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quinta-feira, 20 de maio de 2010

História da Pedreira do Cerro do Estado - Parte II

Os Molhes da Barra de Rio Grande, como vimos, nada mais são do que grandes rochas lançadas ao mar, com o objetivo de constituir uma espécie de “muro” à ação das ondas do mar. Contudo, de onde viriam as rochas para as Obras dos Molhes da Barra de Rio Grande, se esta cidade não possui pedreiras?
Seguramente, viriam de fora, de preferência, de um local o mais próximo possível. Apesar disso, as primeiras remessas de rochas para as Obras da Barra vieram da Pedreira do Itapoã, em Viamão. Isso porque o Governo do Estado ofereceu esta reserva mineral gratuitamente ao contratado. Os custos se mostraram logo muito caros e dispendiosos, pois as rochas deveriam seguir via transporte lacustre, o que incluía uma distância de 180 km.
A proximidade da Pedreira de Monte Bonito, em Pelotas, tornou-se em seguida uma alternativa para o fornecimento de rochas para as Obras dos Molhes. Além disso, se poderia transportar a pedra por linha férrea. Contudo, somente o Monte Bonito, não iria conseguir suprir a demanda. Por isso, foi ponderado a possibilidade de usar-se uma “pedreira auxiliar”. Por estranho, que possa parecer, a primeira opção dos engenheiros franceses não foi o Capão do Leão e sua rica reserva granítica, porém uma pedreira distante, localizada em Bagé.[1]
Embora, averiguada a existência de pedreiras em Capão do Leão e tendo ocorrido a desistência de buscar-se pedras da Campanha, a Companhia Francesa não optou por adquirir todo um complexo mineral-granítico inteiro, como aconteceu em Monte Bonito. Como se tratava de ter uma “pedreira auxiliar”, foi adquirida uma área de 71.137,43 m2 dos irmãos Eduardo e Gabriel Gastal, num local conhecido como “Cerro das Pombas” (atual Cerro do Estado). A primeira negociação aconteceu em março de 1909 e a compra em novembro de 1910. O local não era explorado com o fim de extração de pedras e o próprio Capão do Leão já apresentava nesta época outras pedreiras importantes como a da Família Traverssi (atual Pedreira da Empem), a de Leon Bastide (nas proximidades da Rua Manoel dos Santos Victória) e a Pedreira Mendes (na encosta do Cerro do Estado)[2].
O Cerro das Pombas
A área atual da Pedreira do Cerro do Estado fazia parte da grande sesmaria do Pavão do Brigadeiro Rafael Pinto Bandeira, no início da colonização portuguesa na região, lá pelos idos de 1780. No século XIX, heranças, vendas e repartições fizeram com que essa grande extensão fosse tomada por inúmeras propriedades menores. O termo “Cerro das Pombas” aparece já em 1881, num documento da Câmara Municipal de Pelotas, que identifica o local como refúgio de índios remanescentes. Isto é, embora pertencesse a alguém, era, sem dúvida, um ponto inóspito da Serra dos Tapes. Muito provavelmente antes de 1900, a Família Gastal (que era proveniente da Colônia Santo Antônio em Pelotas) adquiriu a área que, contudo, era bem maior e ia quase até o vale que forma hoje o centro urbano da cidade de Capão do Leão. A entrada da “Fazenda Gastal” corresponde à Rua Professor Agostinho, no domínio hodierno do CTG Tropeiros do Sul. A edificação que era sede da propriedade existe até hoje e data de 1906.



[1] Os franceses não conheciam muito bem a região a qual foram contratados para executar a obra. Ao que parece, foi numa visita ocorrida em janeiro de 1909 a Pelotas, para tratar das obras em Monte Bonito, que os engenheiros tomaram conhecimento das reservas graníticas de Capão do Leão, por sugestão de brasileiros.
[2] Já eram empreendimentos importantes na época da Companhia Francesa e produziam, além da pedra bruta, pedras de cantaria.

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