til, pronuncia o nosso habitante rural, anota aquele autor. Relativamente a uma área que abrange o centro e o sul do planalto paulista, Aluisio de Almeida registra as informações que "os velhos em seu saber feito de experiencia", "zelosos guardiões da tradição", proporcionam àqueles todos que os inquirem. Para estes, "a lua nova é a conjunção mais importante". Nesta fase "começam a crescer os cornos, palavras que os antigos iletrados sabiam. Hoje dizem apenas o arco da lua". Muitas das influencias da nova são atribuídas ao quarto crescente. Por outro lado, as influencias da lua cheia assemelham-se às do minguante. A fase da lua vale durante três dias antes e três dias depois. Por nosso lado, já ouvimos, de gente muito antiga, que a "força" da nova são quatro dias antes e quatro dias depois, no que toca à influencia sobre o tempo. Nesse espaço de tempo, encontra-se sempre a maior probabilidade das perturbações. Abramos um parêntesis para registrar que as grandes chuvas que cairam sobre a Capital bandeirante em dezembro do ano (1960), causando tantas desgraças e tantos prejuízos, tiveram início na nova de dezembro, que caiu no dia 17 daquele mês. Fechemos o parêntesis. Quatro dias antes e quatro dias depois, ou três: neste período estaria a maxima influencia de qualquer das fases da lua, fosse qual fosse ela. Anota Aluisio de Almeida que o nosso homem rural prefere dizer quarto crescente e para o quarto minguante usa o verbo calar e o substantivo calação.
Na lua nova, não costumam plantar milho nem feijão, de vez que o coró, comum às duas plantas, as estragam. Como o arroz perfilha em muitos caules, esse pode ser semeado, sem perigo de prejuízo. A proposito, lembra que o coró que dá no arroz, comendo-lhe da semente o coração, é o mesmo que os índios comem. Coró de pau piuca, que a brugada mistura com mel de pau e "passa para os peitos", segundo versão de antigos sertanejos. O milho e o feijão são deixados para plantar no quarto crescente. Nesta fase da lunação são roçados os pastos e plantados o inhame, a mandioca e a batatas. O cipó não fica quebradiço e portanto é ocasião oportuna para amarrar as cercas. As galinhas devem ser postas a chocar. É na lua minguante, ou calante, que se cortam as madeiras e taquaras, para ficarem imunes ao caruncho e durarem "um século". O fruticultor possui nesta fase o melhor ensejo para enxertar suas plantas.
Até no reino mineral influi a lua nova, Não serve para determinadas obras; as pedras não ficam bem ligadas, num tanque, por exemplo; solta-se o reboco e o barro abre-se em mil e uma rachaduras. No quarto minguante o fabricante de tijolos ou ceramica utilitaria, tira o barro, deixando-o em descanço à sombra, durante muitos dias.
Estudando o assunto desde 1946, e pelo menos até 1959, o sr. Salim Simão chegou à conclusão que nenhuma influencia exerce a lua sobre as semeaduras, as chuvas, as colheitas, a conservação dos produtos, o crescimento dos vegetais, a produção e o corte das madeiras. Baseado em observações, não encontrou qualquer relação entre as fases da lua e esta ultima operação. Quanto à influencia decorrente da claridade da luz refletida por ocasião da lua cheia, lembra que essa claridade recebida pela terra é inferior à de uma vela, o que a luz do sol é meio milhão de vezes mais poderosa. Quanto a este aspecto, pois, seria descabida qualquer justificação. Quanto à influencia da lua sobre a seiva, atraindo-a e elevando-a na arvore, tambem aí nada encontra que justifique. Em uma planta de um metro de altura a ação da lua não poderia elevar a seiva mais de 0,1 de micro. Sabendo-se que o micro corresponde a um milesimo de milimetro, pode ser aquilatada da inutilidade da ação lunar. Em qualquer fase da lua a arvore derrubada pode ser atacada por insetos, ou melhor, por brocas. O que é preciso é levar em consideração a especie cortada, sua idade, a época do corte e a presença de insetos, antes de tudo atribuir à lua. Existem especies de madeira mais apreciadas pelos insetos, sendo que a parte branca da madeira - o alburno - é mais atacada que o cerne. O alburno contem amido e substancias açucaradas, enquanto o cerno possui tanino.
O mesmo autor, em outra oportunidade, teve ensejo de reproduzir as opiniões de varios tecnicos que se dedicaram à procura da verdade, no que tange à influencia ou não, das fases da lunação. A maioria contraria a aceitar a crença popular, positiva; alguns concordam em dar razão ao que povo pensa e admita. Examinaremos a opinião de dois destes ultimos. Para Kolisko é possivel a influencia da lua na oportunidade da semeadura e da germinação das sementes. Experimentando com ervilhas, couves, feijões, alfaces e tomates concluiu que melhores eram as semeaduras realizadas dois dias antes da lua cheia. O mesmo resultado foi obtido com nabos, beterrabas, cenouras.
Convenceu-se mais que a semeação feita antes da lua cheia superava em 50% a 60% as executadas em outras fases. Outro experimentador que chegou a resultados positivos foi Azzi. Ele averiguou que a alface semeada na lua minguante desenvolvia-se muito bem, ao contrario da semeada na crescente, que florescia em duas ou três semanas. Assim tambem o rabanete: semeado na crescente, floresce em quinze a vinte dias; se na minguante, esse prazo prolonga-se até cento e vinte dias. As cebolas semeadas na crescente apresentavam bifurcação e floresciam, ao passo que as da minguante produziam belos bulbos. Afirmava Azzi que "o período que vai da lua nova até a cheia age no sentido favoravel ao desenvolvimento vegetativo". Encerrando este artigo, dizia o sr. Salim Simão que voltaria a fazer referencias, "com todos os dados obtidos, no sentido de demonstrar que a ação da lua, não possui tanta influencia como querem muitos lhe atribuir". Se não possui a lua tanta influencia, é que alguma interferencia o autor admite existir.
De anos a esta parte a produção agrícola, dizem quase todos, tem caído bastante, de maneira a justificar, em parte, a grande alta do custo de vida. Por que essa queda? A varios motivos pode ser atribuida. Inclusive, por parte de alguns, como velhos lavradores da região de Cunha entendem, ao abandono, por parte dos agricultores, de certas normas de "especial cautela, quais sejam sejam aquelas de atentar à fase da lua por ocasião das semeaduras. "Os mais idosos nos tem contado que muitas, lavouras não vão para diante porque já não se observam mais essas épocas, não escolhem a lua certa". Esta explicação foi registrada pelo professor Alceu Maynard Araujo, em pesquisa que entre 1945 e 1950 levou a cabo naquela tradicional area paulista. No trabalho elaborado em decorrencia de mencionada pesquisa, premiado em primeiro lugar num concurso promovido pela prefeitura paulistana, podem ser encontradas informações outras sobre a influencia da lua na lavoura, tal como a entende o habitante rural daquela região de São Paulo. Para o lavrador cunhense, a primeira semeadura do arroz deve ser feita na nova de setembro: a do amendoim na lua cheia, porque na minguante dá chôcho; milho e feijão deve ser plantados na minguante para não caruncharem; o alho planta-se na crescente; a cana de açúcar na minguante, pois na crescente bichará; a plantação da batatinha, das aguas e da seca, sempre três dias antes da lua cheia, quando está brotada, e, caso contrario, da minguante em diante; batata doce planta-se na cheia de novembro, pois plantada na minguante só dá rama; a mandioca deve ser plantada somente na crescente; a cebola é semeada na minguante e mudada na crescente, que é lua forte.
E continuam as observações feitas em Cunha. A lua, da nova em diante é forte; planta de chão é na crescente e planta de ar, que são as que frutificam fora da terra, deve ser semeada na minguante; os frutos que se apresentam rachados, os "que não aguentam crescer", resultam de floradas abertas na lua nova; a abobora, o melão, o pepino e a melancia são plantados no minguante para não bicharem; cenoura, pimentão e tomate na crescente; alface e repolho são semeados em qualquer lua, mas o transplante é feito na minguante para fecharem bem; a couve de muda é plantada na força da lua para sair viçosa, e se o for no minguante será evitado o pulgão. Na mesma região, "até para barrear casa, observam a lua. Não se deve barreá-la na lua crescente porque o barro rachará; na minguante é bom porque o barro mingua e não se racha".
Fonte: DIÁRIO DE SÃO PAULO (São Paulo/SP), 19 de março de 1961, 2o. caderno, pág. 04
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