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Festa de Casamento no Jardim América em 1958




Fotos do Casamento do Sr. Geraldo Silveira Lopes e Sra. Lígia Maria Cassana Lopes
Cortesia: Família Lopes (Jardim América)
Numa época em que as comunicações ainda eram precárias no bairro, os acontecimentos sociais como casamentos, aniversários e batizados possuíam um importância ímpar. Parentes e amigos distantes encontravam-se justamente nestas ocasiões, que marcaram época.



O Oratório do Padre Doutor


Texto de: PARMAGNANI, Jacob José. O oratório do padre. In: Revista da Academia Pelotense de Letras, Pelotas, Educat, volume 1, número 1, 2005, p. 84-85.

O oratório do padre
Todos os povos do oriente e do ocidente, mesmo aqueles reputados como selvagens, tiveram seus lugares destinados à oração, ao culto. Construíram para isso, templos com os maiores requintes da técnica e da arte, então conhecidos: Fenícios, Egípcios, Gregos e Romanos, povos orientais da Índia, da China e do Japão. Os templos são as testemunhas concretas de uma avançada civilização. A Bíblia nos relata a magnificência do Templo de Salomão, rei dos israelitas. Cumpre-se até hoje o que disse o sábio grego:
“O homem é um animal religioso”.
Não me recordo do nome desse homem dotado de espírito de observação que constatou ser a religiosidade foi a característica do povo português. Os navegadores e exploradores dos mares levavam consigo um ou mais sacerdotes. O primeiro ato público social na nova terra descoberta por Cabral, foi uma santa missa e o erguimento de uma cruz.
Na época da colonização do Brasil, quando era formado um núcleo ou povoado, no meio era erguida logo uma ermida. Crescendo o número de habitantes, construía-se uma capela. Quando o povoado atingia mais importância, um sacerdote permanente preparava a criação da paróquia. Era o curato. Passados um ou dois anos, talvez mais, mediante Portaria do Bispo Diocesano, era criada a paróquia.
Porém, nas extensas fazendas, longe dos povoados, não havia essa evolução de ser organizado o lugar e o serviço do culto. Então, os fazendeiros construíam seus oratórios ou mesmo destinavam para isso uma das dependências da “casa grande”. Poucas vezes o sacerdote passava por essas fazendas. Quem presidia os atos religiosos era o dono da fazenda ou a sua esposa.
Uma história da Igreja (de vários autores) da Editora Vozes de Petrópolis, como à dissemos, deu o nome de “familismo”, a esse fenômeno de religiosidade familiar.
Foi muito válido, visto que supria suficientemente a uma grande deficiência.
O padre Sílvio Giocondo Dall’Agnol em seu livro “Capão do Leão”, referindo-se ao Oratório do Padre Doutor, escreveu:
Este oratório foi o primeiro templo católico da Diocese de Pelotas. Serviu interinamente de sede da freguesia de São Francisco de Paula. Quem o construiu foi o Padre Doutor Pedro Pereira Fernandes de Mesquita, lá pelos idos de 1780 a 1800. os parentes do Padre Doutor venderam todas as propriedade ao Barão de Santa Tecla.
Quando foi criada a paróquia de São Francisco de Paula (1812) e o Padre Doutor faleceu, esse oratório ficou em quase desuso, desativado. O local foi adaptado para a residência do caseiro. Mas uma pia batismal foi conservada intacta. Sobre essa pia o Padre Doutor administrou o sacramento do Batismo a muitas pessoas. E assim termina o Frei Sílvio:
Esta Pia Batismal é a primeira fonte de vida cristã da Diocese. Nela lavra-se um valioso documento identificatório: a Certidão do Batismo. Você, leitor, possui e conhece bem o seu conteúdo? A Certidão de Nascimento nos faz cidadãos de uma Pátria; a Certidão de Batismo nos faz filhos da Igreja.

Histórias Curiosas VII


Capão do Leão na década de 1940 apresentava uma situação particular: apesar da vila ser povoada, existiam grandes espaços abertos (campos) entre a zona da avenida e adjacências e a Vila Teodósio. Ir ao Teodósio não era dar uma “caminhada” de vinte minutos, como hoje. Em alguns lugares chegava-se somente percorrendo picadas não muito bem traçadas. Embora houvesse várias famílias que possuíam telefone, a grande maioria ainda se comunicava no “tetê-a-tetê”.
Pois bem as mensagens entre um amigo e outro, quando não podiam ser dadas diretamente, ficavam a cargo dos mandaletes – meninos da própria família ou da vizinhança que “corriam rua” e prestavam vários favores, muitas vezes o de passar recados. Numa feita, uma família da vila do Capão do Leão tendo conhecimento que um parente seu no Teodósio estava muito doente, a ponto de já se esperar a sua morte, mandara constantemente o menorzinho da casa para lá, a fim de trazer notícias. Ele trazia-as, mas sempre se atrapalhava na hora de dize-las.
Houve um dia que este parente já dando sinais de um estado terminal irreversível, mobilizara a família para a notícia iminente. O doente permanecera com sua esposa no Teodósio e o restante da família retornou à vila. Desceu a noite, os parentes preocupados adormeceram e, no outro dia, cedíssimo, logo ao amanhecer mandaram o menorzinho até o Teodósio para saber a quantas andava o moribundo. Por volta das 9 horas, o guri voltou no seu jeito atrapalhado. A mãe perguntou:
- Então, Zezinho, o que a tua tia disse? Como ta o Tio João?
- A tia não me disse nada disso.
- Como assim ela não te disse nada se ele melhorou ou piorou?
- Isso ela não me disse, se melhorou ou piorou. Nem sei o que ela me disse. Ah... sei! Ela disse que ele faleceu, mas ta bem!

Histórias do Pavão: Marco a Rafael Pinto Bandeira

Trecho extraído de: PAZ, Martim. Gado de Corte (contos e artigos). Pelotas: Armazém Literário, 1995.

“Acabou posto no devido lugar o marco que havia tempo encomendara para a entrada de meu campo, ali no corredor, confronte ao rancho do Pedro, hoje tapera. Não pude fazê-lo no dia exato em que se comemorava os duzentos anos da expulsão dos castelhanos, mas isso não importa. O que vale é que logrei cumprir o que prometera a mim mesmo.
Nada de extraordinário há no tal marco em si mesmo. Um bloco simples de granito, dedicado à memória do sesmeiro do Pavão, Rafael Pinto Bandeira.” (p. 53)

Histórias do Pavão: a Ilha do Pavão


Trecho extraído de: PAZ, Martim. Gado de Corte (contos e artigos). Pelotas: Armazém Literário, 1995.

“O arroio Pavão nessa época do ano não tem mais de quarenta metros de largo e o vento, se soprava, era quase nada. Logo deram no outro lado, na Ilha”. (p. 10-11)

“Na Ilha as invernadas não têm lotação certa. Carrega-se de hábito, em fins de outubro princípios de novembro, ao descerem as águas, para já em fevereiro ou março fazer, no cedo, um aparte. Daí por diante, com folga de campo, deixam-se os bois até começarem os frios e as chuvaradas.
(...)
O caminho era tão conhecido que os cavalos seguiam quase por si sós, acompanhando a trilha apenas desviada aqui e ali pela presença de santa fé ou de alguma moita rala de espinilho. De espaço em espaço paravam e o capataz se apeava para abrir as porteiras de cambão do armado a cinco fios que separava os potreiros. Ao cruzarem a divisa com o Coronel, ouviram relinchar por perto, assustado, um bagual crioulo, a cola no fundo de gordo. Não fora sem motivo que Bento Manuel, de uma feita, mandou conservar na Ilha a cavalhada legalista...
(...)
A riqueza desses campos se acumulava à custa das alagações anuais, quando o São Gonçalo e o Piratini, represados, não davam vazão às águas. Havia anos, bem raros de certo, nos quais não sobrevinha a cheia e se aproveitava a Ilha os doze meses. Tudo dependia da chuva, assim como dos ventos. Mas o contrário também podia acontecer.
- Lembras do tal ano quer diz que as águas não chegaram a baixar o tempo todo?
- Foi em 41. A ilha passou o verão inteiro alagada.
(...)
Andaram um pouco e alcançaram a Sanga das Traíras, que foram costeando até o rancho do posteiro, de tábua, tendo ao lado um galpãozinho tapado de quincha que servia de abrigo ao caíque calafetado nas vagas pelo Pedro Lopes, a fim de estar sempre pronto em caso de precisão.
(...)
A novilhada estava no parador, contra a linha de arame, próxima a porteira, pastoreada pelo filho do posteiro mais o Godinho, paisano antigo na zona, a tez curtida do rigor. O sol ia alto quando se apearam do lado de dentro da invernada para compor os arreios.
Quando tudo estava pronto, já de volta o pessoal da recorrida, entraram, então, no rodeio. Devagar, como para não espantar o gado, deram por mais de uma vez volta aos cavalos, olhando detidamente a boiada. Combinaram refugar primeiro os estropiados da aftosa, que assim lhes parecia melhor. Depois os ajenos.
(...)
Começou, então, propriamente a faina. Manobrando habilmente, principiaram a apartar os novilhos gordos, de jeito a ir afastando-os com cuidado do resto do gado, devagar no início, até o momento em que, sem perigo agora de tirar o boi errado, cerram-se as esporas e se atropela o bicho, obrigando-o a trotear longe, para além a porteira”. (p. 11-14)

Histórias do Pavão: Criação de Ovelhas


Trecho extraído de: PAZ, Martim. Gado de Corte (contos e artigos). Pelotas: Armazém Literário, 1995.

“Meia dúzia de borregos, ademais, nem tanto assim representa, mesmo quando raros feito esses ‘caras-negras’, nascidos de pais importados. Os mais antigos hão de se recordar do tempo em que eles eram comuns nas várzeas do São Gonçalo. Não peguei essa fase. Vim a conhecê-los faz apenas vinte ou trinta anos, durante uma viagem. Mas desde então decidi que ainda haveria de cria-los. Em 65, no Uruguai, um amigo que é, por sinal, dos mais entendedores, apartou para mim uma ponta de borregas, cedidas após muita resistência por um gringo macanudo de Mercedes, que soube há pouco, com pesar, que é falecido. Foi como comecei. Adquiri em seguida, na Inglaterra, um carneiro premiado e daí para a frente continuei a cuidar o plantel do qual, para minha satisfação, até para um graúdo de Brasília negociei borregos.
Ninguém sabe como será este ano a liquidação de lã nas cooperativas. Existe algum otimismo, mas os preços em realidade não acompanham a suba de insumo, e isso talvez apresse o incipiente interesse pelas raças de carne no Rio Grande. Ponho dúvidas, no entretanto, em que acabe por vingar entre nós o que se faz na Austrália ou na Argentina, onde não são usados reprodutores desse tipo nas ovelhas especializadas em lã, depois delas gastarem o dente e com vistas a um melhor cordeiro para abate, na última parição. Vários estão experimentando. Acho difícil, porém, que a prática se espalhe de um todo. As áreas ovelheiras do Estado seguramente continuarão vivendo do Corriedale e do Merino, do Romney e do Ideal. O ganho porventura resultante dos cruzamentos não sei, com franqueza, se compensará a quem produz lã em escala.
(...)
Os preços da arroba, queira Deus, terão melhora, e a não ser para enfeitar a volta das casas ou para oferecer algo de especial às visitas de cerimônia – quer dizer, para consumo – entendo que a difusão dos ovinos de corte nos referidos campos da fronteira tende a ser limitada. Seu futuro, para mim, está no resto do Estado e, mais ainda, no resto do País. (...)
Raras vezes cheguei a apreciar a carne dos meus Hampshires. Todos os machos, praticamente, ficavam inteiros. O gosto e a própria aparência dos cortes, no entanto, faziam enorme diferença”. (p. 54-56)

“Diz-se que o melhoramento de nossa criação realmente começou com o retorno dos maragatos exilados em 93, responsáveis pela vinda dos primeiros reprodutores das raças européias aperfeiçoadas. (...)
Hoje em dia, em verdade, já se parou de simplesmente copiar os exemplos do Prado (e os de Palermo). Distancia-se a era de Elorza, o Prata passa para segundo plano. O cabanheiro gaúcho, ‘descastelhanizado’, viaja atualmente o mundo inteiro atrás de touros, de carneiros e de novos métodos de trabalho, buscando o que haja de especial em qualquer parte. E se algum mal existe em tudo isso, reside ele, em meu modesto entender, no risco de apenas querer transferir o que se vê no Canadá e alhures, esquecendo por vezes, sob influência da moda, que precisamos agarrar rumos próprios, adaptando sempre que necessário aquilo que dá resultado nos países mais adiantados, de cuja experiência, aliás, não podemos prescindir”. (p. 56-57)

Histórias do Pavão: O Balseiro



Trecho extraído de: PAZ, Martim. Gado de Corte (contos e artigos). Pelotas: Armazém Literário, 1995.

“Lembro dele engatinhando à beira do rancho do finado pai, o Isidro, ali mesmo junto ao Passo, na época em que este atendia a balsa mantida pelos donos da Ilha com o propósito de cruzar o arroio em direção às invernadas. Naquele tempo eu era bem mais novo e costumava acompanhar o pessoal nas tropeadas. Participava com gosto, em um picaço que eu tinha, da campereada sem igual que consiste em tocar arroio adentro a novilhada trazida a meio galope desde boa distância.
Encontrava freqüentemente o balseiro e gostava da prosa dele, aceitando com agrado o mate que a mulher cevava com o jeito humilde que mostram os dependentes quando o patrão vai-lhes à casa. (...) Sempre pareceu acomodado à vida que levava, atravessando mansamente aos que se cotizavam para lhe pagar o mísero ordenado que o forçava, ainda ao dever, esse mais árduo, de dar auxílio com um caíque à cruzada das tropas. Pode não representar, mas é preciso decisão para dar conta do recado, enfrentando com qualquer tempo o risco da correnteza atrás das reses desgarradas”. (p. 20)

Irlandeses


Trechos extraídos de: GRANDO, Marinês Zandavalli. A Colonização Européia Não Portuguesa no Município de Pelotas. In: Ensaios FEE, Porto Alegre, número 5, volume 2, 1984, p. 47-55.

“Em 1849, formou-se a Associação Auxiliadora da Colonização para a criação da colônia D. Pedro II em terras de um de seus acionistas (Antônio Rafael dos Anjos), localizadas na estrada que da sede de Pelotas ia para o distrito de Capão do Leão. Compunha-se de 48 lotes que foram entregues a um número aproximado de 300 colonos irlandeses, chegados de Liverpool. Pouco depois, essa sociedade forneceu terras a ingleses para que se estabelecessem com recursos próprios. Nesse aspecto, a sociedade foi inovadora, pois, até então, toda a colonização do Rio Grande do Sul vinha sendo feita unicamente com imigrantes alemães.
(...)
Em 1859, o relatório do presidente da Província dizia que era ‘pouco lisonjeiro’ o estado da colônia D. Pedro II (Relatório..., p. 49). A população achava-se reduzida a 16 famílias (96 pessoas), tendo muitos imigrado para Montevidéu e Buenos Aires e alguns, para as cidades mais próximas (Pelotas e Jaguarão).
Dados de 1867 (Relatório..., 1867, p. 9-10) informam que da colônia de Monte Bonito nada mais havia e da colônia de D. Pedro II restavam poucas famílias irlandesas, ocupadas com a lavoura e o fabrico de manteiga. O desaparecimento dessas duas colônias foi atribuído ao fato de os imigrantes serem mais artífices do que agricultores”. (p. 48-49)

“Em 1884, a Southern Brazilian Rio Grande do Sul Company inaugurou a linha férrea de Rio Grande a Bagé, em cuja estação de Capão do Leão (Pelotas) eram embarcados os produtos coloniais para Rio Grande e Pelotas. As colônias distavam em média, 50 a 60 km dessa via férrea”. (p. 52)