"As primeiras fábricas de conservas vegetais de Pelotas datam do início do século e são o legado econômico, para a região, de um campesinato formado por imigrantes de origem francesa. A partir de uma pequena indústria caseira, iniciada no final do século passado, e paralelamente às atividades de exploração da terra, desenvolveu-se uma produção artesanal de doces, passas e conservas de frutas e legumes destinada ao comércio local. Estes imigrantes foram buscar na Europa os conhecimentos técnicos necessários ao cultivo de frutas e ao seu processamento industrial. As condições de clima e solo favoráveis, particularmente no caso do pêssego, determinaram o incremento dessas atividades na região que passou a gozar de fama nacional pela qualidade de seus produtos.
Em 1900, foi instalada no meio rural de Pelotas a primeira fábrica de pêssego em calda, localizada na Colônia Santo Antônio e denominada Quinta Pastorello. Desde então, a produção de conservas de frutas, legumes e outros vegetais cresceu e especializou-se no processamento do pêssego, resultando na maior concentração industrial do setor no Brasil.
A produção total do setor conserveiro no país corresponde a 4% do valor gerado pela indústria de transformação. O Rio Grande do Sul responde por cerca de 13,5% da produção nacional de conservas, e concentra, extraordinariamente, 48,8% da mão-de-obra empregada no setor. Estes dados revelam, particularmente no caso de Pelotas, que o setor apresenta um baixo nível de penetração tecnológica e, consequentemente, um alto índice de emprego de força de trabalho. Ao longo desta investigação pudemos constatar que a incorporação de novas tecnologias é muito lenta e restrita a algumas fábricas, onde as técnicas, equipamentos e processos de transformação industrial utilizados são os mesmos há várias décadas.
Em meados da década de 1950 existiam na região de Pelotas quase cem fábricas de conservas e doces caseiros. Segundo dados da Prefeitura Municipal, em 1967 operavam 66 fábricas, o que, em 1980, conforme o Censo Industrial, já se reduzia para 49. Durante esse período sob o Regime Militar, observamos um processo de concentração industrial, com a eliminação de uma grande quantidade de pequenas e microempresas de caráter familiar e com o consequente surgimento de grandes empresas, estimuladas por medidas de política econômica implementadas pelo governo federal que visavam ao desenvolvimento e à modernização de segmentos tradicionais da economia. A partir do início da década de 1980, no entanto, a retração do setor foi principalmente o efeito de uma conjuntura econômica marcada pela inflação e recessão, aliada a uma política de juros altos, que colocaram muitas empresas numa situação falimentar.
Conforme estudo realizado, em 1992, pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas ficou constatada a presença de 18 fábricas de conservas efetivamente em atividade. Destas, uma era de grande porte (mais de 500 empregados), 4 de porte médio (entre 100 e 499 empregados), 4 de pequeno porte (entre 20 e 99 empregados) e as demais consideradas microempresas (até 19 empregados). Vale ressaltar que o critério adotado para classificação das empresas referiu-se apenas aos empregados efetivos, neste caso excluídos os trabalhadores safristas."
Fonte: VARGAS, Francisco Eduardo B. A Sazonalidade da ocupação em Pelotas: uma análise sobre a indústria de conservas vegetais. In: Cadernos do ISP, Pelotas, n.6, jun. 1995, pág. 69-71
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