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domingo, 31 de outubro de 2021

Alemães na cidade de Pelotas

 



Os alemães constituíram uma nação independente somente em 1870, porém migrantes oriundos da Europa de língua germânica já são percebidos em Pelotas desde a década de 1820. Na ocasião da Guerra da Cisplatina (1825-1828), o Império do Brasil contratou muitos soldados mercenários estrangeiros para combater no conflito e houve vários militares da antiga Prússia que foram utilizados. Parte deles tinha como quartel-general a cidade de Pelotas, sendo que alguns não retornaram à Europa no fim dos combates, estabelecendo-se na cidade.

            Também ocasionado pelo fenômeno atrativo das charqueadas, muitos alemães foram migrando para a cidade no decorrer do século XIX de forma independente, empregando-se nas mais diversas atividades, passando pela indústria, educação, ramo farmacêutico e artesanal. Pelotas teve consulados oficiais do Grão-Ducado de Oldemburgo e da Cidade Livre de Hamburgo antes de 1870, evidenciando assim a forte presença germânica no cotidiano da cidade. Os alemães tiveram nesta época um papel importantíssimo na evolução da Imprensa da cidade. Mais para o fim do século XIX, os alemães ocuparam-se com fábrica de velas, curtumes, processamento de fumo, cervejarias, chapelarias, fábrica de sabonetes e perfumes, fábricas de alimentos, ferragens, padarias, grandes armazéns, bazares, lojas de confecções e roupas e até olarias.

            A mais representativa sociedade alemã da cidade é a Sociedade Recreativa Quinze de Julho, situada à Avenida Fernando Osório, fundada em 15 de Julho de 1951. Antes, porém, houve na cidade diversas entidades que agrupavam os membros da comunidade alemã, dentre elas: a Sociedade de Beneficência Alemã (1858), Clube de Tiro Alemão (1876), Sociedade Germânia (1880), Clube Alemão de Gymnastica (1888), Clube de Regatas Alemão (1898), Sociedade Concórdia (final do século XIX), Sociedade de Assistência à Saúde Alemã (final do século XIX) e Jardim Ritter (final do século XIX).

            A presença marcante das igrejas Evangélica Luterana do Brasil e Evangélica de Confissão Luterana do Brasil na cidade evidencia a forte presença germânica no percentual da população. Basicamente em todos os principais bairros e comunidades do interior os luteranos são presentes e ativos com diversos templos religiosos. A organização da comunidade luterana pelotense remonta ao ano de 1884.

            Os alemães de Pelotas são procedentes principalmente de regiões que hoje correspondem aos estados alemães da Baixa Saxônia, Schleswig-Holstein, Saxônia-Anhalt, Hamburgo, Saxônia, Renânia do Norte-Vestfália e da região histórica da Pomerânia (que trataremos a seguir). Isso não significa que não houve migrantes de outras regiões, como é o caso do patrono de nossa escola, Jacob Brod, que era originário da aldeia de Liesenfeld, município de Coblença, Renânia-Palatinado, Alemanha.


            Os alemães não vieram a Pelotas somente para trabalharem no meio urbano. Houve a chegada de inúmeros imigrantes alemães (incluem-se os pomeranos) para as colônias agrícolas localizadas na região da Serra dos Tapes durante a segunda metade do século XIX, sendo elas: Lopes, Arroio do Padre, Cerrito, Santa Clara, Santa Silvana, Arroio Bonito, São Domingos, Santo Antônio, Arroio Grande, Continuação, Aliança, Municipal, Santa Colleta, Santa Helena, Retiro, São Luiz, Santa Áurea, Marina, Santo Amor, Santa Eulália, Progresso, São Manoel, Santa Maria, Santa Bernardina, Santa Rita, Triunfo, dentre outras com um número menor, normalmente associada a outras nacionalidades.

            O bairro mais identificado com a comunidade alemã em Pelotas é o bairro Três Vendas, onde se encontram inúmeros empreendimentos administrados por descendentes de alemães.

 

Fontes:

ANJOS, Marcos Hallal dos. Estrangeiros e Modernização: a cidade de Pelotas no último quartel do século XIX. Porto Alegre/RS: PUC-RS, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História do Brasil, Dissertação de Mestrado, 1996.

BECKER, Klaus. A imigração no Sul do Estado do Rio Grande do Sul. In: BECKER, Klaus (org.). Imigração. Canoas/RS: Editora Regional, 1958.

FONSECA, Maria Angela Peter da. Presença alemã em Pelotas-RS, século XIX: estratégias de resistência à assimilação cultural. In: X ANPED SUL, Florianópolis, out. 2014, pág. 05-11.

ULRICH, Carl Otto. As colônias alemãs no sul do Rio Grande do Sul. In: Ensaios FEE, Porto Alegre, n.05, v.02, 1984, pág. 57-74.

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