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terça-feira, 2 de julho de 2019

Comemorações de Carnaval no Rio Grande do Sul - 1904


"O Club dos Pierrots festejará este anno o carnaval pela maneira seguinte:

Dia 13 - Ás 10 horas da noite sairá a estudantina acompanhada de Zé-Pereira, percorrendo as principaes ruas da cidade e visitando diversas casas de familia.

Dia 14 - Ás 3 horas da tarde, irá cumprimentar, em sua residencia, o respectivo presidente alferes Peixoto de Vasconcellos e a imprensa local.

Ás 5 horas, irá á residencia do nosso amigo, tenente-coronel Aurelio de Bittencourt, e, após, á Associação dos Empregados no Commercio e outras pessoas.

Dia 15 e 16 - Visitará diversas casas e nesse ultimo dia dará tambem retreta na praça Senador Florencio e fará um passeio burlesco."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 10 de Fevereiro de 1904, pág. 02, col. 05

"Jaguarão

(...)

Os clubs Jaguarense e Harmonia preparam-se com ardor para festejarem condignamente o carnava deste anno, havendo grande enthusiasmo não só das famílias como da mocidade."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 12 de Fevereiro de 1904, pág. 01, col. 02

"Á roda do dia

O CARNAVAL

Outr'ora, quando chegava por esta época, todo o mundo já andava num alvoroço nunca visto, ou ás voltas com o entrudo, que começava na bisnaga e não raro vinha a acabar no balde d'agua, ou aos empuchões com os ultimos preparativos dos cortejos triumphaes e burlescos, que eram, na verdade, o duplo regalo do publico e nos quaes os nossos maiores encontravam a satisfação do goso do bello e os meios de castigar os usos e abusos do tempo.

As escaramuças, que, aliás, vinham se fazendo desde um mez atraz, com enthusiasmo cada vez mais crescente, subiam então ao delirio, a partir da noite de sabbado e, tomando as proporções de uma batalha, recrudeciam e assim se mantinham até altas horas do ultimo dia de folia.

Nos dias consagrados aos tradicionaes folguedos presididos por Momo vivia-se, por assim dizer, por um anno inteiro, pois que nelles se realisavam as aspirações e desejos accumulados nesse periodo e por elles passavam, glorificados ou estigmatisados, os homens e factos que mais haviam dado que dizer de si no tempo ahi decorrido.

Não ha duvida que o carnaval, sob esse aspecto, tinha adquirido um certo característico moral, que resultava da alliança do util com o agradavel. Mas, como elle nada mais era do que um resto das bacchanaes e das saturnaes dos antigos, ainda que muito desfigurado, a nova face que lhe deram parece que o desnaturou, impopularisando-o de tal fórma que não lhe ficou outro caminho a não ser o de fugir dentre nós...

Os prazeres, quaisquer que sejam os seus moveis, tê-lo disto, não se lhes póde pôr limite. E, comprehende-se bem, com expõe ao publico os defeitos e fraquezas sociaes e humanas, o Deus tornou-se terrivel e temido, e o receio de virem a ser objecto dos que se rissem por ultimo, fez que os que agora seriam a custa de outros lhe fossem, pouco e pouco, voltando o rosto e [ilegível] lhe déssem as costas.

Ao inverso das glorificações, que serão tanto mais solemnes e exemplares quanto puderem se individualisadas, a estigmatisação, os costumes e abusões nao logram seu fim, quando não fôr absolutamente impessoal, quando saia do amplo circulo da generalidade.

Momo não quiz attender a estas considerações e, devassando os lares cujas portas se lhe abriram de par em par, e onde entrara na confiança communicativa das alegrias descuidosas, sem refolhos, não vacillou em levar para o meio da rua até o infortunio que, acaso, ahi deparou e em transformal-o em motivo de irrisão publica. Constituia-se, pois, uma ameaça, um perigo que pesava sobre todas as cabeças, sem exclusão mesmo daquellas que por um poderio todo fortuito, como fortuita é a sorte humana, eram os seus favoritos momentaneos.

Os nosso predecessores, a este respeito, foram assaz egoistas, intromettendo nas expansões do carnaval as paixões de que, homens que eram, estavam cheios e não cuidavam de soffrear de qualquer modo.

Fizeram bem? Fizeram mal? Eis o que a outros cabe dizer, si virem que alguma vantagem ha nisso; quanto a nós, constatando ahi uma influencia historica, nos conformamos inteiramente com o triste destino que teve entre nós o Deus decaido e que reduziu a sua côrte, do esplendor dos outros tempos, a uma miseria franciscana.

Não é a saudade que nos faz volver os olhos para cousas que se iam do mundo, quando nós entravamos nelle; e, sim, um sentimento compassivo que os prazeres e as alegrias doudas e impensadas sempre suscitam a quem tem a fortuna de as conhecer atravez das almas alheias.

O carnaval, talvez, nos fosse muito bom, si elle podesse ter chegado até a presente, sem a pretenção educativa de que o revestiram, pondo-lhe á mão a férula do pedagogo e pedagogo que mais lembrava o rispido Amansa...

Não o tendo sido, porem, melhor fôra mesmo, para que hoje não estivesse a nos dar dôr de cabeça, que elle se houvesse chrystalisado no <<Zé-Pereira>>, feição typica e grotesca com que mal lhe é dado se nos apresentar na actualidade dos classicos dias que tão gordos já foram no passado.

Entretanto, isto não quer dizer que, aquelles que ainda rendem a Momo vassalagem, não lhe vão levar no tugurio onde vegeta os seus preitos e homenagens, ao som do zabumba ensurdecedor e infernal, e dahi até o arranquem para conduzil-o, pela calada noute, a ver a que estão reduzidos os seus dominios.

Pela nossa parte não o fariamos jámais, certos de que não ha golpe maior e mais deshumano do que accordar na alma de um desgraçado a opulencia, a grandeza, a felicidade que lhe fugiram para todo o sempre!

Mas, nem todos entenderão assim e, neste caso, o velho Deus que se avenha como puder, e não fará mais do que as não poucas victimas que foram sacrificadas em sua antiga e magestosa ara.

Amor com amor se paga...

A. Ribeiro."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 15 de Fevereiro de 1904, pág. 01, col. 05-06

"Carnaval

Continuaram hontem os festejos do carnaval.

Á tarde principiou a ser notavel a concorrencia á rua dos Andradas, augmentando consideravelmente até a noite.

Uma banda de musica da Brigada militar fez-se ouvir em varios pontos e o Club dos Pierrots com sua bem organisada estudantina tocou defronte ao Preço Fixo, Ferro Carril, etc., sendo bastante apreciado.

O jogo de bisnagas, confetti, etc. prolongou-se até as 10 1/2 e grupos á phantasia com orchestra percorriam a rua, onde até áquella loja era avultada a concorrencia.

Na melhor ordem prolongou-se até até a madrugada de hoje o baile realisado no theatro S. Pedro.

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Como já noticiamos, realisa-se hoje o baile á phantasia da sociedade Leopoldina.

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Tambem a Germania effectua hoje outro baile á phantasia.

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No S. Pedro, mais outro masqué terá logar hoje.

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O club Cara-Dura sairá hoje á tarde com o Zé-Pereira e carros de critica, percorrendo varias ruas da capital.

A estudantina do Club dos Pierrots tomará parte no prestito, fazendo guarda de honra.

Após a passeata, o prestito fará entrada no Theatro-Parque."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 16 de Fevereiro de 1904, pág. 02, col. 03

"Dôres de Camaquam

Escrevem-nos:

<<Pela primeira vez se levou a effeito o carnaval nesta villa, por iniciativa do nosso amigo, o solicitador Manoel Jorge de Azevedo, que foi incançavel e tenaz para a execução do respectivo programma, encontrando toda a boa vontade da parte d'aquelles a quem consultou e concorreram com o seu valioso contingente.

No domingo 7, ás 4 horas da tarde um numeroso grupo - <Zé Pereira> - e varios mascaras, ao som de instrumentos de pancadaria e alguns de metal, ao esturgir de foguetes, percorreram as ruas e praças da villa, annunciando os folguedos do deus Momo, recolhendo-se depois á sua caverna.

No sabbado seguinte, 13, á tarde, o mesmo - <Zé Pereira> -, devidamente encasacado, arvorando enormes chapeus altos, sahiu da caverna, no extremo da rua Augusta, a principal da villa, e ruidosamente foi receber o velho carnaval que vinha acompanhado de vistoso sequito, em viagem pela estrada que vem de Camaquam, encontrando-se os dois grupos em uma ponte de madeira que atravessa um arroio nos limites urbanos.

Ahi feitos os cumprimentos do estylo, dirigiram-se á casa do intendente municipal, aquem apresentaram as suas saudações, declarando o fim a que se propunham e offerecendo-lhe os retratos de alguns dos comparsas do grupo carnavalesco em chistosas caricaturas, feito o que percorreram a villa recolhendo-se á referida caverna.

No dia seguinte, achando-se embandeirada toda a rua Augusta até á praça, com galhardetes, bandeiras, signaes e flamulas, a tarde apenas percorreram a villa varios grupos de graciosos mascaras, devido a circumstancias que adiaram o passeio á phantasia para o dia seguinte.

Segunda-feira gorda, ás 5 horas da tarde, da mesma caverna começou a desfilar o vistoso prestito do passeio á phantasia.

Puxavam os mesmos como batedores, dois vistosos indios representando as duas Americas, montados a cavallo, correctamente carecterisados, com cocares e tangas de pennas, arcos e frechas.

Seguiam-se um carro representando um perfeito vapor de dois mastros, devidamente embandeirado, com fornalha, canos, regulados, apitando e lançando fumarada, sob a direcção de um bem caracterisado machinista.

Á pôpa achava-se sentada a rainha da festa entre dois pagens escudeiros, sendo ella a menina Doralina e elles os meninos Arlindo e Deoclecio, os dois primeiros filhos do nosso referido amigo Azevedo e o ultimo do nosso amigo Antonio Nogueira Barbosa, cujas creanças estavão vistosamente trajadas, representando no vestuario as côres da bandeira nacional.

Mais a ré achavam-se de pé um garboso almirante, um impassivel lord e não orgulhoso moço fidalgo, todos perfeitamente caracterisados, vestindo o ultimo uma genuina casaca ou fardão verde negra, completamente e ricamente bordada a ouro, que custou ao seu finado proprietário quinhentos mil réis, isto ha oitenta annos; guarnecendo o mesmo barco de meia nau para a prôa, varios marinheiros navaes.

Logo após vinha um grande carro conduzindo um gracioso grupo de muitos meninos, em duas alas, uniformisados de blusa e calça vermelhas e barrete phrygio, com o numero cinco dourado, representando um regimento de cavallaria republicana, armados de cinturão e espada, commandados por um adulto bellamente fardado como tenente-coronel.

O terceiro carro conduzia, montado sobre uma grande pipa, o nedio e rubicundo deus Baccho, de uma immensa obesidade, coberto de verdes parras, tendo em uma das mãos um copo e na outra uma garrafa, bamboleando-se naturalmente pelos effeitos dos vapores do sumo da uva.

Fechava o prestito o club de marinheiros navaes, embarcados em um vistoso escaler, perfeitamente uniformisados e remando, commandados por um correcto cabo ou mestre guardião.

Foi abundante, a desfilar dos carros de prestito, o jogo de confetti, petalas, folhagens e banquets.

Terça-feira teve logar o passeio burlesco, á tarde, constando de numerosos mascaras e chistosas criticas, em avultado numero, que com suas pilherias, esgares, tregeitos e momizes provocavam gostosa hilaridade.

Esteve animado o jogo do entrudo que constou de confetti, flores, extractos aromaticos e de farinha e polvilho, sendo abolido por completo o jogo da agua.

Abrilhantou os festejos a banda de musica do velho maestro Henrique Voltz, que nos dois ultimos dias acompanhou os prestitos."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 02 de Março de 1904, pág. 01, col. 07


"Não passou desappercebido este anno o carnaval em Caxias.

No domingo um grupo de apreciadores do deus Momo foram esperar o <<Carnaval>> em S. Pellegrino e o trouxeram em charola até o centro da villa.

Na segunda-feira sahiram carros conduzindo diversas mascaras em grotesca exhibição, alem de diversos mascarados avulsos que percorreram algumas ruas.

Na terça-feira repetiu-se a passeiata dos mascaras em grupos pelas ruas e realisou-se um animado baile à phantasia nos salões do sr. A. Chittolina, prolongando-se até [ilegível]."

Fonte: O COSMOPOLITA (Caxias do Sul/RS), 21 de Fevereiro de 1904, pág. 02, col. 03

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