Malandro é malandro. Ainda mais quando se trata da infame prática do abigeato, tão comum aqui nos campos do sul e que causa tanto prejuízos a nossos criadores. Só que alguns roubos, apesar de serem sempre condenáveis, são passados à memória por seu aspecto folclórico.
Havia um senhor de origem alemã na região do distrito (?) de Domingos Petroline, em Rio Grande, que, entre várias atividades agropastoris a que se se dedicava, tinha uma criação de porcos. O sujeito era zeloso com a criação e mantinha uma rigorosa vigilância sobre os porquinhos. Já haviam lhe causado prejuízos no passado e ele não queria novamente ter que sofrer um outro dano.
Por outro lado, na mesma região, dois sujeitos extremamente ladinos estavam há algum tempo articulando uma forma de roubar os porcos do alemão, mas sabiam que não seria tarefa fácil. Os dois malandros (pai e filho) descobriram que o tal alemão gostava de duas coisas em particular: de uma boa conversa e de ser adulado. O pai não se tardou em visitar o alemão com uma cuia de chimarrão na mão, demonstrando muito interesse nas coisas que o alemão plantava e criava e disposto a elogiar o agricultor o tanto quanto fosse possível. O alemão recebeu o malandro meio que desconfiado, conhecia o homem mais de vista, tinha conversado algumas vezes com o mesmo e estava muito atarefado no momento. Mas o malandro (o pai!) soube já de início demonstrar uma simpatia incomum pelo trabalho do alemão, perguntando-lhe as mais diversas coisas e conferindo uma importância ao seu conhecimento de coisas de campo quase venerável. E não foi que o alemão caiu na lábia do sujeito!
Não demorou muito, o alemão chamou o malandro-pai para a varanda da casa para sentarem-se e até pediu à esposa que preparasse umas pipocas para melhor receber o convidado. Entre cuias de chimarrão e muitas conversas, o malandro-pai cautelosamente dá um sinal por meio do telefone celular ao malandro-filho que está com uma camionete estrategicamente estacionada numa capoeira nos fundos da propriedade do alemão. O malandro-filho recebe o "sinal" e prepara o roubo.
Munido de vários pedaços de pão embebido na cachaça mais vagabunda e forte, o malandro-filho vai dando os nacos aos porquinhos que avidamente devoram aquela "iguaria". Não dá dez minutos, vários porcos estão no chão anestesiados e o malandro-filho faz rapidamente o trabalho de prender as patas dos bichos com uma corda e carregá-los para a caçamba da camionete, sendo que alguns ele já havia abatido ali mesmo. A fartura do roubo se justifica: entre abatidos e ainda vivos, a camionete fica apinhada com pelo menos uns dezesseis porcos. Sempre silencioso, o malandro-filho arranca com a camionete, toma a estrada e dá o sinal de retorno para o malandro-pai via telefone celular. O malandro-pai recebe a mensagem, desculpa-se com o alemão pois haveria de sair rapidamente devido a um imprevisto e se despede, porém puxando o saco do alemão ainda mais e prometendo voltar.
No fim do dia, o alemão ainda muito orgulhoso em ter compartilhado seus conhecimentos rurais com um "grosseirão", vai dar farelo aos porcos no galpão dos fundos e descobre o infeliz acontecido. Coitado!
Na estrada mais adiante, o pai e o filho se encontram e comemoram a façanha. Entre outras coisas, o filho curioso pergunta ao pai o que ele havia feito para manter o alemão tão entretido. O pai ladino muito cafajeste emenda:
- Perguntei a ele como se fazia para criar porco! O sujeito me explicou tudinho.
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