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segunda-feira, 18 de abril de 2016

Saqueadores brasileiros durante a Guerra do Paraguay


A violência fora do contexto do campo de batalha acompanha as guerras. O Rio Grande do Sul diretamente envolvido com a Guerra do Paraguay é palco de suas consequências. Por isso separamos estes preciosos apontamentos sobre o tema.

Trechos que extraímos da obra de: DOURADO, Maria Teresa Garritano. A História esquecida da Guerra do Paraguai: fome, doenças e penalidades. São Paulo, Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em História Social, Depto de História, USP, 2010.


Interessante a correlação com a Lenda do Baú de Moedas de Ouro publicada neste blog em março de 2010. Leia!


"Provavelmente algumas medidas eram tomadas quando havia reclamação das pessoas lesadas. É preciso enfatizar que em tempo de guerra não só os soldados praticavam saques e roubos; a população, de um modo geral quando fugia do invasor, deixava suas casas abandonadas, sendo estas frequentemente saqueadas por moradores da região. O Padre Gay relatou casos de saques nas Vilas de Itaqui e São Borja, praticados por paraguaios, mas que era impossível dizer e saber quais foram os autores de tamanhas desordens. 552 Desertores, malfeitores e saqueadores brasileiros percorriam estâncias e casas abandonadas roubando e destruindo tudo que podiam e que foi deixado pelas forças paraguaias. Esclarece o Padre Gay, que foi determinado o saque de Itaqui, no dia 12 de junho de 1865 sendo feito unicamente pelo Frade Duarte, que lançava sua bênção à entrada das casas, para purificar as pisadas dos perros brasileiros e pelo Coronel Estigarribia, que recebeu instruções para entregar as vilas ao saque de seus soldados, devendo elas ser franqueadas aos oficiais e ao exército somente no dia 13, sendo preparadas umas 50 carretas para receber os objetos mais preciosos e que foram levados ao Paraguai.

É interessante observar que, quando os soldados estavam em outro País, o saque, o roubo, a destruição e o vandalismo eram mais intensos e, de um modo geral, não eram coibidos, certamente não eram penalizados e posso afirmar até que eram aceitos como atos normais em situações bélicas. As cartas do Marechal Câmara a sua esposa, Maria Rita, dão uma ideia de que no território inimigo, quem achasse era dono e podia ser tomado à vontade. Numa delas, por exemplo, ele comunicou que vai enviar para ela um rosário que estava nas  mãos de uma imagem de Santa Rita e, aos dois filhos Felipe e Alfredo, duas condecorações encontradas no carro do López. Noutra carta informou que “tenho um Menino Jesus, que encontrei no acampamento do Galeano, feito de madeira, muito pequenino, que guardarás para ti.” Numa última carta avisou que “o Juca leva-te uma peça de morim para camisas dos meninos e umas velas feitas de carvão de pedra, que pertenciam ao López, fabricadas em Assunção” . (p 173-174)

"Dionísio Cerqueira relembrou detalhadamente o caso de dois soldados brasileiros que foram castigados com espada de prancha, pelo assalto a um oficial argentino para roubar, crime para o qual estava prevista a pena capital no 18º artigo de guerra, e que não foram levados a julgamento pela Justiça Militar. Declarados mortos pelo médico, possivelmente na tentativa de salvá-los, reapareceram tempos depois para espanto de seus companheiros. O próprio Cerqueira justificou que os generais comandantes do Corpo do Exército, impedidos de aplicar a pena de morte, que era uma prerrogativa do Imperador, preferiam a punição imediata em lugar de deixar a questão a cargo do tribunal que se arrastava em longas discussões, alegando que a demora na aplicação da justiça enfraqueceria os princípios de autoridade, disciplina e respeito mútuo entre superiores e inferiores." (p. 177)

"O clima de oposição foi frequente contra os brasileiros, constatado através de uma tentativa de extermínio contra a Brigada Netto. Os vendedores correntinos Pedro Galazza e Eloy Medina entraram no acampamento vendendo pão com vidro moído, o que acarretou graves doenças em todos os soldados que o comeram, sendo medicados pelo 2ºCirurgião da Brigada, Dr. Ulisses Pontes. Os comerciantes foram presos e enviados para Buenos Aires, sendo posteriormente soltos porque o Dr. Molina, cirurgião do exército argentino, declarou que tendo feito experiências não encontrou no pão apreendido nenhuma substância prejudicial à saúde. Entre a afirmação de um médico e a negativa de outro, salvaram-se os réus." (p 178)




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