terça-feira, 8 de agosto de 2017

O El Dorado


Trecho extraído de: SELECÇÕES DO READER'S DIGEST. O grande livro do maravilhoso e do fantástico. Lisboa: Selecções do Reader's Digest, 1977, p. 269-270.

"Durante séculos, os corações e os espíritos dos homens sentiram-se fascinados pelo Eldorado, a lendária cidade do ouro, o local recôndito que albergava tesouros fabulosos, oculto algures nos Andes.

Centenas de exploradores, em busca de fortunas, viajaram através da selva e das serras - e morreram nessa busca.

No entanto, provas recentes sugerem que a sua procura estava desde o início irremediavelmente condenada ao fracasso, pois o Eldorado pode não ter sido uma cidade, mas sim um homem.

A lenda do Eldorado surgiu pela primeira vez no Mundo através dos conquistadores espanhóis que, comandados por Pizarro, penetraram na América do Sul nos começos do século XVI.

À medida que abriam caminho através do continente, os espanhóis ouviam relatos sobre os chibcha, índios adoradores do Sol, que viviam nos planaltos elevados e frios, nas proximidades da actual cidade de Bogotá, capital da Colômbia. Segundo constava, a tribo venerava  o ouro, considerado o metal do deus Sol. Os seus membros adornavam-se com objectos de ouro e, durante mais de 2000 anos, revestirem os seus edifícios com folhas do precioso metal.

Em 1535 o espanhol Luís Daca afirmou que um índio lhe mencionara a existência de um lago na montanha sagrada cheio de ouro. Outros contaram terem encontrado um chefe de tribo envergando um traje de ouro numa cidade chamada Omagua.

Em mapas antigos

Com a divulgação destes relatos, Eldorado passou a ser considerado como uma cidade de ouro, que antigos mapas do Brasil e das Guianas chegam mesmo a assinalar, embora se ignorasse com exactidão a sua localização. 

No século XVI um banqueiro, Bartolomeus Welser, enviou diversas expedições ao local que é actualmente a Colômbia em busca do Eldorado. Os seus homens chegaram mesmo a torturar índios para deles obterem informações, que sempre se revelaram inúteis. Todas as expedições se malograram.

Mas a lenda da fabulosa cidade parece ter ofuscado os exploradores, impedindo-os de analisarem as próprias palavras, sempre presentes nos seus lábios, e de ventilarem a hipótese de Eldorado significar não o local dourado, mas o homem dourado.

O Homem de Ouro

Os chibcha não só adoravam o Sol como também o seu chefe, ente sagrado que nenhum membro da tribo podia contemplar. Uma vez por ano, porém, segundo a lenda, este chefe era objecto de um complicado ritual. Mantendo os olhos fechados, os membros da tribo untavam-no com resina, após o que sopravam ouro em pó sobre o seu corpo, revestindo-o completamente desse metal precioso - donde o nome de Eldorado que lhes era atribuído.

Depois carregavam uma jangada com inúmeras imagens de animais e ornamentos de ouro. Esta era conduzida a remos para o meio do lago sagrado, o Guatavita, onde o chefe lançava à água as valiosas oferendas da tribo.

O lago Guatavita existe de facto. Mas as provas da existência do Homem Dourado mantiveram-se tão vagas quanto as da existência da cidade, até que, em 1969, a 2 agricultores que procuravam um cão perdido nos montes, a algumas horas de automóvel de Bogotá, ao perscrutarem o interior de uma pequena gruta, deparou-se-lhes uma miniatura de jangada, feita de ouro maciço e requintadamente trabalhada, tripulada por 8 minúsculos remadores - de costas voltadas para a régia figura dourada do seu chefe sagrado.

No entanto, Guatavita continua a recusar ceder os seus tesouros dourados. O espanhol Gonzalo de Quesada, que conquistou a região em 1537-1538, obrigou 8000 índios a abrirem uma brecha na margem do lago, para lhe baixar o nível. Mas as paredes do canal desmoronaram-se e os índios, receando a ira do deus Sol, a quem tentavam subtrair o tesouro, interromperam os trabalhos.

Ainda em 1823 e em 1900 se procedeu a mais 2 tentativas de drenagem do Guatavita, mas, embora tivessem sido encontradas valiosas relíquias, as profundidades do lago, de formas afuniladas, nunca foram sondadas. E foi aí que, segunda consta, Eldorado - o Homem de Ouro - afundou as oferendas mais valiosas destinadas a apaziguar os deuses irados."


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