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segunda-feira, 28 de abril de 2008

Bairro Jardim América - Parte X


Próximo e logo após a emancipação o crescimento populacional no bairro atingiu seu paroxismo. Ainda na época pré-emancipação, durante o governo Irajá Rodrigues em Pelotas (1979-1982), houvera investimentos na infra-estrutura do Jardim América, o que favoreceu que mais migrantes viessem. Além disso, comparativamente o bairro permanecera com terrenos mais baratos do que outras áreas pelotenses que também eram focos de atração – Guabiroba, Sítio Floresta, Simões Lopes, etc. Todavia, na pós-emancipação outro fator preponderou para o povoamento acelerado do Jardim América: a ocupação desordenada das áreas verdes.
A questão das áreas verdes sempre foi polêmica. Espaços públicos que deveriam ter sido praças, quadras esportivas e largos, permaneceram abandonados no decorrer do tempo. Alguns foram aproveitados como campos de futebol, para construção de escolas ou prédios públicos. Entretanto, certa parcela continuou desocupada. Num processo que envolveu também motivações políticas e problemas sociais, a ocupação destas áreas era feita muito rapidamente, com casa de madeira surgindo da noite para o dia. Até bem pouco tempo atrás a ocupação das áreas verdes ainda era um fato presente.
Por outro lado, surgiram novos loteamentos nos arredores do bairro, evidenciando ora a necessidade de ampliação dos limites urbanos, ora a questão da pobreza que se agravava. Empreendimentos novos foram os loteamentos Zona Sul, Olaria e Campestre. O primeiro será tratado num artigo específico. Já o Loteamento Olaria surgira em 1992 num terreno próximo a rótula em que se encontram as avenidas Três de Maio e Eliseu Maciel, sendo planejado pela Empresa de Engenharia Zambrano. O Loteamento Campestre data também da década de 90 e deve-se a iniciativa do Sr. Oriente Brasil Caldeira.
A Vila Nova (que também recebe o nome pejorativo de Pombal) foi resultado da urgência de políticas públicas para a questão da moradia popular no bairro. Além da já citada ocupação das áreas verdes, outro problema foi a posse de áreas de risco junto ao Sangão. No ano de 1991, foram entregues 35 chalés de madeira construídos pela Firma Madeireira Santo Antônio, de Viamão, numa área do bairro até então paradoxalmente despovoada. Com coordenação do governo municipal e financiamento da Cohab e da Caixa Econômica Federal, o objetivo era atender uma demanda antiga que consistia na alocação da população mais pobre em moradias mais dignas e decentes. Apesar disso, o crescimento populacional foi acompanhado do aumento da pobreza-miséria no bairro. Com a Grande Enchente de 1991 em Pedro Osório, mais migrantes vieram. Não por acaso, segundo o PNUD (órgão das Nações Unidas), o município de Capão do Leão está entre os dez do Rio Grande do Sul que tiveram o maior crescimento populacional em termos percentuais no período 1991-2000.

Bairro Jardim América - Parte IX


A localidade mais povoada do Capão do Leão teve diversas ondas migratórias durante as décadas, porém podemos afirmar que o período de grande transformação populacional se deu entre 1970 e 1990. O bairro – que hoje conta com uma população de aproximadamente 15 mil habitantes – deixou de ser um mero subúrbio rural para tornar-se um “bairro cidade”, na acepção do santa-mariense Manoel Mendieta Araújo.
Como já tratado em artigo anterior, o povoamento do Jardim América foi lento aos seus primeiros quinze anos. Grande parte dos moradores era proveniente de Pelotas, muitos agricultores de colônias de imigração alemã: Monte Bonito, Cerrito Alegre, Santo Amor, etc. Outros, entretanto, se estabeleceram no bairro em função de circunstâncias profissionais, como antigos funcionários do IPEAS, DAER e DNER. A partir da década de 1970, a imigração intensificou-se e a presença de pessoas que saíram do campo em função do êxodo rural fora uma constante. Neste aspecto, o número de migrantes oriundos de outros municípios da Zona Sul foi muito significativo. Sobretudo, gente vinda de Canguçu.
A 1ª. grande onda migratória se deu por volta de 1971, 1972, em razão das obras de construção da BR-116, no trecho Pelotas – Jaguarão. Empresas se instalaram na região para a construção da rodovia e muitos empregados acabaram se fixando nos arredores. O caso mais exemplar do fenômeno foi a Firma Extersul. Na época, esta companhia fixou-se no terreno que viria a ser anos mais tarde o Loteamento Zona Sul. A maioria absoluta de seus empregados (187 no total) era proveniente de Bagé e Caçapava do Sul. No entanto, as obras findaram e a firma quebrou financeiramente, deixando seus funcionários à míngua. Resultado: sem emprego e dinheiro, a maioria (164) foi absorvida pela Acevagran Construções para as obras da Eclusa do Canal São Gonçalo. Com o tempo, boa parte não retornou às suas cidades-natais e estabeleceu-se no Jardim América. A década de 70 continuou sendo bastante movimentada na questão da migração. Outro período intenso fora o triênio 1975-1976-1977 – fato motivado pela construção dos frigoríficos Extremo-Sul e Rio-Pel.
Um dado que contribuiu para que as pessoas viessem para trabalhar e acabassem escolhendo o bairro para morar foi do mesmo modo o preço barato dos terrenos. Uma história curiosa que se conta é que houve um morador que adquiriu o próprio lote dando em troca somente um toca-fitas e um fogão usado. Bem verdade, quando a Construtora São Marcos comprou os terrenos que ainda pertenciam à Construtora América (a que loteou o bairro), a mesma entendeu que determinadas áreas dificilmente seriam comercializadas, devido aos eucaliptos, ao mato e aos alagadiços. Então propôs o seguinte sistema: quem desmatasse dois lotes, ficava com um. Diante de tal “barbada”, vieram grupos de homens dos mais diversos lugares que, em mutirões, limpavam até quatro, seis, oito lotes de uma só empreitada. Desta forma, famílias inteiras garantiam seu “pedaço de chão”.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Festa do Dia Primeiro de Maio de 1968



Festividades (Gincana) do Dia do Trabalhador de 1968
Cortesia: Sr. Gilberto Oliveira


Pedra da Bandeira em 1972




O interessante destas fotos é que ambas revelam uma face pouco abordada da Pedra da Bandeira (lateral). Cortesia: Sr. Gilberto Oliveira

Independente F.C. em 1950

Formação do Independente F.C. em 1950
Cortesia: Sr. Gilberto Oliveira

Galpão da Estância Santa Tecla em 1939

Galpão de Trabalho existente na Estância Santa Tecla em 1939
Na foto: Família do Sr. Gilberto Oliveira
Cortesia: Sr. Gilberto Oliveira

Turma do Primeiro Ano Primário da Escola Faria Santos em 1950

Turma do I Ano Primário da Escola Faria Santos do Cerro do Estado
Regente da classe: Profa. Enilda Machado dos Santos
Cortesia: Sr. Gilberto Oliveira

sábado, 19 de abril de 2008

Clube Social Esportivo Primeiro de Maio



Clube Social Esportivo 1º de Maio
Rua 1º de Maio, 425; Bairro Jardim América; Capão do Leão/RS; 96160-000.
E-mail:
primeirodemaio@bol.com.br


O 1º DE MAIO foi fundado em 1º/05/1994, por um grupo de amigos no bairro Jardim América, em Capão do Leão. No futebol amador, jogaram campeonatos na colônia e diversos jogos amistosos na Zona Sul.
O time foi desfeito, mas o clube ficou, e agora é uma escolinha da futebol, que conta com --- alunos, distribuídos por --- categorias (---,---,

Seu objetivo principal através do futebol é formar cidadãos saudáveis e com perspectiva, desenvolvendo um trabalho social com crianças e adolescentes, em sua maioria, de família com baixa renda.

“Eduque as crianças de hoje para não punir os homens de amanhã” é a frase estampada na entrada da sede do clube, cujo lema é “bom de bola, BOM DE NOTA

O 1º DE MAIO É O ÚNICO CLUBE DE CAPÃO DO LEÃO DISPUTANDO OS TORNEIOS DE VERÃO QUE OCORREM EM PELOTAS.
SEU PRESIDENTE É CARLOS ALBERTO YACKS THONKE, EX-ÁRBRITO DE FUTEBOL PELA ---(ACP)---

Luiz Teixeira
Assessor de Comunicação Social
ltvisual@yahoo.com.br

terça-feira, 15 de abril de 2008

A Cacimba Milagrosa do Padre Doutor

"Segundo o cronista José Vieira Pimenta, a mortalidade causada pela cólera em 1855 foi de 6% dos 9000 habitantes da cidade, e o presidente da província na época calculou um total de 4000 vítimas no Rio Grande do Sul. O perigo de contaminação também foi a causa do fechamento da cacimba do Padre Doutor no Capão do Leão em 1880, pelo Barão de Santa Tecla. Depois da morte do religioso, as pessoas atribuíram poder de cura àquelas “águas milagrosas”, e havia até quem acreditasse que o crescimento da localidade ocorreu devido à grande procura da população pelo poço do Reverendo Pedro Pereira de Mesquita. Com a chegada dos encanamentos da Companhia Hydráulica Pelotense à cidade, em 1874, os antigos reservatórios que dividiam o subsolo com as fossas dos moradores se tornaram desnecessários."

Bairro Jardim América - Parte VIII


No termo de um loteamento que se desenvolveu lentamente nos primeiros anos de sua história e permaneceu com uma característica agrária, o Jardim América possuía um contexto sócio-econômico marcado pela extração de lenha, a orizicultura, a produção leiteira e a pequena agricultura familiar. Além destas atividades, a economia local também se movia em função de areais, olarias e marchanterias.
O areal mais notório dos arredores fica nas proximidades da Cosulati e pertence à Família Pinheiro. Entretanto, o que poucos sabem é que a extração de areia no local é uma atividade bastante antiga, remontando a antes da criação do bairro. A área, que media aproximadamente 2 e ½ hectares, pertencia ao Sr. Osmir Ribas, cuja entrada de sua estância corresponde a atual Rua Pedro Bachini Sobrinho (Corredor da Cosulati). Posteriormente, passou às mãos da Família Berchon, antes de pertencer ao atual proprietário.
As olarias, por outro lado, constituíam uma alternativa de emprego para vários moradores do bairro em épocas de falta de trabalho no arroz e no aspargo. Muitos jovens principalmente, encontravam o início de sua vida profissional nelas. Nomeadamente nas décadas de 1960 e 1970 houve um boom da produção de tijolos e o ofício do oleiro multiplicou-se. No final dos anos 60, por exemplo, tivemos cerca de cinco olarias funcionando a pleno vapor na região. O solo argiloso de determinadas áreas favorecia a abundância de matéria-prima. As olarias a que temos conhecimento são as seguintes: uma pertencente ao Sr. Homero Guido, no Corredor da Embrapa, onde hoje se encontra o Loteamento Campestre; uma no Horto Florestal, bem mais antiga e que tinha a melhor estrutura; uma nas proximidades da BR-293, de propriedade do Sr. Juvenal Albuquerque Costa; uma anexa ao armazém do Sr. Ernani da Rosa, de propriedade do mesmo, na Avenida Três de Maio; uma na área onde hoje é o Loteamento Olaria, de propriedade do Sr. Belisário Rocha, mas que teve outros donos, quase que certamente arrendatários durante o decorrer dos anos. Essas olarias produziam o tijolo maciço, sendo praticamente desconhecido o tijolo furado. Com exceção da olaria do Horto Florestal, não se produzia telhas. Cerca de toda a produção de tijolos era vendida em Pelotas em lojas de construção ou diretamente ao consumidor.
As marchanterias (matadouros) completavam o cenário econômico do bairro e se desenvolveram até 1977 – ano em que uma lei estadual impediu o abate de animais fora dos frigoríficos. Na esquina das avenidas Três de Maio e Eliseu Maciel funcionou uma marchanteria que inicialmente pertencera aos srs. Belisário Rocha e Evaldo Fagundes e que fora adquirida depois pelo Sr. Oriente Brasil Caldeira. Outra marchanteria importante ficava na esquina das ruas 1º. de Maio e Cidade de Rio Grande (onde está o Salão Ducarinho Eventos) e pertencia ao Sr. Valpírio Valerão. Mais adiante, já na região do Parque Fragata, havia a marchanteria do Sr. Clodomiro Quadros. Todas elas movimentavam uma intrincada engrenagem dos quais participavam desde pecuaristas que forneciam o gado, transporte, abate e fornecimento. No auge das marchanterias, cerca de oitenta açougues
em Pelotas eram abastecidos com carne abatida no Jardim América e Parque Fragata.

Bairro Jardim América - Parte VII


O bairro nunca deixou de ter uma vocação rural, aliás, bem como todo o município do Capão do Leão. Por isso, a agricultura e a pecuária foram atividades econômicas imprescindíveis na história do bairro. Acrescente-se que, nos primeiros anos, o Jardim América recebeu boa parte de migrantes provenientes do meio rural. Migrantes estes que ainda permaneceram ligados ao setor primário mesmo depois de estabelecidos no bairro.
A criação de vacas leiteiras foi uma modalidade pecuária de importância nas décadas de 1950 a 1970. Várias famílias possuíam pequenos rebanhos em suas casas e dependiam da venda do leite. Tanto havia o pequeno comércio do produto que ia de casa em casa, quanto à venda ao antigo Entreposto da Coolacti na Praça XX de Setembro, em Pelotas. O leite ia acondicionado em grandes tarros de alumínio e era transportado por caminhões ou carroças.
Em menor número, encontravam-se cavalos, bois, burros, porcos, perus, marrecos e galinhas. O cavalo sempre foi um animal de inestimável valor para o povo do local, devido ao grande contingente de carroceiros no bairro. O burro, mais comum no passado, foi muito utilizado na época das olarias em vários serviços. Sabe-se também que houve um aviário de propriedade do Sr. Carlos Bomer onde hoje se encontra o Motel Vila Rica.
O cultivo do arroz foi uma das atividades agrícolas de maior destaque. Não somente porque nos arredores havia lavouras, mas também em razão de muitos se ocuparem no trabalho safrista. Conta-se, por exemplo, que de fevereiro a maio, nas décadas de 1960 e 1970, cerca de 60 a 80 homens saíam do bairro em direção ao Pavão, Arroio Grande, Santa Vitória, Jaguarão e outros lugares, para as lavouras de arroz. Era a época do “Jardim América vazio” – conforme narram muitos moradores. Em compensação, quando voltavam, o comércio local se aquecia, pois estavam com os bolsos cheios de dinheiro. Nos arredores do bairro eram importantes as lavouras de arroz da Família Manke, do Sr. Maurício Chevallier e do Sr. Lourival Lopes (onde hoje se encontra o Frigorífico Mercosul), que também empregavam muita gente.
Observava-se igualmente que alguns habitantes do bairro possuíam pequenas hortas e vendiam a produção para feiras e mercados em Pelotas. Couve, milho, alho, cebolinha, beterraba, cenoura, alface, etc., eram algumas das hortaliças cultivadas. A fruticultura não chegou a se desenvolver satisfatoriamente, exceptuando o caso da propriedade da Família Peter (próxima a BR-293) na qual se viam pomares de laranjas, pêras e maçãs, bem como lavouras de aspargo – cultura agrícola que marcou muito a região e que era fonte de emprego no verão. Tanto as frutas quanto o aspargo se destinavam à Fábrica Agapê de Conservas.
Até o fim da década de 1970, no Jardim América era comum encontrar os chamados carros de colônia e carretas de boi. Realmente, o caráter de “subúrbio rural” nunca desacompanhou o bairro, embora tenha se transformado muito com o tempo, sobretudo, após a emancipação.

Bairro Jardim América - Parte VI


Qualquer morador do bairro com cerca de trinta anos de residência no local repete a mesma coisa: “isso aqui tudo era mato de eucalipto”. Nunca entendi por completo esta afirmação, levando-se em conta que o bairro quando surgiu, teve todas as suas ruas e lotes abertos e desenhados por completo. Além do que, a área do Jardim América tinha sido uma fazenda no passado, isto é, região de campos e não de mato.
O fato é que desde o tempo da Várzea do Fragata a extração de lenha sempre fora uma atividade econômica importantíssima na região e que não cessou com a criação do Jardim América. Por isso, quando iniciou a venda de lotes, dado o fato de áreas inteiras ficarem desocupadas durante muitos anos, os próprios trabalhadores em madeira plantavam o eucalipto nestas. Em razão disto, ruas que foram abertas na década de 1950 simplesmente foram tomadas pelo mato com o decorrer dos anos. Não é de se admirar que até o 2º. mandato do prefeito Getúlio Victória (1993-1996) ainda se abriam (reabriam!) ruas no Jardim América.
A importância da extração de lenha residia num fator inquestionável: um grande mercado consumidor. Além da demanda da população, numa época em que não era popularizado o fogão a gás, acrescentava-se a enorme necessidade de lenha para restaurantes no centro de Pelotas e nas olarias nos arredores. O quadro favorável converteu o negócio da lenha, principalmente nas décadas de 1950 a 1970, numa “mina de dinheiro”. Por volta de 1965, por exemplo, eram poucas as áreas do bairro que estavam livres de bosques de eucalipto. A década de 1960, por sinal, foi um dos períodos mais intensos da exploração de lenha no bairro. Havia épocas em que chegava a se observar “engarrafamento” de carroças e bolquetes em direção ao Fragata
Com o aumento populacional que o bairro passou a ter a partir da década de 1980, o resultado foi um lento recrusceder na atividade. Muitas áreas foram sendo desmatadas devido às novas construções, bem como pântanos foram drenados, barrancos aplainados e zonas de “macega brava” deram espaço a quintais de chão batido. Mesmo assim, o negócio da lenha nunca deixou de constituir parte importante da economia local, sendo para algumas famílias a única fonte de renda, mesmo nos dias atuais.

Bairro Jardim América - Parte V


A abertura de ruas e as obras de loteamento do bairro se deram entre 1950 e 1952. A partir de 1954, os lotes começaram a serem vendidos. Isso não significou que houvesse uma mudança radical na antiga região da Várzea do Fragata. Pelo menos até a década de 1970, o Jardim América permaneceu pouco povoado e com características rurais.
Isso pode parecer contraditório ao leitor, dado que o projeto original do bairro era a criação de uma moderna e bonita área residencial a preços populares. Previa-se até a construção de uma estação de passageiros junto à estrada ferroviária. Há muitas explicações que tratam da razão do atraso do bairro nos seus primeiros anos, algumas de ordem política ou estrutural, mas parece que a principal causa consista na legislação e em certo desinteresse do poder público. Segundo o Sr. Idel Lokschin – responsável técnico pelo loteamento do Jardim América – depois de concluídas as obras de abertura das ruas, pela lei era atribuição exclusiva do poder público municipal a instalação da infra-estrutura necessária (saneamento, eletrificação, transporte, etc.). No tocante ao bairro Jardim América isso se revelou por demais complexo, pois ele surgira numa área afastada da zona urbana pelotense. Era mais fácil para a Prefeitura de Pelotas instalar água e esgotos no Jardim Europa e no Bairro Fátima (que são da mesma época do Jardim América), pela proximidade que tinham com áreas já urbanizadas e também por serem menores em extensão. Conclui-se disso tudo, que o Jardim América foi um projeto inovador em Pelotas (como visto no artigo anterior), porém repleto de riscos de não se suceder.
Duas equipes trabalharam nas obras de loteamento do bairro: uma fazia o “trabalho duro” de limpeza do mato e abertura das ruas. A turma era comandada pelo Sr. Francisco dos Santos Pires e composta por seis homens: Geraldo Silveira Lopes, Aurélio, Albino (motorista), Cassola, Nélson Dias e um não-identificado. Logo em seguida vinha a outra equipe cumprindo a função de marcação dos lotes e das ruas: o Engo. Idel Lokschin, um topógrafo da Prefeitura e um auxiliar.
Na época (de 1954 a 1957) houve certa publicidade para a venda de terrenos. No escritório da Comercial e Construtora América no Areal era fechado o negócio. Os três principais corretores responsáveis eram: Nede Pinheiro Manfrin, Azevedo e Prietto. Entretanto, logo nos primeiros anos, o projeto de se vender lotes populares a preços acessíveis não se revelou muito afortunada. Segundo o Sr. Mário Loréa, filho do Comendador, a distância do novo bairro em relação à cidade foi um desestímulo a compra de lotes. Por conseguinte, o preço dos lotes barateou ainda mais. Mesmo assim estes terrenos não seduziram de imediato o operariado, sendo muito mais alvo de investimento imobiliário. Isto é, os lotes foram sendo vendidos em conjunto e houve pessoas que compraram 8, 9, 15, 20 terrenos, etc., de uma só vez, com o intuito de revendê-los ou construir neles casas de aluguel. Na região do atual campo do Estrela, por exemplo, mil lotes foram vendidos à Construtora F.N. dos Santos.
Apesar de tudo, o povoamento do Jardim América foi lento aos seus primeiros quinze anos. Em 1962 contavam-se somente 54 casas desde a ponte da Cosulati até o fim da Avenida Três de Maio. Se subtrairmos aquelas que eram da época da Várzea do Fragata, realmente o número de residências era muito pouco. De resto, havia mais eucaliptos no Jardim América do que pessoas.

Bairro Jardim América - Parte IV


Pelotas é uma cidade que se originou de um primitivo loteamento formado em 1812 às margens do São Gonçalo, correspondente atualmente a sua zona central e o bairro Porto. Deste primeiro núcleo habitacional se expandiu a Princesa do Sul ao que é hoje, observando-se que este aglomerado urbano foi meticulosamente pensado em ruas retas e quadras quase perfeitas. Em suma, a planta original de Pelotas imitava uma “grade”. Assim se desenvolveu a cidade até o século XX.
Não é necessário abordar a importância de Pelotas e suas charqueadas no século XIX para compreender que a cidade se tornaria um grande pólo regional. Conseqüentemente, isto levou que ela crescesse populacionalmente a passos largos e se formassem novas aglomerações (vilas) na periferia da cidade, sobretudo, durante a 1ª. metade do século XX. Estas vilas formaram-se desordenadamente, com vielas estreitas, muita pobreza, nenhum saneamento e, diversas vezes, em terrenos de várzeas e restingas, portanto, susceptíveis ao problema das enchentes. Desde os primeiros anos do século XX, as autoridades municipais não tardaram em encaminhar providências para resolver a questão, seja através da legislação ou por meio de estudos e ações de intervenção. Mais do que isso a necessidade de ampliação dos espaços residenciais também implicou numa nova orientação urbanística que renegava a monotonia e a frieza do sistema em “grade” e propunha ruas em curva e avenidas radiais. Buscando modernizar Pelotas, a proposta era criar novos loteamentos que aliassem elementos de conforto e embelezamento, tendo como inspiração as cidades-jardim inglesas. A idéia era ter bairros bastante arborizados, com número considerável de áreas verdes (praças, quadras de esportes, largos, etc.), todas as residências com área de frente dedicada ao jardim e de fundo dedicada à horta ou pomar. Entre outras coisas, a proibição de casas “pegadas” (típicas da zona central) e de obras mistas (alvenaria e madeira). Acrescentando-se a isso as ruas em curva traduziriam a sensação de “não se estar uma cidade fria e cinzenta, porém nos caminhos de um grande jardim”. Este plano já aparece descrito no inovador Projecto de Ampliamento da Cidade de Pelotas de 1924 de autoria do alemão Fernando Rullmann, engenheiro-chefe da Secção Técnica da Prefeitura. Embora bastante debatido na época, o projeto não chegou a ser aplicado na prática, porém a idéia de ruptura com o modelo de “grade” das ruas permaneceu até décadas posteriores.
No início da década de 1950, a constante das enchentes e o crescente êxodo rural exigiam ações imediatas para resolver a questão da moradia popular. Em 1953, foi criado o Departamento Municipal Autônomo de Habitação Popular e uma série de novos loteamentos surgiram, de iniciativa pública ou privada, ressuscitando a idéia da “cidade-jardim”. Entre eles: Nossa Senhora de Fátima, Simões Lopes, Bairro Jardim, Jardim Europa e Jardim América. Exceptuando o Bairro Jardim, todos apresentam plantas com ruas sinuosas e convergentes, em menor ou maior grau. Todavia, limitados por uma configuração urbana preexistente, estes novos loteamentos foram adaptações de um “bairro-jardim” verdadeiro. De fato, a única planta que corresponde a um “bairro-jardim” em sua totalidade surgira numa zona afastada da área central, rural, que era a Várzea do Fragata. Trata-se do bairro Jardim América.
Parte de um projeto pessoal do Comendador Loréa, como já tratamos em artigo anterior, o bairro foi projetado pelo arquiteto italiano Renato Salvini e loteado pela Comercial e Construtora América. Numa área total de 234 hectares que pertencia ao pecuarista Jaime Costa anteriormente (até 1948), surgiu um conjunto urbano de 94 ruas, 134 quadras e 4.000 lotes. Cada lote, por seu turno, media aproximadamente 360 m2.

Bairro Jardim América - Parte III


O tráfego de tropeiros pela Estrada da Várzea do Fragata era intenso na 1ª. metade do século XX e perdurou na região até pelo menos a década de 1960. Já nos últimos tempos, nota-se que não era gado que ia para as charqueadas (em processo de desaparecimento), mas sim para o Frigorífico Anglo, em Pelotas. Esse fluxo regular das tropeadas permitiu que. Ao longo da estrada, se formassem dois estabelecimentos comerciais que serviam como pontos de parada para as comitivas: a Venda do Sr. Pedro Behocaray e a Venda do Sr. Luís Nachtigall. A primeira localizava-se na região do Parque Fragata, a segunda ficava nas proximidades da atual Escola Barão de Santo Ângelo (região dos engenhos de arroz). A Venda do Sr. Luís Nachtigall, por se localizar dentro de nossa área de estudo, merece uma atenção especial.
Além de ser um importante ponto comercial, a Venda do Sr. Luís Nachtigall possuía nos fundos da propriedade, um galpão de costaneiras, aberto na parte da frente, que servia como abrigo para os tropeiros. Ali eles chegavam, apeavam, compravam algo na venda, sorviam uma aguardente e inúmeras vezes pernoitavam no lugar. O galpão também recebia acampamentos de ciganos e gente que viajava a cavalo. Nos domingos, defronte à Venda do Sr. Luís Nachtigall, a comunidade se reunia para assistir corridas de cavalo em cancha de carreiras. Nestas ocasiões, vinham pessoas de outras zonas rurais de Pelotas, inclusive gente da Vila do Capão do Leão. Ao lado da cancha, erguiam-se barraquinhas de carpe (jogo de cartas) e formavam-se disputas de jogo de tava (osso), jogo de bocha e jogo do sapo que divertiam o pessoal.
Além de tropeiros e agricultores, na Várzea do Fragata também se viam lenhadores e carroceiros que trabalhavam com a baldeação de madeira. Não por acaso, pois além de haver muito mato nos arredores, na área em que se encontra hodiernamente o Viveiro de Mudas da Votorantim Celulose e Papel, havia o chamado Mato dos Ingleses de propriedade do Frigorífico Anglo. Dali saía a lenha para as caldeiras do frigorífico.
Na época, não havia nenhuma eletrificação e o povo dependia de lampiões de carbureto à noite. A água vinha de cacimbas, diversas vezes barrentas, que se encontravam no meio dos campos. O único transporte que podiam usufruir era o ônibus da linha Capão do Leão – Pelotas que passava duas vezes ao dia - início da manhã e início da tarde. Mesmo com as dificuldades, o povo vivia de modo humilde, mas não miserável
.

Bairro Jardim América - Parte II


A Várzea do Fragata – como era chamada a atual zona do bairro Jardim América antes de sua criação – correspondia, como tratado no artigo anterior, a uma vasta zona de campos entre a Vila do Capão do Leão, a Hidráulica e a região do atual bairro Fragata. Com o surgimento da Estrada da Várzea do Fragata (a atual Avenida Três de Maio), a denominação passou a valer mais para a região que ficava à margem da referida via.
Tanto Alberto Coelho da Cunha na década de 1920, quanto C.R. (cronista da “A Opinião Pública”) na década de 1910, são unânimes em afirmar que a zona entre a Vila do Capão do Leão e Pelotas “é quase que completamente despovoada”. De fato, a não ser por tropeiros que tomavam o rumo do Fragata e cruzavam uma antiqüíssima ponte de madeira sobre o arroio de mesmo nome (onde é atual ponte da Cosulati), a Várzea do Fragata reunia uns míseros habitantes no início do século XX, a maioria agricultores. Havia também um ou outro pecuarista na região, porém sem maior prestígio.
Basicamente eram famílias provenientes de outras zonas rurais de Pelotas e que se estabeleceram ao longo da estrada, valendo-se da proximidade com aquela cidade e do tráfego de tropeiros. Viviam do cultivo de batata-inglesa, cebola, alho, milho, aspargo e batata-doce, e da criação de galinhas, perus, marrecos e vacas leiteiras. O arroz passou a ser cultivado bem mais tarde, já na década de 1940, por iniciativa da Família Manke.
Em 1938, com a criação do DAER, a Estrada da Várzea do Fragata passou à responsabilidade estadual e um zelador passou a morar ao longo do trecho, prestando serviços de manutenção.
Em 1941, numa modesta casa doada pelo Sr. Pedro Behocaray passou a funcionar um grupo escolar que possuía duas salas de aula e uma cozinha. Trata-se da atual Escola Barão de Santo Ângelo.
A maioria das casas era feita de torrão de barro e cobertas com palha santa-fé. As residências de alvenaria mais antigas, a que temos conhecimento, são três: uma próxima ao Supermercado Econômico, a qual se encontra, hoje em dia, somente suas ruínas e que pertencia a Família Schmidt; duas casas brancas próximas ao entrocamento da Avenida Três de Maio e da BR-293 que recebiam o nome de Vila Carret, pertencentes à família homônima.

Bairro Jardim América - Parte I


A área correspondente ao bairro Jardim América e ao Loteamento Zona Sul era parte de uma vasta zona de campos de macega brava denominada Várzea do Fragata – que ia desde o Passo do Salso até a Hidráulica. Contudo, essa zona não era delimitada com clareza, tanto que a área daquilo que é hoje o Parque Fragata era diferenciada com Várzea do Capão do Leão. O fato é que antes do surgimento do bairro Jardim América na década de 1950, a única via pública que existia era a Estrada da Várzea do Fragata, que também recebia o nome de Estrada do Capão do Leão. Nada mais era que a atual Avenida Três de Maio. Obviamente, como ainda não existia a BR-293, a ligação com a Vila do Capão do Leão era outra: após o fim da atual Avenida Três de Maio (junto à BR-293), percorria-se a Estrada da Hidráulica até a esquina da atual Rua Alexandre Gastaud; dali tomava-se o rumo do Teodósio, cruzando a ponte de mesmo nome, que antes de ser de alvenaria (1923), fora de madeira em tempos antigos.
Porém vamos explicar o surgimento da atual Avenida Três de Maio ou Estrada da Várzea do Fragata. Durante o século XIX quase a totalidade do gado vacum que ia para as charqueadas pelotenses era procedente da Zona Sul, Sudoeste (região de Bagé) e do Uruguay. Era o chamado gado da fronteira. Um tipo bovino até bastante ordinário, pejorativamente falando, pois era pequeno, de couro pegado, “degolado” (pescoço curto) e de aspas curtas. Um boi destes rendia aproximadamente 72 kg de charque por cabeça. Muito suscetível a doenças e parasitas, possuía uma qualidade genética inferior e até era um contra-senso econômico a sua exploração, somente compreensível pela forte demanda de matéria-prima que necessitava a indústria do charque. Pois bem, a partir de 1880, o gado da fronteira começou a sofrer concorrência do chamado gado serrano – procedente dos Campos de Cima da Serra, do Planalto Médio e das Missões. Embora ligeiramente mais caro, o gado serrano apresentava qualidades óbvias perante aos exemplares da fronteira: bois corpulentos, couro frouxo, aspas grandes e moles, pescoço exuberante, melhor qualidade genética e um rendimento de charque por cabeça superior (de 90 a 98 kg). Esse acontecimento está intimamente ligado ao surgimento da Estrada da Várzea do Fragata.
Quando se inicia a rota de tropeadas que trazem o gado serrano para Pelotas, o ponto de distribuição destas cabeças vai se localizar aproximadamente na região do atual município de Morro Redondo. Dali os tropeiros vão tomar vários caminhos até Pelotas. Entretanto, para o encurtamento de distâncias, muitos caminhos serão literalmente criados à pata de cavalo, entre eles, a Estrada da Várzea do Fragata.
Por isso, percebe-se que a Avenida Três de Maio e a Estrada da Hidráulica nada mais eram do que o conjunto de uma mesma via. Caminho este de tropeiros e tropeadas.

Cerca de Pedra no interior do Município




Cerca de pedra, em área rural do município do Capão do Leão, segundo a tradição oral, remonta ao "tempo dos escravos".
Cortesia: Depto. Municipal de Cultura, Turismo e Desporto
Projeto Turismo Capão do Leão
Trabalho da Escola Maria Bordalo de Pinho


Campo da atual escola Gabriela Gastal em 1981


Na foto, o grupo de pessoas que aparece é a população da Vila Gabriela Gastal. Estão observando o campo cedido para a construção de uma escola em 1981. Na ocasião, iniciavam-se as obras da futura Escola Gabriela Gastal.
Cortesia: Acervo da escola.

sábado, 5 de abril de 2008

A Melancia no Capão do Leão


“Aqui, conseguimos produzir 20 dias mais cedo do que nas demais lavouras, o clima é mais quente do que os outros municípios.”(De um produtor do Pavão que planta a melancia há cerca de 32 anos)

Embora o Capão do Leão tenha se notabilizado no passado (1ª. metade do século XX) devido à fruticultura, a melancia não figurava entre as espécies vegetais cultivadas no então distrito à época. Somente várias décadas após, já próximo de tornar-se município, é que o Capão do Leão começou a apresentar a melancia como uma de suas principais culturas agrícolas. Não se pode precisar com exatidão quando a melancia foi introduzida em terras leonenses, todavia tudo indica que foi a partir da década de 1950.
Dos fatores que levaram que vários agricultores passassem a plantar a melancia, alguns aparecessem em destaque: o clima do Capão do Leão é mais quente nos meses da primavera e do verão, em comparação com outros municípios da Zona Sul. Daí as plantações leonenses apresentarem uma precocidade maior. Condições de solo também propiciaram vantagens para a produção de melancia no Município. Porém, talvez tenha sido um motivo econômico que possibilitou que a melancia se tornasse uma fruta-símbolo de nossa terra.
A partir da década de 1970, agricultores que viviam do cultivo de frutas para a indústria conserveira local começaram a sofrer com os baixos preços de mercado oferecidos pelo produto. Isso foi particularmente observado no caso do pêssego. Para que se compreenda: como a produção de pêssego da Zona Sul normalmente se direcionava a agroindústria, esta fixava ano a ano os preços pagos ao agricultor. Bem, o produtor poderia então optar por vender o pêssego in natura, assim conseguiria um rendimento mais considerável do que ficar preso à necessidade de vender para indústria. Só que isso era uma loteria. Primeiramente, porque o valor pago em feiras e mercados poderia ser até bem mais baixo do que o pago pelas indústrias, sobretudo, se vários produtores optassem por este caminho. Em seguida, o não-aproveitamento imediato da produção, acarretava perdas causadas pelo transporte e pela estocagem. O leitor visualize o seguinte: é mais fácil tu venderes uma tonelada de pêssego diretamente a uma indústria de compotas, por exemplo, do que teres que vender a mesma quantidade em feiras e mercados do produto in natura. Aliás, o que acontecia com o pêssego, também tinha reflexos em outras culturas como o figo e o morango. Que solução poderia amenizar os problemas econômicos enfrentados pelos agricultores da região? Alguns optaram pelo fumo, porém muitos passaram a ver a melancia como uma interessante alternativa econômica.
De certa maneira rústica, rentável, sem interesse agroindustrial imediato, a melancia só podia ser vendida in natura. Os preços então eram regulados pelos próprios produtores e compradores. A partir daí, entra em cena um outro tipo de personagem histórico: o carroceiro. Foi graças a este que a melancia leonense popularizou-se como sinônimo de qualidade e sabor. Era comum observar nas décadas de 1970 e 1980, carroças atulhadas de melancia que tomavam o rumo do Fragata, via Estrada do Jardim América, em direção à Pelotas. Lá percorriam bairros e vilas vendendo a fruta.
Atualmente no nosso município a principal variedade plantada é a Crimson Swift. Destacam-se as famílias Marini e Camelato como os produtores mais antigos.

A Melancia


Seguramente, temos conhecimento que a melancia, se não é a fruta mais consumida do mundo, está entre aquelas que melhor se adaptaram ao paladar de inúmeros povos e culturas ao redor do planeta.”
(The Dictionary of American Food & Drink)

A melancia – fruto da melancieira (Citrillus vulgaris, Schrad) – é um dos frutos mais populares do mundo, sendo consumida e cultivada em várias regiões do planeta. Não se sabe desde quando a melancia faz parte da dieta humana, porém remonta a tempos pré-históricos. Agrônomos ingleses identificaram sua possível origem na região do Deserto do Kalahari, na África. A melancia tal como se conhece seria resultado da domesticação de uma espécie de fruta selvagem comum naquele local: a Tsamma (Citrillus lanatus var citroides). Os primeiros registros históricos do cultivo da melancia datam de 3.000 a.C. no Egito Antigo, onde era considerada preciosa entre o povo, sobretudo por sua capacidade de armazenar água, qualidade mais do que óbvia numa região desértica. Na mitologia egípcia, a melancia era apreciada como uma dádiva, tanto que se supunha que fosse resultado da aspersão do sêmen do deus Set sobre a terra. Em tumbas de faraós, arqueólogos encontraram sementes de melancia e descobriu-se que isso era feito conforme a crença que a fruta serviria para alimentar o defunto no além-túmulo. Ainda na Antigüidade, a melancia transpôs a África e chegou à Ásia, percorrendo todo o continente, da Palestina ao Japão. Em qualquer lugar que fosse introduzida, logo adquiria grande aceitação por parte das populações nativas. Ao chegar à China, por volta do século X de nossa era, seu cultivo expandiu-se tão rapidamente, que este país foi considerado a pátria da origem da fruta, dado a grande quantidade de produção de melancia. Mesmo sendo esta uma hipótese totalmente incorreta, atualmente este país é o maior produtor mundial de melancia. Por volta do século XIII, os árabes introduziram a fruta na Europa, onde foi primeiramente conhecida como “melão-d’água”.
No século XVI, a melancia chegou às Américas, fato que inúmeros historiadores apontam como causa sementes que foram levadas por escravos africanos em navios. No Brasil, as primeiras plantações de melancia datam do século XVI. Cultivada inicialmente na Bahia, foi trazida para as capitanias do sul da colônia (São Paulo e Rio de Janeiro) no século XVIII durante o ciclo da mineração. O caráter de alimento popular nunca se perdeu e era comum observar nas feiras de interior grandes amontoados de melancia vendidos a preços módicos. Muito embora, somente no início do século XX, devido ao trabalho pioneiro dos imigrantes japoneses em São Paulo, esta cultura agrícola adquiriu uma produção essencialmente comercial, ultrapassando os limites da mera subsistência ou de um pequeno mercado local.
No Rio Grande do Sul, a melancia é conhecida e consumida desde os primeiros tempos da colonização, estando muito bem documentado tal fato no conto de João Simões Lopes Neto: “Melancia e Coco Verde”. Entretanto, somente nas últimas décadas é que a melancia granjeou importância considerável economicamente no estado, tanto que, atualmente, o Rio Grande do Sul lidera no País a produção agrícola da fruta. São as principais regiões de cultivo: Centro-Sul, Vale do Rio Pardo e Zona Sul.

Assim eram os carreteiros...

Imagem encontrada no site: http://www.prati.com.br
Trata-se de um desenho de 1851, feito na cidade de Pelotas que, entre outras coisas, mostra como eram as carretas de boi (parte superior) utilizadas na época das tropeadas - fato, inclusive, que marcou muito a nossa localidade de Capão do Leão.