Entrevista com o Sr. Nilo
Lemke
Realizada pelo autor em
12-11-2007
Referência: Bairro Jardim
América
“Mora
no bairro desde setembro de 1980, sendo procedente de Canguçu, nascido em
Herval, criado no Iguatemi. Primeiramente veio para Pelotas, onde permaneceu de
maio de 1979 a setembro de 1980 no Bairro Fragata, onde morava num ‘puxadinho’.
Um dos fatores que propiciaram sua vinda para o bairro fora a oferta de
terrenos baratos financiados em cinco anos. Depois os financiamentos baixaram
para 24 e 36 vezes. Cogitou, à época, antes de sair do Fragata, transferir-se
para o Sítio Floresta, porém os terrenos eram mais caros. Informa que quando
comprou o terreno no Jardim América, pagou uma entrada de Cr$ 8.700,00 e após
parcelas fixas. Relata que sempre foi difícil conseguir as coisas.
Trabalhou
por quase 14 anos na Madeireira Schumann. Esta fechou e o Sr. Nilo empregou-se
no Rio-Pel, em 1994. Curto período (três meses) de trabalho, pois o frigorífico
fechou também e o Sr. Nilo foi prestar serviço de vigilante na Escola Emanuel,
no Fragata. Quanto à Madeireira, informa que se acidentou em 1980 (obs.: possui
a mão decepada), voltou em 1981 e saiu em 1993.
Recorda
dos seguintes vizinhos (da Rua Piratini); falecido Sr. Didi, Sr. Augusto, Sra.
Jandira (quando veio ela já tinha o imóvel construído), falecido Sr. Zé, Sra.
Isabel, falecido Sr. Manuel. Informa que o pessoal trabalhava no Extremo-Sul,
Cica e Veja. Esposa trabalhou quatro anos na Santa Casa de Misericórdia, depois
empregou-se na indústria conserveira e, finalmente, como doméstica em casa de
família. Salienta que a maioria das mulheres trabalha como diarista (limpeza)
e/ou doméstica em casas de família.
Passamos
a tratar sobre a atuação da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) no
bairro, dado o Sr. Nilo ter sido indicado como referência neste assunto. O Sr.
Nilo afirma que o ponto inicial da missão da IELB começo do ‘outro lado’, na
casa da Sra. Irma (onde era o cinema). Lembra que houve a realização de dois ou
três cultos na casa do Sr. Gilmar (onde havia um colégio). Depois houve cultos
num galpão do Sr. Auro Schmidt. Em seguida, houve a compra do terreno na atual
Rua Castro Alves. Construíram prédio com auxílio de luteranos norte-americanos.
Hoje comunidade faz parte da Paróquia Emanuel, do Fragata. Lembra que os
bairros Centro e Fragata em Pelotas e o Jardim América fazem parte da mesma
circunscrição. Tudo começou a partir da comunidade luterana do Centro.
Comunidade no Jardim América data de 1985. Os primeiros pastores que atenderam
à comunidade foram os srs. Daltro Kautzmann e Arnaldo Hoffmann – ambos da
comunidade do Centro de Pelotas.
Fala
que a IELB teve como centro dos pontos de missão a Igreja Queimada em
Sant’anna, no Morro Redondo. Conforme um ponto de missão se tornava uma
comunidade organizada, esta encarregava-se de fazer um novo ponto de missão.
Assim surgiu a comunidade das Três Vendas e do Centro. Por causa do êxodo
rural, IELB se faz presente nas vilas periféricas devido a presença de famílias
que saíram da colônia. Hoje, comunidade das Três Vendas também realiza missões
na zona colonial. No Jardim América, base da IELB é pessoal que veio da colônia
(Canguçu, Piratini, Pedro Osório).
A
comunidade realiza cultos, porém ainda serviço social (arrecadação de roupas,
programa no rádio, remédios, alimentos, pães, etc.). Há pontos de estudos
bíblicos nas casas de famílias e escolinha bíblica todas as tardes de domingo.
Ocorre sempre um evento na véspera de Natal. A comunidade participa em seu
distrito (Pelotas, Cerrito, São Lourenço do Sul, Pedro Osório, Capão do Leão,
Morro Redondo) de congressos de jovens, de leigos, etc., onde pessoal se reúne
e há jogos de futebol e bocha. Os encontros acontecem na Igreja Queimada, onde
ainda se fala o alemão. Informa que no interior pastor prega em alemão,
inclusive até não-teutos falam o alemão. Acrescenta, retornando ao tema da IELB
no bairro, a existência de grupos de canto, grupo coral, grupo de servas, além
de instruções de confirmação. Pois criança é batizada quando pequena, jovem
confirma fé do batismo.
No
próximo dia dois haverá um almoço de confraternização pelos 22 anos da
comunidade. Já foram na Comunidade Bom Jesus, no Areal, para participar de um
evento com o mesmo motivo. Destaca que a comunidade luterana recebe pessoas de
todas as raças e cita o Sr. Cláudio e a Sra. Clair que são negros como
exemplos. Narra que na Solidez (em Canguçu), existe até hoje uma comunidade
luterana só de negros, com um pastor negro. Mas isso se dá mais por uma questão
de tradição, pois a IELB está aberta a qualquer pessoa.
O
Sr. Nilo Lemke é descendente de pomeranos e também fala o pomerano. Sua esposa,
entretanto, fala o alemão.
Os
primeiros armazéns que lembra dos arredores eram os dos srs. Arnaldo e Océlio,
nos quais as pessoas faziam rancho. Surgiu após a venda do Sr. Geraldo e, em
seguida, do Sr. Framalion (abriu pequeno, tipo vendinha, tipo ‘Verona’). Houve
também o Armazém Gomes – era um ‘bequinho’, onde vendia-se canos, conexões,
etc. Igualmente surgiu o comércio do Sr. Osmar Rosa, ‘bequinho pequeninho’, que
hoje é um supermercado e a venda da Sra. Irma (venda tipo ferragem, ao lado do
prédio onde havia culto). Logo adiante também teve a venda do Sr. Enéias. Cita
ainda o boteco do Alemãozinho, a venda do Sr. João, e o Supermercado Peres
(onde é atualmente a Bela Casa Móveis).
Relata
que os dois principais problemas eram a falta de água e a falta de luz.
Pegava-se água na Rua 28 de Março e havia um poço para lavar roupas próximo aos
trilhos. Depois na Praça da Integração colocaram um poço artesiano. Assim como
surgiu outro poço na esquina do atual Centro de Referência em Assistência
Social. Finalmente conseguiu-se tubulação e a água chegou. Problema maior era o
chuveiro, não havia resistência que agüentasse. Lembra que o local da bica era
muito longe, havia longas filas de espera. Houve também o caminhão-pipa da
Prefeitura Municipal. Quando chegou energia elétrica não havia. Só foram
conseguir através de um abaixo-assinado com o Vereador Fernando Azevedo. Lembra
que a área dos lotes era muito encharcada. Luz só havia no trecho do Clube
Campestre.
Maior
preocupação atualmente é com segurança. Indivíduos ‘vem mesmo’ nas casas. Roubo
de galinhas era o mais comum, entretanto, atualmente ocorrem inúmeros furtos
dos mais diversos tipos. Fala de um grupo de drogados que se reúne numa casa
abandonada ali perto. Lamenta que a polícia não consegue flagrante dos crimes.
Informa de roubos na casa do Sr. Ervino Jeske (morador antigo proprietário da
Padaria Santos) e na casa da Sra. Wilma. Acredita que ‘Pombal’ é só fachada
para esconder bandidos.
Quanto
ao transporte, recorda que ônibus só passava na atual Avenida Três de Maio. Era
um ônibus pela manhã, mais dois ou três por dia. Passava pela avenida também o
ônibus da linha do Capão do Leão, da Empresa Bosembecker. Houve um ônibus da
Turf da linha Fragata que vinha até o bairro.
Observa
que não havia moradores nos arredores em muita quantidade. Eram o Sr. Antônio,
um sapateiro ‘moreno’ e mais para lá (lado leste) outros moradores. Aqui (rua
Piratini) moravam o falecido Sr. Edilon e o Sr. Dino (o qual era proprietário
de muitos terrenos). No entorno do Sr. Arnaldo havia mais gente. Filhos do
Tenente há muitos anos moram ali (refere-se a Família Ricardo).”