A “Pedreira do Estado”
O termo “Cerro do Estado” vem justamente do fato da área da Pedreira pertencer, sob concessão, ao Estado do Rio Grande do Sul. Com este nome, hoje conhecemos todo o povoado ao seu redor. Embora tenham ocorrido novas concessões a particulares no decorrer do tempo, desde 1939 a presença da autarquia administrativa estadual é constante.
Como foi então a retomada das atividades da Pedreira após a saída da Companhia Americana?
O que pudemos constatar é que as avarias e o sucateamento ocorridos na época dos norte-americanos dificultaram o reinício do trabalho. No Relatório Anual das Atividades da P.C.L. de 1939, percebe-se uma preocupação muito grande dos administradores da Pedreira em conciliar custo e benefício. Além do mais, entre burocratas e operários contavam-se somente 53 funcionários. É pouco se considerarmos que havia as atividades de extração de pedra, administração, manutenção e conservação da linha férrea, carpintaria, ferraria, caldeira, usina elétrica, almoxarifado, trem e oficina.
Em compensação, a década de 1940 vai ser marcada por uma espécie de “era de ouro” na Pedreira. Gradativamente, aumentou o número de funcionários (já se conta 94 em 1945), houve melhoramentos na linha férrea e nas instalações. A produção alcança índices recordes e crescentes, sobretudo em razão da eclosão da 2ª. Guerra Mundial e da entrada do Brasil no conflito. Em 1943, em função das obras da Estrada de Rodagem entre São José do Norte e a Fazenda Petrone, ao que parece possuía um objetivo estratégico, e a preocupação em manter a navegabilidade na Barra do Rio Grande, em razão da vigilância marítima brasileira no Atlântico, a Pedreira irá produzir, no total de remessas, mais de trinta mil toneladas de material. A produção daquele ano não foi superada em nenhum outro momento até os dias de hoje, excetuando obviamente os tempos da Companhia Francesa.
Logo em seguida, surgem melhorias significativas para os trabalhadores da Pedreira. Em 1947, por iniciativa do Sr. Vasco Acunha (administrador), é criada a praça e erguida a capela em honra à Santa Luzia. Funda-se um clube de futebol um ano antes: o Fluminense F.C, sucessor dos antigos Grêmio Americano e Ipiranga. No mesmo ano, estabelece-se o Grupo Escolar Faria Santos – primorosa obra arquitetônica construída com pedras lavradas por graniteiros. Em 1948, ocorre reforma geral das casas de moradia e instalações. Um ano depois, um ônibus passa a atender uma vez por dia aqueles que precisavam se deslocar até a zona urbana de Pelotas[1].
Visando suprir a necessidade de carvão, em 1945, inicia-se a plantação de eucaliptos australianos na área que, até o fim da década, ultrapassará a marca de 60 mil pés da árvore.
A década de 1950 vai ser igualmente prodigiosa para a Pedreira, pois os governos estaduais da época investiram pesado na questão dos transportes. A Pedreira passou a produzir poitas (tipo de pedra destinada a apontar profundidades marítimas) e atender igualmente os portos de Pelotas, Santa Vitória do Palmar e São José do Norte. Além dos trens, surgem camionetes como meio de transporte.
O crescimento demográfico do Cerro do Estado foi também uma constante, tendo surgido neste período, dois loteamentos importantes: a Vila Gastal (atual Rua João Albuquerque Filho) – empreendimento do Sr. Eduardo Gastal Filho, no início da década de 1950; e a Vila Santa Eloísa (atual Rua Santa Eloísa), em 1968. Um fator que explica o aumento da área urbana na localidade é a presença de grande demanda de comércio e serviços devido ao considerável número de funcionários.
[1] Desde 1929, o Capão do Leão já era atendido por transporte público motorizado terrestre: uma “jardineira” (espécie de veículo aberto nas laterais, assemelhado a um bonde) de propriedade do Sr. José Mendes. Entretanto, a partir de 1947, a Prefeitura de Pelotas autorizou os serviços de uma empresa particular. Em 1949, esta empresa passou a atender o Cerro do Estado. Não foi possível, identificar, todavia, se este serviço permaneceu nos anos subseqüentes.
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