A “Privatização” da Pedreira
A década de 1960 ainda foi marcada por uma boa produtividade média para a Pedreira, porém já começava a se observar sinais de certo sucateamento das instalações e das casas de moradia. Clemente Martins Martinatto, um dos administradores mais marcantes da história da PCL e que exerceu sua função na época concluía num dos seus relatórios (no caso, Anual de 1970):
“E assim procedendo, verificando através de seis anos que aqui estamos e comprovando por observações realizadas em relatórios de outras administrações, a conclusão é pouco lisonjeira, uma vez que aqui é notado o decréscimo metódico da produtividade, salvo em casos esporádicos.”
“No entanto, é bom que se note, também o material humano, que representa a mão de obra, sofreu o declínio sistemático, quer em qualidade como em quantidade.”
Para Martinatto, o descaso com a Pedreira acontecia em parte pelo desinteresse expresso do D.E.P.R.C. e, por outro lado, por uma tendência em transmitir a particulares ou a outros órgãos “frentes de ataque” da área para a exploração de rocha. Algo que, segundo a ótica de autoridades da época, poderia unir menores custos e melhores benefícios em termos de produção. Em 1962, parte da Pedreira foi arrendada ao empreiteiro Marcos José Corcioni[1].
Entretanto, foi durante a década de 1970 que duas empresas envolvidas com iniciativas de grande vulto estabeleceram-se no Cerro do Estado. Em 1971, em função das obras de prolongamento da rodovia BR-116, no trecho Pelotas-Jaguarão, a STERSUL S/A foi autorizada a extrair rochas e pedra britada do local. Em 1974, a SULTEPA S/A passou a operar no Cerro do Estado, com o mesmo propósito de extração de material para construção e manutenção de rodovias.
Avanços e Retrocessos
Paralelamente, a área da Pedreira sofreu alterações importantes. Por ocasião da realização da 5ª. Convenção Brasileira de Administrações Portuárias, em 1968, o Governo Federal em parceria com o Governo do Estado iniciou um grande projeto para modernização dos portos de Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande. Como a Pedreira do Cerro do Estado possui ligação inequívoca com o último e também importante com o penúltimo, a mesma foi contemplada com a retomada de investimentos. A partir de 1972, foram adquiridas máquinas novas, concluiu-se a construção de um Ambulatório (benfeitoria almejada por cerca de dez anos e que teve a relevante ajuda da Associação dos Hidroviários de Rio Grande) e um Engenheiro passou a residir no local, passando igualmente a responder pela administração. No mesmo ano, a antiga Usina Elétrica foi desativada e a energia passou a ser fornecida pela Companhia Pelotense de Eletricidade. Consequentemente, para viabilizar o fornecimento de eletricidade dentro da área de exploração, foi construída a Sub-Estação próxima à Ferraria. Em 1974, nova estrada de acesso à Pedreira foi aberta e também inaugurado novo depósito para combustíveis.
Contudo, esse período fora breve em sua prosperidade. Com um grande número de aposentadorias acontecido no biênio 1975/1976, o quadro geral de funcionários diminuiu consideravelmente. Dos cerca de 80 servidores que a Pedreira contava no início da década de 1970, somente 25 restavam em 1980. Com a criação da Portobrás (empresa pública federal encarregada de manutenção de portos) em 1977, houve a expectativa de melhorias nos anos subseqüentes.
Em 1979, devido à urgente recuperação do Molhe Leste da Barra, o processo de investimentos na Pedreira tomou novo fôlego. Em 1980, chegaram uma carregadeira, um trator de esteiras, um caminhão basculante, um compressor elétrico e uma perfuratriz, todos adquiridos pela Portobrás. Na linha férrea, foram trocados 6.720 dormentes e houve recuperação de uma das locomotivas (paralisada devido a um acidente na região do Teodósio). Em 1981, novamente foram contratados funcionários (dezenove ao todo) – aliás, última vez até então.
Apesar disso, é importante observar que a presença de arrendatários na Pedreira permaneceu constante, tendo a exploração na Pedreira ainda subsistido devido à demanda da manutenção da Barra. Quando esta não existia, ou encontrava-se paralisada, o quotidiano de trabalho na área consistia em atender outras solicitações, oriundas de órgãos públicos. Em maio de 1985, por exemplo, houve problemas no sistema de transbordo de rochas para a 5ª. Secção da Barra, em Rio Grande. Até pelo menos meados do ano seguinte (outubro de 1986), quando este problema foi finalmente resolvido, o movimento de trens rumo à Rio Grande foi praticamente casual.
O sucateamento da autarquia responsável – no caso, o D.E.P.R.C. – foi algo determinante na época. A própria autarquia reconhece, em relatório interno de 1983, que já não tem condições sequer de dar o devido cuidado à manutenção da Barra, apelando à intervenção federal, isto é, a Portobrás. Os reflexos na Pedreira do Cerro do Estado foram evidentes. Em 1987, parte do próprio maquinário da Pedreira é transferida para Rio Grande, seguindo-se esta tendência em anos posteriores. Em maio de 1993, oficialmente é desativada a linha férrea. No mesmo ano, em dezembro, um consórcio de companhias representado pela SULTEPA S/A assume a exclusividade de exploração da Pedreira. O fato de empresas particulares serem responsáveis por tal empreendimento é algo que permanece até os dias atuais.
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