Páginas

terça-feira, 26 de maio de 2015

Almanaque de Pelotas 1862 - Parte 1

Primeira página da edição de 13 de Setembro de 1910 do jornal "A Opinião Pública" de Pelotas
NOTA: Transcrição da cópia publicada em 21 partes em diversas edições do periódico “A Opinião Pública”, de Pelotas; a primeira parte surge na edição de 13 de Setembro de 1910 e a última parte na edição de 10 de Outubro do mesmo ano. Foi conservada a grafia original. Autor: Joaquim Dias. E-mail: joaquimdias.1980@gmail.com


Almanack do anno de 1862
                Publicado em Pelotas, por Joaquim Ferreira Nunes, na typ. á rua da Igreja n.62
_____________________________________________________________________________
O ALMANAK
                Meus charos leitores, e amaveis leitoras, tivessem mui boas festas, boas sahidas de extincto, e melhores entradas do anno 1862. Eis o que de coração e pela oportunidade do ensejo, lhes posso dizer.
                Os leitores sabem perfeitamente o que é um ALMANAK: por consequência fazer-lhes uma explicação clara e precisa do que é e do que vale este livrinho, creio que seria uma loucura.
                Não ignorão pois, que em um ALMANAK, o mais interessante não é sempre  o calendário, nem os dias de galla, nem as efemérides; isto esta provado: por esta razão, não instamos muito com o nosso colaborador, para que preparasse a folhinha, deste bem aventurado anno de 1862 que promete vir menos calamitoso que o finado, de terrível memoria.
                Não julguem que essa denominação é exagerada; pois não: lembrem-se da catástrofe de Mendonza, das mortes, do rei de Portugal e seu augusto irmão; dos apuros do Papa e da morte do Conde de Cavour.
                Qualquer destes acontecimentos foi uma verdadeira calamidade, sentida por todos, e por todos deplorada. Tomamos parte na dôr geral, portanto, damos qualquer desses assumptos discutidos.
                Adiante.
                Prescindindo da FOLHINHA, (por este anno só) resta-nos a parte instructiva e recreativa, para hir em seguimento á parte comercial, que é sempre a que mais interessa e a que menos recreia. Para esse fim, fiz-mos um apelo á mocidade talentosa do paiz, a fim de cada um vir enriquecer o nosso pequeno ramalhete com uma perfumada flor de seu vasto jardim. Foi um appelo em vão, ou como diz o rifão: - CLAMAR NOS DECERTO.
                A nossa mocidade, perdida no turbilhão de bailes, festas, theatros e cavalinhos, deixem as suas flores perderem-se no rodominhar de uma walsa; dispersarem-se no estoirar de foguetes; e confundir-se n’uma mutação de scena, em evoluções equestres de uma Mistriz de azulados olhos, frios e embaciados como os nevoeiros de sua patria.
                A mocidade cruzou os braços, e emquanto sós por sós, luctavamos energicamente contra mil dificuldades, ella, espectadora impassível, esperava o resultado da lucta para então tomar parte. O resultado não se fez esperar.
                Se não nos orna a fronte a corôa do vencedor, também nos não cabe a vergonha dos vencidos, mórmente quanto o combate era tão desigual.
                Levamos ao cabo a nossa missão, senão com gloria, ao menos com consciencia.  O ALMANAK de 1862 é uma prova: ele ahi vae, talvez incompleto, mas cremos que perfeito.
                Em uma publicação desta ordem, quando todos os cuidados são poucos, vendo-nos sós, não podia de ser assim, e podemos dizer mesmo, que foi uma victoria poder realisa-la, a dispeito dos AUGURES que lhe prognosticavão a morte no hymbrião.
                Porém o ALMANAK nasceo, hade criar-se, e de anno para anno, corrigindo uma falta, segmentando um artigo, hade attingir a perfeição, realisando nossas esperanças e fundamentando nossas promessas.
                Eis o fim que esperamos alcançar, para que trabalhamos, para que nunca deixaremos de trabalhar.
                Oxalá os leitores comprehendão assim o nosso ALMANAK, aceitam-no apesar de suas falhas, e nos coadjuvem com o seu contingente para o do anno seguinte. Farão desse modo um serviço a seu paiz, e tornar-se-hão credores da estima e gratidão que lhe proferem. – O REDACTOR DO ALMANAK.
_____________________________________________________________________________
                Eis-nos chegado ao fim do ALMANAK PELOTENSE para o anno de 1862. Aquillo que muitíssimas pessoas julgavão irrealizável, acha-se hoje executado; é verdade que, não poucos forão os sacrificios e esforços que fizemos para apresentar ao nosso publico uma obra desta natureza.
                Não se pode duvidar que é um trabalho de summa importância e auxilio para todos, infelizmente apesar d’isso, custa-nos a dizer que tentando nós todos os meios para apresentarmos um trabalho regular, baldado foi todo o nosso cuidado em pedir a uns e outros notas e esclarecimentos necessarios para formarmos o nosso ALMANAK; por isso ufanos podemos afiançar que o que hoje apresentamos, embora incompleto é fructo especial do nosso trabalho, esforço e zelo; não tivemos aquelles recursos com que contávamos e que nos voluntariamente nos havião prometido. Paciencia! O primeiro passo esta dado.
                Ainda existe entre nós um prejuízo, e não pequeno, que deve ser removido, afim de não obstar a marcha dos progressos materiaes desta boa terra, e vem a ser: quando se tenta uma empresa qualquer e esta apresenta algumas dificuldades, que com um pouco de paciencia e boa vontade de todo desapparecerão, gritão logo que é impossivel, que não é para nossos dias, que só d’aqui para cem anos, etc., etc.
                Quando estas e outras insinuações chegão a desanimar os Rothschilds, nas menores tentativas, o que será de nós pobretões, que só comnosco contamos?
                Eis não hade ser nada, não ha tempestade que se não acalme. Já agora prosseguiremos impavidos, qual intrepido nauta ao furor das tempestades, e dos escolhos que povoão o vasto oceano das difficuldades.
                Pretendemos para o anno apresentar ao nosso respeitável publico um ALMANAK, senão completo, ao menos regular. Irá seguido de artigos interessantes, poesias, charadas, etc. conhecemos perfeitamente que o que agora apresentamos está mui incompleto, mas nós temos muita confiança no antigo adagio: - DE VAGAR SE VAE AO LONGE.
                Ao finalisarmos este pequeno cavaco, pedimos a todos nossos favorecedores hajão de desculpar as faltas que involuntariamente se tenhão dado na presente obra. – DA REDACÇÃO.

DUAS PALAVRAS AOS LEITORES
RIDENDO, CASTIGAT MORES
                No momento que veio me a idéa fazer um almanack, qual vos apresento, minha única ficção foi poder dar-vos um meio mais facilitoso d’esta ou d’aquella pessoa onde residia, e conjunctamente adaptar charadas, enigmas, logogryphos, anedoctas, e mais diversões, que por ventura os meus amaveis leitores queirão mandar inserir: afiançando-vos que além do util, terão o agradavel.

                Alem d’isso prometo-lhes que sómente no anno de 1862, é que terão simplesmente almanack, mas que nos anos vindouros, adjuntado dito terão uma folhinha. Vinde, charos leitores, accudi a esta vossa casa, comprae-me muitos e muitos almanacks. Vida, saude e dinheiro sempre vos heide desejar, (assim como para mim) porque com isso, bem sabeis que continuo a imprimir muitos e novos almanacks que vos recrêem, e a receber os vossos abençoados e amaveis cobres.

Nenhum comentário:

Postar um comentário