Reproduzimos do Paiz as linhas que seguem:
Noticia que deve interessar a todos os nossos leitores é esta que vamos dar da cidade de Corumbá, a segunda cidade do Estado do Matto Grosso, convulsionado agora por uma revolução de que nos chegam echos longinquos e indecisos.
Extrahimol-a de uma descripção feita em meados do anno passado por um jornalzinho de lá - O Viajante.
Na margem occidental do sereno rio Paraguay, aos 18o 59' e 43" de latitude, e 57o 44' e 36" de longitude, levanta-se a airosa cidade de Corumbá, edificada sobre uma rocha calcarea e fronteira á vastas campinas e immensos pantanaes, que na outra margem se extendem a perder de vista.
Uma legua Paraguay abaixo está o arsenal do Ladario e a povoação do mesmo nome, havendo n'esta quatro ruas largas e mui regularmente edificadas.
Em communicação com as grandes praças de Montevidéo e Buenos-Aires, e directamente relacionada com Assumpção, Corumbá offerece uma certa predominancia do elemento extrangeiro, a cuja influencia deve-se attribuir o desapparecimento dos velhos costumes coloniaes.
As ruas são calçadas e muitas d'ellas arborisadas, com gosto, apresentando alguma vida e animação. O porto é constantemente visitado por numerosos barcos e navios a vapor, que seguem para S. Luiz de Caceres, Miranda, Cuyabá (a capital do Estado), Coxim, Nioac, etc.
O Lloyd Brasileiro mantem uma correspondencia directa de dois paquetes por mez, e, além d'estes, outras embarcações se cruzam em demanda do porto de Corumbá.
Corumbá é verdadeiramente o emporio das principaes zonas commerciaes e agricolas do Estado, e para que se possa ter uma idéa approximada do seu adiantamento relativo, não occultaremos as ligeiras minuciosidades que conhecemos.
Divide-se a cidade em alta e baixa.
Na parte baixa acha-se o edificio da alfandega, o cáes, armazens e muitos estabelecimentos particulares.
Toda a cidade conta vinte e cinco armazens e modas; alguns d'estes estabelecimentos rivalisam com as casas de primeira ordem de qualquer cidade adiantada. Ha algumas casas exclusivamente importadoras. Tabernas e mercearias diversas contam-se umas cem, ao todo.
Tem quatro salões com bilhares, tres hoteis, uma fabrica de cerveja, quatro padarias, oito açougues, duas photographias, uma fabrica de gelo, duas de fogos artificiaes, uma de sabão, quatro relojoarias, uma joalheria, oito alfaiaterias, quatro fabricas de licôres e um atelier de pintura, uma caixa bancaria, tres pharmacias (sendo duas militares) e muitos outros estabelecimentos.
Ha em Corumbá e Ladario seis medicos, uma dentista e uma parteira. Publicam-se tres folhas semanaes.
Entre os edificios publicos destacam-se o palacete da municipalidade, o quartel do exercito, o deposito de artigos bellicos e a cadêa, todos construidos de pedra e cal, e cobertos por vistosos e apraziveis terraços.
A tres leguas da cidade ha uma engenho central.
A rua Lamare corresponde em Corumbá á do Ouvidor no Rio de Janeiro. Ahi, onde é sempre grande a animação de transeuntes, estão as melhores e mais ricas lojas de modas. A perspectiva da rua mesmo é agradavel.
A metade da população corumbaense é extrangeira, o que lhe dá a feição de um centro verdadeiramente cosmopolita. As senhoras são na maioria paraguayas e cuyabanas. Depois do portuguez, as linguas mais falladas são o guarany e o hespanhol.
Corumbá é, relativamente, uma cidade moderna.
Quando tomada pelos paraguayos, durante a invasão, era um simples povoado de mil habitantes. O seu progresso data depois da retomada, em 12 de junho de 1867, pelo general Antonio Maria Coelho. Hoje está acima de muitas cidades brasileiras e auguram-lhe todos que a vizitam um futuro de prosperidade.
Ha muito união na sociedade corumbaense. Os saráos e partidas familiares são frequentes e animadissimos.
Corumbá conta um magnifico theatro em construcção, um jockey-club e um club familiar de primeira ordem.
O ferro oligisto encontra-se em prodigiosa quantidade no seu municipio.
Esse ferro não contém outra cousa além da silica em estado de quartzo. Na falta de productos de lavoura para conduzir, será sufficiente esse metal para sustentar uma estrada de ferro."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 26 de Maio de 1892, pág. 01, col. 06
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