Um dos símbolos maiores de nosso município é o graniteiro - isto é, aquele que trabalha com granito ou pedra granítica. O granito é uma pedra abundante em Capão do Leão, formada pelos minerais quartzo branco, feldspato e mica. Entretanto, o que é o graniteiro?
Recentemente, o repórter da RBS TV Pelotas, Daniel Trzeciak, esteve em Capão do Leão, juntamente com o cameraman Schlee, realizando uma reportagem alusiva aos 29 anos de emancipação do município. O jornalista Augusto Santos indicou a mim para que pudesse ciceronear o repórter na dita matéria, que foi feita num domingo (01/05) e foi ao ar no Jornal do Almoço local no dia 03 de Maio (terça-feira, data do aniversário de emancipação). Após gravarmos defronte à Casa de Cultura Jorn. Hipólito José da Costa, Daniel perguntou-me a respeito de uma figura conhecida da cidade que ele pudesse entrevistar. Chamou-lhe muito a atenção a estátua do graniteiro defronte à Praça João Gomes, da qual foram realizadas filmagens e fotos. Pois bem, expliquei-lhe que a serra de granito existente em Capão do Leão comporta uma série de empreendimentos, sendo que parte está concedida a particulares, a grandes companhias, à Empem e ao Estado do Rio Grande do Sul (Pedreira do Cerro do Estado). Legalmente, tudo é da União Federal, conforme determina a legislação nacional em vigor sobre as riquezas do sub-solo brasileiro. Como ele pretendia entrevistar alguém que fosse graniteiro e visitar uma das pedreiras, indiquei-lhe que o melhor caminho seria subirmos até à Pedreira do Cerro do Estado, pois lá, a probabilidade de encontrarmos um "graniteiro" seria muito maior. Inclusive, seria mais fácil até conseguirmos a autorização para podermos adentrar no espaço da Pedreira.
Chegando lá, ao depararmos com alguns funcionários da SUPRG ali lotados e moradores do local, onde fomos muito bem recebidos, o repórter Daniel quis gravar alguns depoimentos de "graniteiros". Tal foi a surpresa que, embora solícitos, os funcionários não se definiam assim, sendo que uns respondiam que eram serventes, outros marroeiros, outros foram lingadores, etc. Isto é, uma terminologia que não incluía a palavra graniteiro. Pois bem, então como é que, trabalhadores de uma pedreira de granito não se definem como graniteiros?
Isto ocorre porque, como já tratei em postagens anteriores deste blog, a Pedreira do Cerro do Estado comportava um tipo de extração de pedra especializado, muito avançado para sua época. Uns faziam apenas o corte inicial das pedras, outros faziam a "requebra" das pedras, outros faziam seu acabamento, conforme o produto a qual era destinada a matéria-prima, outros ainda se especializavam somente na "cantaria", isto é, na lavra e polimento da pedra como produto de ornamento ou arquitetônico. Daquela pedreira não saía apenas pedras. Saiam blocos classificados em várias categorias, moellons, britas, paralelepípedos, moerões, pedras de obras, portaladas, folhetões, peitoris, vergas, etc. Daí a necessidade do trabalho especializado. Sem falar naqueles profissionais que sequer mexiam com a pedra como desenhistas, eletricistas, foguistas, mestres de obras, maquinistas, telefonistas, escriturários, entre outros.
GRANITEIRO é sinônimo do trabalhador artesanal em pedra, que produz basicamente pedras de obra, paralelepípedos, pedras de calçamento, etc. Muito comuns também em Capão do Leão, sobrevivem em pequenas pedreiras, que abundam na encosta da Serra do Granito, no Cerro das Almas, no Descanso e no Passo das Pedras. O termo ainda causa muita confusão. Na época da Pedreira Traverssi (atual Pedreira da Empem), os "graniteiros" se auto-denominavam "canteiros". Muito embora muitos não desenvolvem-se a atividade de cantaria.
A estátua que homenageia o graniteiro tem um detalhe importante: a cunha e a marreta, típicos do trabalho artesanal. Algo impensável na Pedreira do Cerro do Estado, esta sim, que funcionava quase como uma "indústria" de pedras.
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