quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Importante estudo sobre a população da paróquia de São Pedro do Rio Grande



Índios paulistas aldeados entre os primeiros moradores de Rio Grande, juntamente com índios tapes e minuanos do Rio Grande do Sul, constituem os elementos étnicos originais da povoação de São Pedro de Rio Grande, juntamente com a grande leva de casais açorianos e gente vinda do Rio de Janeiro. 

O estudo abaixo é revelador sobre as origens étnicas da região sul do Rio Grande do Sul.

Trecho extraído de: QUEIROZ, Maria Luiza Bertulini. Paróquia de São Pedro do Rio Grande: estudo de história demográfica, 1737-1850. Curitiba: Tese de Doutoramento do Curso de Pós-Graduação em História da UFPR, 1992.


"A PARÓQUIA DE SÃO PEDRO DO RIO GRANDE

Criada por provisão de 6 de agosto de 1736, subordinada ao Bispado do Rio de Janeiro, a Paróquia de S. Pedro do Rio Grande compreendia todo o território que se estendia da margem sul do rio Jacuí ao arroio Chuí, conquistado à Espanha seis meses mais tarde, com a fundação do Presídio e Colônia do Rio Grande de S. Pedro, na margem sul do canal de acesso à Lagoa dos Patos. Sua jurisdição abrangia, então, um imenso vazio demográfico denominado "continente" do Rio Grande.


0 processo de expansão da colonização portuguesa sobre essas terras resultou no natural desmembramento de parcelas de seu território para a criação de novas paróquias; em 1765, a de N. Sra. da Conceição do Estreito, em Í773, a de S. Luis de Mostardas, em Í8Í2, a de S. Francisco de Paula de Pelotas, em 1832, a de N. Sra. da Conceição do Taim, e em 1846, a de N. Sra. da Conceição do Povo Novo.

A sede da paróquia era a colônia do Rio Grande, elevada à condição de vila em 1747, e à categoria de cidade em 1835." (p. 01)


"Em inícios de 1738 começaram a chegar os primeiros povoadores civis de origem luso-brasileira. 0 governo do Rio de Janeiro, a que estava subordinada a colônia, desenvolveu intensa atividade objetivando o seu povoamento, deslocando casais, recrutas e mulheres solteiras, colocando em prática o antigo projeto (1735) de povoar as terras desertas do sul do país com o excesso de população da região das Minas e do Rio.


A ação colonizadora teve por base uma "política de casais", que fixava as Famílias à terra e estimulava os casamentos. Aos casais que se deslocavam para a nova colônia era assegurado um trato de terra, cabeças de gado, ferramentas, alqueires de cal e de sal, grãos, lentilhas e feijões, e eram mantidos com farinha até a primeira colheita.


As mulheres solteiras eram atraídas pelas amplas possibilidades de casamento e pela extensão desses incentivos aos casais formados na colônia; elas representavam a solução para a acomodação do expressivo contingente masculino solteiro aquartelado na fortaleza. Quanto a este, o governador era claro em seus projetos: "o importante é que se casem e se vão arraigando na terra, para o que lhes tenho mandado mulheres e lhes irei mandando mais". Em 1742, tendo oportunidade de avaliar os resultados de sua ação colonizadora, em visita à colônia, pôde observar que "quase todas" as mulheres que mandara do Rio, de "vida livre" e "desimpedidas", haviam tido filhos na colônia.

0 governo incentivou, também, a migração de famílias da Colônia do Sacramento para a do Rio Grande, nesses primeiros anos de povoamento, acenando com a sua posição mais segura e com as maiores possibilidades de acesso à terra. Esses povoadores eram, na maioria, da mesma origem dos que chegavam do Rio, resultando que na década de quarenta a população da colônia foi constituída basicamente por cariocas, mineiros, baianos e paulistas.

Os colonos açorianos começaram a chegar por volta de 1750, e constituíram o maior efetivo desse processo de povoamento. A "grande imigração" açoriana, entre 1750 e 1754, resultou na entrada de 423 casais e 409 pessoas adultas solteiras, que vão participar na formação de 259 novas famílias até abril de Í763. A importância dessa imigração para a sustentação demográfica da colônia, que contava a essa época com cerca de cem famílias, apenas, foi excepcional; os batizados de filhos legítimos da população livre passaram dos 289, registrados nos doze anos transcorridos desde a fundação da colônia, para 1.836, nos treze anos compreendidos entre janeiro de 1750 e abril de 1763, dos quais os açorianos respondem por 74,3%, participando de 77,1% dos casamentos celebrados entre 1756 e abril de 1763." (p. 06-07)

"A matriz indígena da população foi constituída, basicamente, por um grupo de índios procedentes de S. Paulo, e por dois grupos pertencentes aos domínios espanhóis, o Tape e o Minuano.

0 grupo indígena de S. Paulo era formado por 102 pessoas das aldeias de Barueri, Espinheiros, S. Miguel e N. Sra. da Escada, e a sua transferência, a chamada "recondução" de João da Tavora, fora ordenada pela Coroa antes mesmo da fundação da colônia, para o trabalho nas fort ificaçoes. Chegaram em setembro de 1737, por terra, e foram alojados no núcleo da povoação; no ano seguinte respondiam por 4 dos 9 batizados registrados pela população livre.

Os Tapes foram incorporados desde a fundação do presídio, apresados durante as incursões militares aos campos. Ao final da década de 1740, desciam em grandes grupos ao litoral, em busca de sobrevivência, pressionados pela expansão da atividade
tropeira sobre seu território. A entrada dos Minuanos na colônia se dá a partir de setembro de 1749, e decorre dessa mesma circunstância. Para os Tapes foi organizada a Aldeia de N. Sra. da Conceição, e os Minuanos foram aldeados na Estancia Real de Bojuru, ambas à margem esquerda do canal, sob a administração religiosa dos padres jesuítas." (p. 08-09)


"A expansão da colonização sobre os territórios interiores da paróquia resulta na sua divisão em três distritos: o da Vila, que correspondia à região ocupada desde a fundação do presídio até a invasão espanhola, e os do Povo Novo e do Cerro Pelado, com terras ocupadas a partir de 1777.

0 resultado mais significativo dessa expansão foi o surgimento de Oratórios; entre 1794 e 1812 seu número alcança a 29, espalhados por toda a paróquia, onde são celebrados 68,9% dos casamentos registrados nesse período." (p. 19)






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