sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

A Nobreza Pelotense do século XIX

Museu da Baronesa em Pelotas
antiga residência do Barão e da Baronesa dos Três Cerros

Trecho extraído de: DIÁRIO POPULAR. Pelotas, 09 dez. 2007, p.10-11

Nos séculos 18 e 19 o charque originou fortunas às margens do arroio Pelotas. Essa riqueza fez surgir uma nobreza criada em meio à carne e ao sal. Para justificar seus títulos, os barões das charqueadas ergueram casarões e palacetes que alteraram a paisagem do município e, hoje, há mais de um século, se transformaram em um precioso patrimônio, capaz de atrair investimentos e turistas. Uma pesquisa realizada recentemente na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal de Pelotas (Faurb/UFPel) mapeou a herança deixada pelos 15 barões da cidade e concluiu: a presença dos nobres do charque é mais viva do que se pensa na Pelotas do século 21.

A grande novidade do trabalho orientado pela professora Ester Gutierrez e elaborado para a disciplina de Teoria e História da Arquitetura é apontar a rua Félix da Cunha, antiga Rua do Comércio, como o endereço preferencial da nobreza pelotense. Ali estavam estabelecidos quatro dos 11 prédios pertencentes a barões analisados na pesquisa.

O estudo mostra que um terço das residências comportavam atividades comerciais e foram erguidas - não por coincidência - na Rua do Comércio, no centro da cidade. Ao considerar que apenas o Barão da Conceição e a filha do Barão de Jaguari não dirigiam charqueadas e possuíam comércio, esse dado fornece indícios de que alguns dos charqueadores pelotenses traziam artigos de sua produção para vender na área urbana além do gado. “A pesquisa provou que a antiga Rua do Comércio abrigava não só os negócios mas também as melhores residências”, confirma a professora Ester, autora do livro Barro e sangue: mão-de-obra, arquitetura e urbanismo em Pelotas (1777-1888). 

OUTROS ENDEREÇOS
O trabalho, que analisou somente as residências urbanas dos nobres pelotenses, apresenta informações até hoje desconhecidas do grande público como, por exemplo, o fato dos prédios onde hoje funcionam o Colégio Estadual Monsenhor Queiroz, a Casa da Criança São Francisco de Paula e o Conservatório de Música da Universidade Federal de Pelotas terem sido as pomposas residências dos barões de Itapitocaí, da Graça e de Jaguari, respectivamente. 

MODO DE VIDA
O olhar mais detalhado sobre as residências deu origem a um precioso conjunto de informações que ajuda a compreender o modo de vida e os gostos da elite pelotense do século 19. 

Devido ao seu traçado, Pelotas sempre foi uma cidade de lotes estreitos e compridos, o que levou os barões a buscarem - em sua maioria - terrenos de esquina para erguerem suas imponentes moradias. Isso fica claro na constatação de que 82% dos prédios analisados no trabalho foram construídos em lotes deste tipo. 

Outro dado apurado é a preferência dos aristocratas pelos sobrados - que representam 37% do total dos imóveis analisados - mesmo diante das dificuldades para construí-los. Mas houve quem foi além. O Barão da Conceição, por exemplo, ergueu na rua São Miguel (hoje 15 de Novembro) um palacete de quatro pavimentos, sendo que o último era um mirante do qual podia vislumbrar toda a cidade.

EMBELEZAMENTO
O gosto pelas modas do Velho Mundo fez com que os “senhores do charque” investissem pesado na ornamentação de suas casas. Isso fica evidente no fato de que dez dos 11 prédios analisados no estudo possuem telhado escondido por platibandas, vazadas por balaustres ou não. A ornamentação era completada com compoteiras, pinhas e estátuas, em sua maioria de louça, distribuídas pelas fachadas dos imóveis.

Quem foram os aristocratas

Domingos de Castro Antiqueira, Barão de Jaguari
Charqueador, foi o primeiro a receber um título nobiliárquico na cidade, em 1829, depois de financiar campanhas militares do Império. Sua casa ainda existe na esquina das ruas Félix da Cunha e 7 de Setembro.

João Francisco Vieira Braga, Barão de Piratini
Charqueador, recebeu o título por financiar campanhas militares imperiais. Não há registros de sua residência urbana.

João Simões Lopes, Barão da Graça
Charqueador, foi titulado por seu apoio político ao império na Revolução Farroupilha. Em 1876 foi “promovido” a visconde. Foi um dos poucos barões que estudou e se formou em Humanidades no Rio de Janeiro. Sua casa era hoje onde funciona a Casa da Criança São Francisco de Paula.

José Antônio Moreira, Barão de Butuí
Charqueador, foi um dos homens mais ricos de Pelotas. Recebeu o título por sua benemerência social. Foi provedor da Santa Casa. Morava na Casa 2 da esquina da praça Coronel Pedro Osório onde se encontra a Félix da Cunha e a Lobo da Costa.

Francisco Antunes Maciel, Barão de Cacequi
Charqueador, recebeu o título por “serviços prestados à Nação”. Foi deputado, ministro e conselheiro do Império. Era irmão do Barão de São Luís e genro do Barão de Butuí. Morava na casa 8 da praça Coronel Pedro Osório.

Francisco Gomes da Costa, Barão de Arroio Grande
Charqueador, ganhou o título ao libertar seus escravos quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea. Foi deputado provincial. Sua casa ficava na esquina das ruas Andrade Neves e Dom Pedro II e já foi demolida.

Felisberto Inácio da Cunha, Barão de Corrientes
Charqueador, recebeu o título pela libertação antecipada dos escravos. Não há registros de sua residência urbana.

Leopoldo Antunes Maciel, Barão de São Luís
Charqueador, recebeu o título por conceder alforria antecipada aos seus escravos. Era irmão do Barão de Cacequi. Sua casa era a Casa 6 da praça Coronel Pedro Osório.

Aníbal Antunes Maciel, Barão de Três Cerros
Charqueador. Primo dos barões de Cacequi e São Luís. O, hoje, Parque da Baronesa era sua chácara.

Antônio Azevedo Machado, Barão Azevedo Machado
Charqueador. Sua casa era localizada na esquina das ruas Gonçalves Chaves e 7 de Setembro e se estendia até a atual rua Almirante Barroso. Era a única residência em estilo colonial.

Joaquim da Silva Tavares, Barão de Santa Tecla
Charqueador, ganhou o título ao apoiar financeiramente a Guerra do Paraguai. Sua casa, hoje demolida, ficava localizada na esquina das ruas 15 de Novembro e Doutor Cassiano, onde hoje é um estacionamento.

Joaquim José de Assumpção, Barão do Jarau
Charquedor, foi provedor da Santa Casa. A casa de sua esposa na esquina das ruas 15 de Novembro e General Telles ainda existe.

Miguel Rodrigues Barcellos, Barão de Itapitocaí
Médico, ganhou o título por seu altruísmo para com os carentes e chegou a ser conhecido com “pai dos pobres”. Morava na rua Miguel Barcellos, onde hoje funciona o Colégio Estadual Monsenhor Queiroz.

Manuel Alves da Conceição, Barão da Conceição
Comerciante, empresário e banqueiro, nascido em Portugal, era o único não-brasileiro entre os nobres pelotenses. Sua casa era o prédio de quatro andares na esquina das ruas 15 de Novembro e Voluntários da Pátria. 

José Júlio de Albuquerque Barros, Barão do Sobral
O barão do qual existem menos informações. Sabe-se apenas que não vivia da indústria saladeiril. Não há registros de sua residência urbana.

4 comentários:

José CS Vidal disse...

José Júlio de Albuquerque Barros, Barão do Sobral, residiu onde hoje é o Museu do Doce (Praça c.Pedro Osório, n.6).

José CS Vidal disse...

João Francisco Vieira Braga foi Conde de Piratini; e João Simões Lopes Filho foi Visconde da Graça.

Otavio disse...

O Conselheiro Fracisco Antunes Maciel é que morava onde hoje é o Museu do Doce e conforme a diretora do museu, é um erro histórico creditar para ele o título de Barão.
Não existe registro histórico da casa do Barão de Sobral.

Joaquim Dias disse...

Grato pela visita e comentário. Eu apenas reproduzi o artigo de jornal, novas informações e atualizações são sempre bem-vindas.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...