"Como se vive no Acre
Sob esta epigraphe, lemos n'A Folha do Norte, do Pará:
'A vida dos habitantes do Acre é das peiores que se pode imaginar.
Rio que fica por boa metade do anno inteiramente em secco e, portanto, com todas as communicações cortadas com os centros fornecedores, o Acre trata de abastecer-se para a sua alimentação e de fazer os seus fornecimentos de anno em anno.
As despesas de transporte são enormes, porque enormes são os fretes, á vista dos rios, da navegação e da relativa onerosidade do seguro. Accresce a impossibilidade de sempre os aviamentos serem feitos de accordo com as necessidades de todo o anno.
Não admirará a ninguem pois a seguinte tabella dos preços pagos pelos principaes generos de consumo no Acre:
Carne secca, 12$ o kilo; carne verde, 25$; carne americana em latas de 2 libras, 11$; gallinhas, 50$; ovos, 12$ a duzia; queijos do Ceará, 15$ o kilo; vinho commum, 20$; vinho do Porto, 25$ a garrafa; cerveja e agua Apolinaria, 4$ a meia garrafa; cachaça, 10$ a garrafa; farinha sacca de mandioca, 150$ a paneiro; arroz, 300$ a sacca; toicinho, 10$ o kilo; feijão, 6$ o kilo; sardinhas, 5$ a lata; champagne, 50$ a meia garrafa; um charuto ordinario, quando ha, 1$ cada um.
Os rifles 500$ e balas 1$ cada uma.
As roupas feitas e em geral todos os demais generos são vendidos com mais 200% sobre os preços de Belém e Manáos.
Não ha legumes. Ha algumas plantações de feijões, mas absolutamente insufficientes para o consumo ordinario.
Em poucas barracas ha umas pequenas creações de porcos, de perús, etc, mas servem apenas para a alimentação das respectivas familias.
A vida resume-se no trabalho, durante as horas menos caniculares do dia. Á noite ha um ou outro pagode de seringueiros, afóra o que é o descanso, algumas vezes o jogo mas raramente, é quando o ha, muito forte.
Bebe se muito, sobretudo cerveja.
Come se em geral peixe a caças.
Não circula o dinheiro. Todos os trôcos são feitos em gêneros ou com a base de credito.
A agua do rio Acre é ruim mas gosam os habitantes a vantagem de haver por toda a parte Igarapés com nascentes de agua crystallina e pura.
O trabalho é muito bem remunerado.
Os operarios assalariados propriamente ditos, isto é, os que moram nas casas dos patrões e comem ali ganham de tres a seis contos de réis por anno.
Os que se dedicam: á industria extractiva pódem tirar de 6 a 25 kilos de borracha.
O clima é egual ao de Manáos, com a differença de que as noites, devido ás mattas visinhas, são muito mais frescas. Não ha piuna nem carapanans.
Viajam medicos, pharmaceuticos e advogados constantemente no Acre.
Ninguem quer ser empregado publico.
Um barracão não custa menos de 10 a 12 contos de réis, e é construído em geral por meio de materiaes madeira, folha de zinco, etc., vindos do Pará.
O povo do Acre é um dos mais hospitaleiros do Amazonas."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 25 de Abril de 1900, pág. 01, col. 03
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