"O processo de construção dos ranchos aconteceu em paralelo com o desenvolvimento das atividades agrícolas. Logo que possível, os agricultores tratavam de adquirir uma vaca para o fornecimento do leite, uma junta de bois para arar a terra, algumas galinhas e assim por diante. Isto implicava na demarcação de um potreiro para pastagem do gado e na construção de abrigos para os animais, especialmente para garantir sua segurança. Como, por tradição herdada de sua terra de origem, os colonos alemães criavam uma variedade bastante grande de animais, é claro que pretendiam reproduzir no Brasil o seu modo de vida tradicional. Na medida em que iam ampliando as terras para cultivo, deixavam as terras mais exploradas para a plantação do pasto, fixando um local específico para os animais, ao contrário da Alemanha, onde anualmente mudavam de local. Por outro lado, junto à casa iam surgindo construções menos requintadas, que serviam de abrigo dos animais e ao pleno desenvolvimento das atividades agrícolas, como o abrigo das carroças e apetrechos da agricultura, à guarda dos cereais e produtos agrícolas. Vagarosamente, por influência dos nativos ou dos que já estavam há mais tempo aqui, os imigrantes foram aprendendo a lidar com as culturas tropicais como o milho, a mandioca (e a produção da farinha e do polvilho), os diversos tipos de batata e a cana de açúcar que aprenderam a transformar em melado (Muss), açúcar mascavo, rapadura e até mesmo em cachaça. Para tanto, acabaram por adotar a moenda e o panelão para cozinhar o caldo. Isto, obviamente, implicava na construção de novas edificações ou telheiros dentre os quais uma das mais importantes era o forno de pão.
Normalmente construía-se um prédio para cada função, resultando daí um número relativamente grande de edificações que eram ordenadas em torno de um pátio que os alemães chamavam de Hof, palavra que também significava o conjunto de todas as edificações da propriedade e, até mesmo, a propriedade como um todo. Por vezes, algumas funções podiam ser associadas sob um mesmo teto como o abrigo para a carroça, o depósito de milho e o estábulo ou o chiqueiro. Nestes casos, a estrutura mais frequente é a do Hallenhaus dos saxões, com um espaço central aberto para os veículos, um lado para a baia dos animais e o outro para depósito da colheita.
Numa sociedade onde a carência material era a condição comum, não é de imaginar que todos se empenhassem ao mesmo tempo em construir todas estas benfeitorias. Construções que exigiam uma certa sofisticação como a moenda, eram eventualmente construídas em parceria e utilizadas comunitariamente. Através de compromissos de ajuda mútua, serviços e instalações devem ter sido utilizados sob forma de empréstimos eventuais ou temporários.
Desta forma, cada sítio colonial foi crescendo e tomando formas mais complexas. Dentre as diversas construções, uma das últimas era a moradia definitiva."
Fonte: WEIMER, Günter. Arquitetura enxaimel em Santa Catarina. Porto Alegre/RS: L&PM Editores, 1994, pág. 50-52.
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