Caethano era filho de Homero, morto de 'nó nas tripas' poucos anos depois de casar. Carpano resolveu criar o menino e, como este regulava de idade com Tibúrcio, o piá, único filho do coronel, resultaram muito amigos.
Da infância de ambos, restou aquele início de tarde em que D. Tidoca, esposa de Carpano, deixou-os a sós na casa da Cidade. Preocupada com a vintena de pintos recém-descascados, expostas aos gaviões e espalhada no pátio, mandou que ficassem de olho nos bichinhos e, não querendo também vê-los mexendo na despensa onde deixara as duas barricas de gostosa goiabada feita pela manhã, assustou-os dizendo que aquilo era veneno.
Breve os meninos encheram-se de cuidar dos pintos. Tibúrcio teve então a ideia de amarrar um ao outro pelas pernas, com escravo dava certo, vira a gravura num livro, que tal experimentar? Arranjaram barbante, fizeram o serviço e soltaram a comprida fila pelo quintal. Não demorou muito, um gavião apareceu e ao carregar um, levou o resto de inhapa, pousando depois no alto da árvore próxima. Longe das pedradas, calmamente ficou devorando um por um dos animaizinhos, com cordão e tudo.
Desesperados e antevendo a surra, resolveram eles suicidar-se com o veneno da despensa. Horas mais tarde, a espantada Tidoca encontrou-os deitados ao lado das barricas, estufados de tanta goiabada. Caethano resumiu a ópera:
- O gavião comeu os pintos e nós nos suicidamos."
Fonte: SÁ JÚNIOR, Renato Maciel de. Anedotário da Rua da Praia 3. Porto Alegre/RS: Secretaria Municipal de Cultura; IEL, 2009, 3a. ed., p. 126-127.
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