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(Do Globo.)
Entre as diversas nações indigenas que habitam os rios JAVARY e JATAHY, á margem direita do SOLIMÕES, torna-se sobremodo notavel a dos TECUNAS, por seus usos e praticas de todo excepcionaes.
Eis o que relativamente a essa tribu escreveu no seu DIARIO DE VIAGEM AO RIO NEGRO, o ouvidor Ribeiro Sampaio.
'São os TECUNAS de um natural preguiçosissimo.
Na sua philosophia professam o miserave dogma da metempsycose ou doutrina phitagorica da transmigração das almas para outros corpos, ainda dos irracionaes.
Adoptam o rito judaico da circumcisão em um e outro sexo, sendo pela maior parte as mães ministras da operação que celebram com grandes festejos, impondo os nomes aos circumcidados.
São tão apegados á idolatria que aos mesmo já doutrinados nas nossas povoações não é possivel poder persuadir que deixem o seu idolo, pois continuamente se lhes está achando em suas casas.
É este idolo um medonha figura feita de diversas cabeças e cobertas por cima da casca de uma arvore, chamada na sua lingua AICHÁMA, que parece estopa, da qual fazem tambem alguns toscos tecidos para as cobertas.
Ao ídolo chamam HO-HO, nome que dão ao diabo.
O distinctivo d'esta nação consiste em um risco negro e estreito das orelhas até o nariz.
As mulheres não usam de cobertura nenhuma.
Têm porém os TECUNAS a singular arte de prepararem as aves e os passarinhos, que matam com esgaravalana, de tal sorte que ficam inteiros com todas as suas partes, enchendo-lhes a pelle com algodão ou sumauma, com o que contribuem para se mandarem para a Europa em beneficio da historia natural.
A respeitavel sacerdote da provincia do Amazonas e que por muito tempo viveu no Solimões, devo a descripção de um baptismo conferido a um menino TECUNA.
O digno sacerdote, que m'a referiu, foi testemunha ocular dessa scena grotesca, ou servindo-me de suas palavras, desse espectaculo doloroso, entremeiado de danças ao som de gaitas toscamente fabricadas de não sei de que madeira e taboca.
Mascarados uns com tinta vermelha e preta, referiu-me elle, e outros com rodilhas de panno e folhas na cabeça, invadiram diversos índios o lugar em que se achavam reunidos os pais da creança e os maiores da tribu, e logo após os primeiros mascarados entrou um no grupo, coberto com pelles de animaes, arremedando cada individuo o animal de que trazia a pelle e outros a ave com cujas penas se enfeitava.
Depois a creança, pintada de CARAJURU, foi collocada no hombro de uma mulher e mettida no centro de um grande circulo formado por homens e mulheres, o qual de vez em quando se abria, separando os sexos.
Em uma especie de dança frenetica, furiosa, em que os sons dos instrumentos desafinados se misturavam e confundiam com o som rouco das vozes, que repetiam constantemente a palavra - Keá.
Então, a um signal do chefe, abriu-se o circulo e cada qual começou a dançar por sua vez com a mulher que lhe ficava em frente uma especie de dança ligeira, cheia de tregeitos e movimentos lascivos, voltando em seguida para o seu lugar.
Depois, agitando o maioral uma especie de tridente que empunhava, abrio-se o circulo e a apresentadeira da creança, que se havia retirado a um banco, em meio do silencio geral, approximou-se cantando, do maioral, que, entre gestos e palavras mal distinctas, beliscou com o dedo pollegar e o index tão fortemente a cabeça da creança, que lhe veio immediatamente o sangue.
Esta terrivel ceremonia foi repetida por mais duas vezes em fórma de cruz.
Terminada ella, começaram de novo a tocar os roucos instrumentos, até que a um signal do chefe dirigiram-se todos ao panellão em que se achava o PUJAUARÚ em fermentação. Após copiosa libação encaminharam-se para a mesa, que era formada de uma porção de folhas, de pacoveira, estendidos no chão e onde assados, cosidos e moqueados achavam-se pedaços de macacos, caititús, araras, jacamins, etc. Terminou o festim entre momices e gritos que soltavam quando em cuias bebiam o nauseabundo PAJAUARÚ.
O nome que puzeram á creança foi o de URUTAC."
Fonte: A RAZÃO: ORGAM POPULAR (São Jerônimo/RS), 02 de Fevereiro de 1890, pág. 01, col. 01-03
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